Fenômeno geofísico de grandes proporções, o iceberg A23a, um colossal bloco de gelo que se desprendeu da Plataforma Ronne, na Antártida Ocidental, tem chamado a atenção da comunidade científica internacional. E não apenas pelo seu tamanho avantajado de 4 mil km², mas também pelo risco de se mover para o norte, com enormes impactos ambientais e ecológicos.
A preocupação se justifica: desde que o iceberg, popularmente conhecido como Colossus, deu início a uma movimentação expressiva em novembro de 2023, sua deriva tem sido acompanhada de perto por cientistas e satélites de monitoramento. Há um risco de que esse gigante do tamanho de 560 mil campos de futebol entre em rota de colisão com a ilha da Geórgia do Sul, no Atlântico Sul, um conhecido santuário de pinguins.
Recentemente, imagens de satélite mostraram que, enquanto a montanha de gelo se desloca a pouco mais de 2 km/h, um enorme pedaço de cerca de 19 quilômetros de comprimento se desprendeu. "Essa é definitivamente a primeira fatia significativa e nítida do iceberg que apareceu", afirmou à AFP o oceanógrafo físico Andrew Meijers, que acompanha o destino do Colossus, desde que o encontrou em 2023.
Um fragmento solto do iceberg A23a
A quebra de uma seção do iceberg foi também confirmada à AFP pela glaciologista argentina Soledad Tiranti, que faz parte de uma viagem de exploração à Antártida. O fragmento “solto” tem uma área de aproximadamente 80 km², que, apesar de gigantesca, representa uma pequena fração dos quase 3,36 mil km² restantes do A23a.
Na verdade, se o iceberg de quase um trilhão de toneladas perdesse mais fragmentos, isso seria uma boa notícia para a vida selvagem local, principalmente para os animais que se alimentam no mar, como pinguins, focas e baleias. É que pedaços menores não bloqueariam as rotas de caça desses predadores, nem os impediriam de nadar entre os fragmentos.
Mesmo reconhecendo que a ruptura "é um sinal de que essas fissuras estão começando a se desfazer", Meijers lembra que a forma como essas coisas se desintegram não é uma ciência exata. “É muito difícil dizer se isso vai explodir agora ou se vai continuar assim por mais tempo", conclui o oceanógrafo da expedição de pesquisa British Antarctic Survey.
A saga do maior iceberg do mundo
A longa viagem do A23a teve início em 1986, quando ele se desprendeu da plataforma antártica. No entanto, com várias dezenas de quilômetros de comprimento e algumas centenas de metros de profundidade, o iceberg acabou preso no fundo do oceano e “encalhou” no local por mais de 30 anos, até se libertar em 2020, mas teve sua jornada para o norte atrasada pelas forças oceânicas, e ficou gerando no mesmo lugar.
Voltando a “pegar carona” na Corrente Circumpolar Antártica, a mais poderosa do mundo, o iceberg teve algumas partes desgastadas pela erosão e pelo derretimento causados pelas águas mais quentes. Além disso, as ondas quebram contra a estrutura gelada, criando buracos que vão crescendo cada vez mais, até o topo desabar.
Isso vai deixando pequenas formações de gelo empilhadas, que vão se desintegrando e formando pedaços menores, parecidos com “tocos”, até derreterem completamente. Meijers acredita que dificilmente a perda desse fragmento terá alguma influência na trajetória do A23a em direção à Geórgia do Sul.
Analisando a água doce do maior iceberg do mundo
Quando o A23a retomou sua viagem em 2023, o navio de pesquisa Sir David Attenborough, da British Antarctic Survey, aproveitou a proximidade para entrar em uma fenda nas paredes gigantescas do iceberg. A bordo, a doutoranda Laura Taylor coletou amostras preciosas de água a 400 metros de distância dos penhascos.
"Eu vi uma parede enorme de gelo muito mais alta do que eu, até onde eu podia ver. Ela tem cores diferentes em lugares diferentes. Pedaços estavam caindo — era bem magnífico", explica a pesquisadora à BBC, enquanto analisa as amostras em seu laboratório em Cambridge, no Reino Unido.
Ela fala sobre o impacto positivo da água doce no ciclo do carbono no oceano do sul. A água não é apenas potável, mas "é cheia de nutrientes e produtos químicos, assim como pequenos animais como fitoplâncton congelados dentro". Portanto, esse líquido é um agente ativo para o sequestro do carbono nos oceanos, com potencial impacto na dinâmica climática, mas insuficiente para solucionar o efeito estufa.
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