Poucos meses depois de ser cotada (às escondidas) para a chefia do Uber e de jurar que não deixaria seu emprego atual, Meg Whitman finalmente anunciou que não será mais a CEO da Hewlett Packard Enterprise. A notícia veio a público na última terça-feira (21) e pegou muita gente de surpresa, incluindo a Bolsa dos EUA, que viu os papéis da empresa caindo mais de 6% logo após a divulgação da história. A ideia é que a executiva vague a cadeira em 1º de fevereiro de 2018 e seja substituída por Antonio Neri, atual presidente da HPE.
Whitman aproveitou a ocasião para pedir que colegas, investidores e funcionários vissem a decisão como uma atitude positiva para a companhia. “Agora é o momento ideal para que Antonio e uma nova geração de líderes tome as rédeas da HPE. Tenho uma tremenda confiança de que eles vão continuar a construir uma grande empresa que vai prosperar no futuro”, explicou.
Considerando o desempenho da marca sob a tutela da executiva de 61 anos, uma dica mais apropriada pode ser não de continuidade, mas sim de transformação. Afinal, a futura ex-CEO chegou à HPE, em 2011, com altas expectativas, mas acabou encarando uma boa dose de turbulência praticamente desde o início da sua nova jornada.
Um pouco de história
Os motivos que levaram a então Hewllet-Packard a trazer Meg Whitman primeiro para o seu board e depois para a chefia total da empresa? Seus quase dez anos no comando do eBay, claro! Com a executiva na liderança, a companhia de leilões saltou de uma pequena startup a uma das marcas mais icônicas da internet, com um valor de mercado na casa dos US$ 8 bilhões. Nada mal, hein? Na HP, porém, o desafio não foi fazer crescer uma pequena empresa, mas sim lidar com um nome tradicional que havia se desgastado com o tempo.
E as dificuldades não foram poucas. Sem conseguir mostrar bons resultados mesmo depois de diversos ajustes, cortes de custos, mudanças de produtos e rodadas de demissões ao redor do globo, a CEO se viu diante de uma decisão complicada: dividir o bolo para salvar a operação. A única alternativa de manter a saúde da empresa foi dividi-la em Hewlett Packard Enterprise e HP Inc. Essa última manteve um portfólio mais tradicional, cuidando de PCs e impressoras, enquanto a primeira apostou no futuro, com uma pegada mais corporativa e foco na cloud.
A ironia dessa divisão é que a HP Inc., sob o comando de Dion Weisler (presidente executivo da antiga HP), acabou se reinventando muito bem e, pouco a pouco, cresce em mercados como os de workstations e impressoras profissionais. Os negócios andaram tão bem que a marca resolveu até abocanhar a divisão de impressoras de sua antiga parceira, a Samsung. Enquanto isso, Whitman e a HPE seguiram tentando achar seu espaço e encarando gigantes como IBM, Cisco e Dell nos segmentos de servidores e soluções de rede.
Ok, a executiva conseguiu cumprir vários dos objetivos indicados por ela em seu plano de cinco anos para a nova companhia, mas o mercado ainda segue meio desconfiado do desempenho (e do futuro) da HPE. Não é como se Whitman tivesse ficado parada vendo tudo acontecer, sem todas novas decisões para manter tudo sob controle. A chefona fez algumas novas aquisições para reforçar a posição da marca e até promoveu outras divisões dentro da empresa – como a que transformou os serviços da casa em negócio separado.
Final feliz para todos?
Nada disso, felizmente, significa que a HPE está em maus lençóis. Há sim chances de sucesso para o negócio. O relatório fiscal mais recente da companhia, por exemplo, divulgado junto com o anúncio da saída de Whitman, revelou que a organização teve uma arrecadação de US$ 7,87 bilhões apenas no último trimestre, reflexo de um crescimento de 31 centavos de dólar em suas ações. Pode parecer pouco, mas ambos os números ficam relativamente acima do que os analistas esperavam da empresa no período. Isso faz com que as perspectivas para o próximo ano sejam favoráveis, mas tudo vai depender de como a nova diretoria tocar a operação.
Ah, para onde Meg Whitman vai agora? Bem, segundo a própria moça, não há planos no momento. “Eu estive trabalhando sem parar pelos últimos 35 anos. Vou aproveitar um tempo de descanso”, brincou a executiva. E aí, quais serão os próximos passos da CEO?