A Organização Mundial de Saúde (OMS) aprovou na quarta-feira (6) a primeira vacina para ajudar a prevenir a malária. A aprovação é o primeiro passo do início de um processo de ampla distribuição do imunizante nos países mais pobres. A malária é uma doença tropical que mata anualmente 500 mil pessoas, sendo metade delas crianças da África com menos de cinco anos.
Segundo o Diretor-Geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, ele próprio um pesquisador da malária no início de sua carreira, "Este é um momento histórico. A tão esperada vacina contra a malária para crianças é um avanço para a ciência, a saúde infantil e o controle da doença”. Em uma declaração no site da agência internacional das Nações Unidas, o biólogo afirma que a prevenção poderá "salvar dezenas de milhares de vidas de jovens a cada ano."
Foi com base em pareceres de um órgão consultivo para imunização e outro para malária que a OMS decidiu recomendar o uso generalizado do imunizante RTS, S ou Mosquirix, pelas populações infantis da África Subsaariana e outras regiões com transmissão de moderada a alta da malária pelo parasita Plasmodium falciparum. A decisão se baseou em um programa-piloto realizado em Gana, Quênia e Malaui, que atendeu mais de 800 mil crianças desde 2019.
Por que a vacina contra a malária demorou a ser autorizada?
Em 2015, os resultados de um ensaio clínico realizado com crianças africanas mostraram que a vacina contra a malária da GlaxoSmithKline, uma empresa farmacêutica britânica, conseguiu prevenir cerca de 32% dos casos graves de malária em crianças pequenas durante um período de quatro anos.
A baixa eficácia da vacina (quando comparada aos 90% dos imunizantes do sarampo e da catapora), a necessidade de aplicação de quatro doses em um ano e meio, e as dificuldades estruturais em administrá-la em sistemas de saúde precários fez com que a OMS evitasse recomendar um lançamento generalizado do imunizante.
No entanto, para coletar dados adicionais sobre a segurança da vacina da Glaxo, sua eficácia em situações reais e a viabilidade de integrá-la aos programas de vacinação infantil rotineiros, os especialistas da OMS determinaram que testes fossem implantados em três países africanos: Quênia, Malaui e Gana.
Fonte: GHTC/Wikimedia Commons/ReproduçãoFonte: GHTC/Wikimedia Commons
Resultados dos testes-piloto da vacina da malária e perspectivas futuras
Após a realização de programas de vacinação nos três países, em clínicas de saúde infantil, as principais descobertas foram as seguintes:
- Viabilidade: a vacina se mostrou viável, melhora a saúde e salva vidas, com boa cobertura, mesmo quando aplicada durante a pandemia da covid-19;
- Alcance: os dados mostraram que a RTS, S aumentou a equidade no acesso à prevenção da malária, alcançando os que antes não eram alcançados;
- Segurança: após a aplicação de 2,3 milhões de doses, a vacina mostrou um perfil de segurança favorável;
- Impactos negativos: nas áreas cobertas pela vacinação, não houve redução no uso de redes com inseticida, na adoção de outros tipos de vacinas infantis ou na procura de assistência médica para doenças febris;
- Resultado real: redução de 30% dos casos de malária grave e mortal, mesmo em áreas com mosquiteiros tratados com inseticida e bom acesso a diagnósticos e tratamentos;
- Custo-efetividade: a relação entre os custos e o desfecho dos programas de vacinação mostrou-se boa, principalmente pela decisão da Glaxo em vender a Mosquirix a não mais do que 5% acima do seu preço de custo.
A principal razão pela qual a vacina da malária levou tanto tempo para ser produzida foi a falta de investimentos. O combate a uma doença tropical não tem o mesmo apelo que aquelas mais comuns em países ricos. Outra limitação importante é a complexidade genética do P. falciparum que possui cerca de 5 mil genes, uma multidão quando comparada ao vírus da covid-19, o SARS-CoV-2, que tem apenas 13.