Nos dias 14 e 15 de maio, rolou a quarta edição do Festival Path, um evento cultural que se espalha por diversas ruas do bairro de Pinheiros – zona oeste de São Paulo. A ideia do encontro é promover debates sobre os mais diversos assuntos – de marketing a música ou relações de trabalho –, trazer palestras sobre temas atuais da sociedade e, claro, oferecer um ambiente convidativo para troca de experiências, tudo regado a muito entretenimento e diversão.
O que isso tem a ver com o site? Bem, como tecnologia e empreendedorismo são tópicos importantes para praticamente qualquer tipo de pessoa, eles também marcaram presença – de uma forma ou de outra – nesse Path 2016. Para começar, um exemplo dessa presença tecnológica “corriqueira” foi o número de recursos disponibilizados aos visitantes no próprio site oficial do evento. Pela página, era possível conferir suas atividades favoritas, dar uma olhada no histórico dos palestrantes e montar sua agenda completa para o fim de semana.
Havia muita gente comprando os ingressos na porta de evento no dia de início do festival.
Demos uma passada por lá no sábado (14) e conferimos em primeira mão como esse planejamento era importante, uma vez que múltiplas ações aconteciam ao mesmo tempo e, mais importante: em locais diferentes. Felizmente, sabendo de antemão para onde ir – e quando começar a bater perna –, era possível transitar tranquilamente entre o Instituto Tomie Ohtake, a FNAC Pinheiros, o Centro Cultural Rio Verde e a Praça Professor Resende Puech – entre outros endereços – sem medo de perder algum bate-papo ou mostra interessante.
Como, infelizmente, é difícil estar em todos os locais ao mesmo para conferir cada uma das discussões desse universo cultural, montamos um cronograma com atividades diversas, pinçando um pouco de tudo que o evento tinha a oferecer e dando um gostinho dessa experiência única. Desse modo, na nossa seleção – que você pode conferir em mais detalhes ao longo do texto –, temos uma salada de ideias com dicas de youtubers, shows musicais gratuitos, mulheres vencendo o preconceito no mundo da tecnologia e muito mais.
Uma visão sobre trabalho
A primeira palestra do dia, em um dos maiores auditórios do Instituto Tomie Ohtake, foi a “A gestão tradicional dentro das empresas já era! E o que será...?”. Questionando se estaríamos diante do fim da gestão tradicional nas empresas, Alexandre Pellaes, CEO da 99jobs, falou sobre como as relações de trabalho mudaram ao longo dos últimos séculos – se alternando entre beneficiar o empregador e o empregado – e como, hoje, precisamos encontrar um ponto de equilíbrio para que as coisas funcionem em uma corporação.
Para o executivo, se no começo do século 20 o resultado nos negócios estava completamente acima da importância do funcionário, a partir da década de 1970 isso mudou de forma radical, com a nova geração de trabalhadores exigindo ser valorizada. O resultado? Um foco cada vez maior nas pessoas. Nesse novo cenário, porém, Pellaes acredita que a chave do sucesso da empresa – menos “linha-dura” com seus colaboradores – reside em nós mesmos e em como encaramos o trabalho no dia a dia.
Alexandre Pellaes falou sobre como a cultura do trabalho pode influenciar as pessoas.
“Aquele papo de ‘o trabalho forma nosso caráter’ pode parecer um chavão, mas é real”, analisou, explicando que as tarefas devem ser encaradas menos como obrigações e mais com uma expressão da sua identidade no mercado corporativo. Para ele, a cultura da empresa e o perfil da liderança local são essenciais para cultivar um bom ambiente e mudar paradigmas. Um chefe empático e mais interessado na evolução dos subordinados, por exemplo, pode fazer mais diferença que um gerente supercompetente que segue sozinho nessa jornada.
No entanto, Pellaes também disse que muitas companhias favorecem esse executivo interessado apenas em subir de cargo e ter “sucesso profissional” no sentido mais tradicional da expressão. Assim, ele acredita que uma boa solução para isso é a implementação da chamada gestão compartilhada, que traz hierarquias bem flexíveis e aposta em uma organização mais horizontal. Esse modo de administrar a empresa leva em consideração não só a performance do trabalhador, mas também o impacto nas pessoas ao seu redor.
Detonando barreiras
A conversa seguinte, na FNAC, trouxe Ariane Parra (Women Up Games), Ana Paula Lima (MariaLab Hackerspace) e Iana Chan (PrograMaria), que falaram sobre a presença feminina na tecnologia e como vencer o preconceito nesse ambiente na palestra “Mulheres e Tecnologia” – mediada por Ana Fontes (Rede Mulher Empreendedora). Cada uma delas lidera uma iniciativa de empoderamento das mulheres, oferecendo um ambiente saudável para que esse público se interesse por temas que, tradicionalmente, são associados ao universo masculino.
Através dessas ações, por exemplo, moças de todas as idades podem participar de cursos sobre programação, entendendo como essa área de desenvolvimento pode ser interessante para uma possível carreira profissional. Eventos de capacitação, palestras sobre como a mulher pode proteger sua imagem na web e até workshops de como construir seu próprio fliperama – colocando a mão na massa e participando de cada etapa da montagem – fazem sua parte na hora de derrubar barreiras e quebrar estereótipos.
Para Ana Paula, por exemplo, um grupo feminista tecnológico ajuda a moldar uma sociedade melhor, uma vez que todos têm que entender e respirar tecnologia em um mundo que está em constante transformação. Iana complementou o pensamento, dizendo que as mulheres geralmente saem atrás nesses setores, recebendo bonecas e kits de cozinha, enquanto os meninos, desde cedo, ganham computadores ou video games – itens que acabam incentivando uma proximidade maior com tecnologia e ciência.
Na opinião das palestrantes, uma presença feminina cada vez maior nessas áreas também ajuda a mostrar aos homens que não existe essa história de territórios distintos para ambos os sexos. Afinal, elas podem contribuir com ideias e soluções novas que, inclusive, colocam as próprias mulheres na equação, seja na hora de desenvolver um app de saúde que leve em conta alterações hormonais delas ou de criar ferramentas que sirvam para qualquer pessoa.
O melhor seria que, eventualmente, essas iniciativas perdessem a sua importância quando houver um melhor equilíbrio na sociedade
Todas também perceberam que o público feminino fica mais confortável em eventos e cursos voltados para elas. Diferentemente do que ocorre em atividades mistas – quando as moças ficam mais tímidas –, o ambiente formado apenas por mulheres incentiva uma interação maior entre pessoas com interesses comuns. Apesar disso, a esperança é que isso se torne obsoleto no futuro. “O melhor seria que, eventualmente, essas iniciativas perdessem a sua importância quando houver um melhor equilíbrio na sociedade”, finalizou Iana.
Aprenda com tudo (mesmo!)
Na sequência, tivemos dois bate-papos que trataram de um tema bastante popular nos dias de hoje: empreendedorismo. O primeiro deles foi o “Fail Fast e o mito do falhar”, encabeçado por Edson Mackeenzy, antigo fundador da Videolog, que falou como errar faz parte do aprendizado de qualquer empreendedor. Para ele, o medo do fracasso – ou a iminência dele – é o que faz com que as pessoas progridam em seus projetos e negócios. “Você se esforça ainda mais quando sabe que está chegando em um prazo ou acha que pode falhar”, brincou.
A empresa criada por ele chegou a rivalizar com o YouTube no Brasil por um bom tempo.
Mackeenzy disse acreditar que a chave para aprender com os erros é avançar com cada nova tentativa, colocando na balança tudo o que foi gerado até ali. Mais do que isso, o segredo seria se arriscar e falhar rápido – “fail fast” –, para que seja possível analisar e eliminar rapidamente um caminho escolhido que não tenha muitas chances de sucesso. “Tentar é estranho e novo, por isso nos assustamos. Não estamos acostumados com o erro”, analisou o veterano, afirmando que é melhor tentar e falhar do que ficar parado sem saber aonde chegar.
Equipe forte = sucesso
Depois, fomos até a palestra “Os desafios de uma pequena start-up até um grande e-commerce”, liderada por José Simões, diretor de produto da Dafiti – uma das patrocinadoras do Festival Path. Na conversa, o português que hoje mora em São Paulo falou de sua paixão por startups e como, de forma semelhante a Mackeenzy, tomou lições de suas próprias falhas. A relação com esse tipo de empresas começou durante seu doutorado, ainda na Europa, e se estendeu até a companhia brasileira – na qual ele vê o mesmo tipo de ambiente inovador.
Ele revelou que, por conta da inexperiência na época, acabou perdendo o controle de sua startup, mas que isso fez com que ele percebesse os erros ao longo da administração desse primeiro empreendimento. Por conta do episódio, por exemplo, ele aprendeu, entre outras coisas, que é essencial não trabalhar sozinho. “É preciso se rodear de pessoas competente e montar um time com expectativas bem definidas”, analisou, comentando que uma base forte ajuda, e muito, a startup a ter mais chances de sucesso.
Paixão por empreendedorismo fez o português começar a investir em startups.
Segundo Simões, isso ajuda até na hora de convencer possíveis investidores, já que um grupo mais sólido passa a impressão de um projeto menos arriscado financeiramente. Falando em dinheiro, ele também explicou que, por conta de a verba ser curta nessa fase inicial de empreendedorismo, a própria comunidade criada em torno do tema – principalmente o pessoal mais experiente no ramo – ajuda a tirar dúvidas e até mesmo a dar dicas importantes acerca de sociedade e outros problemas jurídicos.
Em seu trabalho na Dafiti, o português afirmou que esses elementos de inovação e de aprendizado continuam presentes. Seu time, por exemplo, trabalha na implementação de novos recursos baseados em reclamações de clientes em relação ao processo de vendas do site. A ideia é que, ao conferir que seu problema foi sanado de modo inteligente, o consumidor tenha uma experiência aperfeiçoada e crie vínculos com a marca. A própria participação da companhia em um evento cultural como o Path, aliás, mostra essa aproximação com o público.
Do YouTube para o mundo
No final da tarde, em um dos auditórios mais disputados do sábado – com uma fila que dava voltas e mais voltas –, ocorreu o debate “Estratégias criativas para artistas no YouTube”, com participação dos youtubers Kondzilla e Paula Landucci, do empresário Vitor Knijnik (network Snack) e de Sandra Jimenez, diretora de parcerias de música do YouTube e do Google Play Music na América Latina. A atividade abordou tanto a chance de fazer dinheiro na plataforma de vídeos da Google quanto a dificuldade de manter o canal sempre ativo.
O papo começou falando sobre o quanto é preciso ter dedicação para conseguir obter bons resultados financeiros e de público em uma rede tão grande e cada vez mais disputada – com o público se pulverizando entre milhões de canais. A simpática Paula, conhecida pelos fãs como P.Landucci, por exemplo, disse que produz vídeos há quase seis anos de forma praticamente ininterrupta e que isso exige muito de criatividade e comprometimento da pessoa.
“Não importa se você está sem ideias ou se o seu gato morreu, você precisa ligar a câmera e continuar a produzir, nem que seja para falar que está triste com a morte do gatinho”, explicou. Com essa regularidade – e uma ajudinha inicial de PC Siqueira – foi possível conquistar milhares de seguidores e, eventualmente, direcioná-los à sua banda Hewie. Quando a produção musical chegou a um nível profissional, o material foi apresentado aos fãs de seu canal, resultando em um financiamento coletivo de sucesso para o primeiro CD do grupo.
A paixão por música também foi o que levou Konrad Dantas, o Kondzilla, ao estrelato no YouTube e na cena do funk nacional. O jovem sonhava em cantar rap, mas acabou encontrando na produção de clipes seu meio de entrar nesse ramo e fazer dinheiro. Ele conta que, conforme seu trabalho foi ficando mais popular, muitos artistas disputavam seus serviços, mas que, no fim, eram nomes come MC Guimê – um de seus clientes – que ficavam com a receita gigantesca dos vídeos criados pela sua produtora.
Eu via os caras comprando carros, casas, apartamentos, e eu, nada
Alguns tentaram reproduzir isso com produções próprias, mas não tiveram sucesso. O resultado disso? Quem voltou a contatar Kondzilla passou a encarar um contrato de exclusividade, no qual 50% da receita dos clipes publicados em um de seus três canais ia para ele. “Os direitos autorais protegem bem o músico e a gravadora, mas o diretor de vídeos não tem esse respaldo no que diz respeito a sua propriedade intelectual”, disparou o rapaz. A estratégia dá certo, já que sua página principal no YouTube passa dos 2 milhões de inscritos.
Sonzão!
Além dessa programação mais fixa e concentrada nos centros culturais e livrarias locais, era possível ainda curtir shows ao vivo em dois pontos diferentes do bairro, experimentar lanches e pratos diversos em dezenas de food trucks espalhadas pela região e trocar experiências com visitantes e palestrantes fora dos auditórios e salas de exibição. Atividades diferentes também estavam espalhadas por todos os lados, oferecendo experiências com realidade virtual, cliques em meio a centenas de garrafas de cerveja e exposições abertas ao público.
Falando na parte gratuita do Festival Path, terminamos o sábado conferindo a apresentação da banda O Terno, que fechou a noite no Palco Spotify. Além do trio paulistano – que atraiu um público de respeito à Praça Professor Resende Puech com seu rock experimental –, a filial brasileira do serviço de música por streaming também trouxe ao local os grupos Baleia, Dingo Bells, Lila, Jota Erre e Maglore. Com três shows por dia, bastava chegar lá e curtir um som, sem precisar gastar um único tostão.
A iniciativa lembra bastante o que a companhia faz lá fora com sua “Spotify House” no festival South by Southwest (SXSW), em Austin (Texas) – em uma escala menor, claro. E você, chegou a comparecer ao evento? Teve dificuldades em decidir o que acompanhar ao longo de toda a programação? O que espera para a próxima edição do Festival Path? Deixe nos comentários a sua opinião sobre os temas discutidos no encontro cultural.
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