Como a exclusividade em serviços de streaming está estimulando a pirataria

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A batalha entre a indústria da música e a pirataria não é nova. Antes do MP3 e de sistemas como o Napster existirem, artistas e gravadoras já lutavam contra a distribuição ilegal de fitas cassete, CDs e outras mídia que, na visão deles, servem somente para “roubar” dinheiro de quem merece recebê-lo.

Com o advento dos sistemas de streaming, parecia que finalmente essa guerra havia chegado ao fim — ou ao menos diminuído de escala substancialmente. Sistemas relativamente baratos e descomplicados como o Spotify, o Deezer e o Apple Music fizeram com que muitas pessoas desistissem da ilegalidade e passassem a pagar assinaturas para conseguir escutar seus artistas favoritos.

No entanto, na tentativa de chamar a atenção para sistemas específicos, muitos artistas e gravadoras estão apostando em uma solução que pode se voltar contra elas: lançamentos exclusivos. Nomes como Kanye West, Beyoncé e Drake apostaram nessa estratégia com resultados um tanto desastrosos, estimulando a pirataria em vez de convencer mais pessoas a pagar por algum serviço.

Uma questão de conveniência

Algo que a indústria da música (e a do cinema) parece não entender é que a maioria das pessoas não apela para a pirataria por uma questão de má fé ou por não achar que artistas não merecem ser pagos. Muitos simplesmente recorrem a meios ilegais por eles oferecerem algo que empreitadas legítimas falham em apresentar: conveniência.

Ao assinar o Spotify, por exemplo, você provavelmente espera que a maioria de seus artistas favoritos surja por lá em um ou outro momento. Mesmo que o Apple Music tenha a exclusividade de uma ou outra faixa (ou ganhe um álbum semanas antes), não há motivos para se preocupar: em questão de pouco tempo, o consumidor vai conseguir adquirir aquilo que precisa de maneira totalmente legal.

Serviços de streaming ganharam espaço devido à comodidade que oferecem

No entanto, quando um nome de peso como Kanye West anuncia que seu álbum The Life of Pablo só vai estar disponível no Tidal — para todo o sempre —, a situação muda bastante. Em vez de pagar uma mensalidade adicional somente para escutar um disco, a maioria das pessoas vai seguir o caminho mais fácil e rápido para escutá-lo: a pirataria.

Segundo o site TorrentFreak, menos de 24 horas após o disco chegar ao sistema, ele foi pirateado mais de 500 mil vezes e havia 10 mil pessoas o compartilhando através de torrents. “Números desse tipo são algo que não vimos com nenhum lançamento musical antes”, afirmou o veículo.

Não demorou muito tempo até que o álbum de Kanye West surgisse em torrents

Também não contribuiu para o desempenho do álbum o fato de que muitas pessoas que assinaram o Tidal não conseguiam baixá-lo de forma completa. O sistema também apresentou alguns problemas na disponibilização dos arquivos, que surgiam de forma corrompida para muitos consumidores legítimos — algo que não acontecia nas cópias piratas.

Barreiras virtuais

Ao menos em um futuro próximo, parece que a tendência de apostar em conteúdos exclusivos deve se manter: algo que pode ser bom em certo nível para os detentores de um serviço, mas que não beneficia muito o consumidor. Caso você faça questão de obter músicas somente de forma legítima, prepare-se para ter que gastar cada vez mais nisso.

Vamos levar em consideração somente três dos principais serviços de assinatura do mercado: o Spotify (R$ 14,99 mensais), Apple Music (US$ 4,99 ou R$ 17,75) e o Tidal (R$ 14,90). Caso você queira obter os álbuns exclusivos a cada um desses serviços, vai ser preciso pagar um total de R$ 47,64 mensais por isso — ou R$ 571,68 anuais.

Barreiras virtuais podem estimular a pirataria

O valor é um tanto salgado quando consideramos que, para acessar qualquer um desses serviços, é preciso ter pelo menos uma conexão de internet e um computador ou smartphone compatível. Também é preciso levar em consideração o fato de que a maioria das pessoas tende a eleger um serviço como seu preferido e não é nada prático ter que ficar alternando entre sistemas somente para conseguir escutar um álbum específico.

Muitos preferem simplesmente baixar os álbuns a que não têm acesso

A aposta em exclusividade, mais do que convencer uma pessoa a trocar de serviço de streaming ou apostar em múltiplas assinaturas, tem tudo para criar barreiras que estimulam a pirataria. Na era da internet, onde tudo é facilmente adquirível, muitos preferem simplesmente baixar os álbuns a que não têm acesso do que gastar mais do que consideram razoável com isso.

A situação é especialmente ruim no caso de artistas como Kany West, que preferiu disponibilizar The Life of Pablo exclusivamente através do Tidal. Quando você não quer assinar um serviço e não há como comprar as faixas que você deseja através de lojas virtuais ou em uma versão física, de repente apelar para um torrent se torna algo extremamente razoável.

Nesse sentido, a indústria das séries de televisão parece ser a mais antenada com as vontades do público e com seus métodos de consumo. A HBO, por exemplo, passou a exibir Game of Thrones de forma simultânea na maior parte do mundo pois sabe que agradar ao público é a única maneira de diminuir a pirataria, tendo ciência de que não é possível eliminá-la completamente.

Tendência que tende a continuar

Mesmo despertando sinais de alerta de que pode jogar parte do público para o terreno da ilegalidade, a prática de lançar conteúdos de forma exclusiva deve continuar. O próximo grande exemplo disso deve ser Views From the 6, quinto álbum de estúdio de Drake, que chega somente ao Apple Music no dia 29 de abril deste ano.

O próximo álbum de Drake deve chegar primeiro ao Apple Music

Embora seja quase certo que o disco também deve chegar a outros sistemas de streaming em breve (além de ser vendido de forma física e digital), a Companhia da Maçã aposta nele como uma forma de diferenciar seu serviço. Embora a estratégia possa funcionar com alguns consumidores, é de se imaginar que muitos daqueles que preferem sistemas concorrentes não vão ter problemas em baixar cópias ilegais.

Em um cenário no qual a música é tratada cada vez mais como um bem de consumo barato e acessível, a aposta em lançamentos restritos parece somente mais uma tentativa falha de voltar aos tempos em que, para ouvir algo, era preciso ir até uma loja e comprar um disco. Ao que tudo indica, ainda vai demorar um pouco até que a indústria da música perceba que sim, o público quer recompensar os artistas por seus trabalhos, mas não quer fazer isso através de meios considerados inconvenientes.

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