Por Rafael Ataide.
Vivemos um momento crucial da história da era digital, em que a linha entre realidade e fabricação já começou a se distorcer. Pare para pensar: com que frequência você se pergunta se uma imagem ou vídeo são autênticos? Pode ser qualquer coisa, desde um projeto de design, uma situação inusitada ou até uma cena do dia a dia. A dúvida sobre a veracidade do que vemos tem se tornado cada vez mais comum e, sinceramente, precisa ser mesmo.
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A inteligência artificial generativa não para de avançar. Não é à toa que os deep fakes — simulações de pessoas reais que conseguem copiar até mesmo a voz — são um assunto constantemente em pauta. O mais preocupante é que a disponibilização de tecnologias capazes de transmitir essas imagens realistas supera em muito o desenvolvimento de tecnologias capazes de perceber um sinal claro de falsidade nelas. Teoricamente, as próprias empresas que criam essas IAs deveriam investir para desenvolver um sistema de discernimento entre realidade e artificialidade. No entanto, não é o que está acontecendo.
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O resultado é uma crise de verdade e confiança. Como podemos ter certeza do que consumimos online, afinal? Ainda que alguns conteúdos sejam obviamente manipulados, quando usam elementos fantásticos, por exemplo, outros seguem padrões inteiramente realistas e impossíveis de distinguir a olho nu.
O que nos resta é o viés da plausibilidade, por mais plausível que seja uma imagem ou vídeo, será que ele é real?. Isso significa que devemos cultivar uma perspectiva crítica conceitual e intelectual sólida o suficiente, para tentar julgar e examinar imagens a fim de determinar sua validação. Ou seja: pergunte-se o contexto daquele conteúdo, de onde ele veio, quem publicou, qual mensagem ele tenta passar, a quem ele beneficia ou atrapalha. Procure também mais informações a respeito; por exemplo, se é uma imagem de um suposto acontecimento público, será que não existem outras imagens de diferentes ângulos? Testemunhas humanas? Câmeras de segurança? Há cobertura jornalística investigando o ocorrido?
As redes sociais fazem com que o consumo seja tão imediato que essas perguntas, muitas vezes, são esquecidas. Entretanto, conforme adentramos essa era de dúvidas, precisamos recalibrar nossas mentes. Muitos de nós já têm feito isso, mas outros ainda não, e há um perigo real de manipulação e desentendimentos coletivos se não trabalharmos nossa análise crítica.
Por fim, além da mentalidade crítica e questionadora, devemos pedir mais das tecnologias e das empresas por trás delas. Precisamos construir um futuro em que possamos compartilhar a confiança no que vemos novamente. Isso pode vir no formato de novas ferramentas capazes de identificar IAs, ou que as próprias IAs necessariamente possuam alguma informação que esclareça seu uso, para que ninguém se confunda.
Se você possui ainda outras táticas para para determinar se uma imagem ou um vídeo são autênticos, compartilhe-as também! Esta é uma preocupação de todos e as soluções que desenvolvermos daqui para frente é o que vai determinar nossa relação com a verdade na nova era.
*Com experiência em inteligência artificial e neuromarketing, Rafael Ataide já passou pela gestão de e-commerces, estratégias de CRM marketing e implementação de algoritmos de machine learning em empresas multinacionais. Hoje está à frente do Hub de Data & Tech da Adtail como diretor, promovendo inovações e uso de I.A. para facilitar o dia a dia da operação e do cliente.
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