Coreia do Sul: como o país pode criar um rival para o Vale do Silício?

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O cenário tecnológico de Seul, a capital e a cidade mais importante da Coreia do Sul, ainda está longe da dimensão e do valor do Vale do Silício, o centro mais proeminente de empresas da web e de tecnologia. Porém, a região está crescendo rapidamente nos últimos anos, e diversas formas de incentivo têm contribuído para o aumento de startups no país asiático, formando um efervescente polo de criatividade e inovações.

Empresas jovens e empreendedoras do setor tecnológico e do ramo de soluções para internet têm se concentrado no distrito de Gangnam, uma das áreas mais ricas de Seul, localizada no sudeste da cidade. Entre os enormes arranha-céus de vidro, executivos procuram um espaço para dispor suas logomarcas ou disputar uma vaga de escritório em uma das incubadoras que despontam na região.

Uma das razões para o aumento no número de startups com sede em Seul é a iniciativa da presidente Park Geun-hye — que, após tomar posse em 2013, anunciou um plano de economia “criativa” e abriu o Ministério da Ciência, Tecnologia da Informação e da Comunicação e de Planejamento Futuro, com verba para financiamento de projetos.

A presidente, a primeira mulher eleita para o cargo em seu país, lançou um orçamento de mais de US$ 12 bilhões para esse Ministério em 2014, sendo que US$ 2 bilhões desse volume de dinheiro são destinados especificamente para o cenário de startups, para programas de aceleração de empresas e de incentivo para novos talentos.

Incubadoras

Além do fomento governamental, startups encontram mecanismos de apoio e financiamento através de incubadoras. Uma delas é a Dreamcamp, uma das mais respeitadas do mercado, que utiliza o Fundo Bancário para Jovens Empreendedores, com mais de US$ 450 milhões em caixa, arrecadado com a ajuda de 20 bancos coreanos.

"Esta é a melhor época de sempre para iniciar a sua empresa na Coreia", diz o gerente da Dreamcamp Ryu Hahn. A incubadora oferece um espaço para trabalhos colaborativos e ajuda os empreendedores a organizar seus projetos, a encontrar financiamento e lançar seus produtos no mercado.

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Outra grande incubadora da região é a SeoulSpace, especializada em startups de grande potencial e no mercado de capital de risco. Richard Min, cofundador da companhia, analisa que cerca de 60% do capital de risco do país é bancado pelo governo, enquanto nos Estados Unidos a prática corresponde a 1%.

Com o apoio do governo, o cenário de startups da Coreia tem emergido tanto criativamente quanto financeiramente. De acordo com Min, “estamos criando uma cultura empresarial completamente nova, que não é vista nem no Vale do Silício, nem em qualquer outro lugar do mundo”.

De Seul para o mundo

Até 2012, cerca de dez conglomerados de empresas respondiam por mais de 80% do PIB da Coreia. Por décadas, esse tipo de conglomerado (chamado localmente de Chaebol) asfixiava o empreendedor local. Com o objetivo de mudar o cenário e criar novos empregos no país, o governo coreano está finalmente incentivando as pequenas e médias empresas e fazendo com que elas assumam mais riscos, na esperança de que isso as leve a mercados ainda maiores.

Esse é a perspectiva do empresário Daniel Cho, cofundador da Step, um aplicativo jornalístico que usou os fundos do governo para enviar uma equipe de trabalho para uma aceleradora em Sunnyvale, no estado americano da Califórnia. “Até o ano passado, quase todo o apoio era sobre a criação de uma nova startup , mas neste ano eles começam a incentivar as startups para ir para o mercado estrangeiro.”

Richard Min, da SeoulSpace, aproveitou as oportunidades para abrir a sua própria aceleradora, Fashion Technology Accelerator, com sede em Seul e escritórios em Milão e no Vale do Silício. Sua nova empresa explora as intersecções entre a indústria tecnológica e da moda e ajuda os empresários a expandirem seus negócios a partir do contato de especialistas de cada região.

O incentivo do governo para que empresários busquem o sucesso internacional tem atraído cada vez mais os jovens pela estrutura oferecida em Seul. As pequenas e médias empresas não se sentem mais presas ao modelo coreano, e há muitos estrangeiros que começam a optar por escritórios na região.

Questões financeiras e culturais

Apesar de haver uma maior confiança entre os membros da nova cena coreana de startups, ainda há desafios na cultura de negócios local. As leis de falência estão assustando potenciais investidores porque os empréstimos são baseados em garantias pessoais completas. Mas como garantir o sucesso de uma iniciativa nesses termos?

Há também um sentimento de dívida com os conglomerados empresariais, perpetuado pelo sistema educacional e cultural do país, especialmente quando as pequenas e médias empresas atraem muitos investidores e explodem no mercado estrangeiro. A experiência internacional, contudo, parece modificar as práticas de negócio.

(Fonte da imagem: Reprodução/Travel Earth)

Uma das maneiras que as startups estão encontrando para aliar o investimento governamental com seus projetos, aplicando a política de economia “criativa” da presidente Park Geun-hye, é valorizar os aspectos mais positivos de sua cultura. Por essa razão, os casos de maior sucesso estão ligados a setores da moda, da indústria de cosméticos, de jogos e de entretenimento.

Algumas das empresas que nasceram dessa política e que já têm seus nomes reconhecidos internacionalmente são a Shakr Media, aplicativo que cria vídeos a partir de fotos, a 5rocks, plataforma de publicidade para jogos em dispositivos móveis, e a Memebox, de venda e encomenda de cosméticos.

Esses exemplos ajudam o distrito de Gangnam a atrair ainda mais dinheiro e investidores, e a perspectiva é que logo o setor possa se autorregular e depender menos do fomento governamental.

Uma amostra nesse sentido é o fundo recém-lançado pela aceleradora SparkLabs, uma companhia local que decidiu lançar capital no valor de US$ 30 milhões para empresas que querem explorar o mercado asiático. A política coreana de economia “criativa” tem mesmo ajudado a redefinir o cenário empresarial da região e está transformando a capital do país em um centro de referência capaz de rivalizar com o Vale do Silício.

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