Erupção do supervulcão Toba pode ter 'expulsado' os humanos da África

2 min de leitura
Imagem de: Erupção do supervulcão Toba pode ter 'expulsado' os humanos da África
Imagem: Getty Images

Um estudo publicado recentemente na revista Nature contestou a tese normalmente aceita de que a dispersão bem-sucedida do Homo sapiens da África para outras regiões do planeta teria ocorrido há menos de 100 mil anos, seguindo "corredores verdes" formados durante intervalos úmidos ocorridos em épocas de grande abundância de alimentos no continente.

A nova hipótese, comprovada pela análise de vidro vulcânico encontrado na Etiópia, mostra que a movimentação de grandes massas humanas se deu não pela opulência, mas sim pela seca ocorrida no Chifre da África há 74 mil anos, após a erupção do supervulcão Toba, que obrigou aqueles indivíduos a se adaptarem, e supostamente viajarem, aproveitando os recursos ainda disponíveis.

À tese de corredores verdes, os autores do novo estudo propõem o que chamaram "rodovias azuis", compostas por rios efêmeros e poços sazonais, onde os migrantes caçavam animais que vinham beber e, quando o nível de água diminuía, capturavam peixes sem equipamento, partindo em seguida para outros poços promissores.

Resíduos do supervulcão Toba detectados em sítio arqueológico

Escavações no sítio arqueológico da Idade da Pedra Média, Shinfa-Metema 1.Escavações no sítio arqueológico da Idade da Pedra Média, Shinfa-Metema 1.Fonte:  topographic-map.com/Reprodução 

Para comprovar suas hipóteses, a equipe pesquisou o sítio arqueológico Shinfa-Metema 1, nas terras baixas do atual noroeste da Etiópia, às margens rio Shinfa, um afluente do Nilo Azul. A megaerupção ocorreu na fase intermediária de ocupação do local, e pôde ser comprovada pela existência de minúsculos cacos de vidro cuja química é compatível com a do Toba.

Um dos grandes diferenciais do estudo foi a introdução de novas técnicas para identificar, analisar e interpretar a criptotefra, fragmentos vulcânicos de vidro que variam entre 20 e 80 mícrons de tamanho, menores do que um fio de cabelo humano, lançados na atmosfera durante erupções vulcânicas.

Usando métodos de criptotefra, como análise química e isotópica, os cientistas comprovaram que a camada de cinzas vulcânicas detectada em Shinfa-Metema 1 datam de aproximadamente 74 mil anos.

Como a população sobreviveu ao supervulcão Toba?

Projéteis de pedra lascada encontrado em Shinfa-Metema.Projéteis de pedra lascada encontrado em Shinfa-Metema.Fonte:  Projeto de Pesquisa Nilo Azul/Divulgação 

A equipe descobriu que os habitantes de Shinfa-Metema 1 caçavam regularmente vários animais, de antílopes a macacos, conforme comprovaram em marcas de cortes nos ossos encontrados. Evidências de fogo controlado descobertas no sítio são um indicativo de que essas pessoas também cozinhavam suas refeições.

A pesquisa encontrou várias pedras triangulares pequenas e simétricas, que podem ter funcionado como pontas de flechas. Essas prováveis ferramentas de 74 mil anos são as evidências mais antigas do uso de arco e flecha já detectadas.

Para o principal autor do estudo, John Kappelman, professor da Universidade do Texas, os rios sazonais funcionavam como "bombas sifonando pessoas de um poço para outro". Essa flexibilidade comportamental, ditada pela necessidade de se adaptar a condições climáticas desfavoráveis, que incluíram a supererupção do vulcão Toba, foi fundamental para que a espécie humana sobrevivesse e se espalhasse pelo mundo.

Mantenha-se atualizado com os últimos estudos sobre a evolução do nosso planeta Terra aqui no TecMundo. Se desejar, aproveite para saber como os ancestrais da humanidade chegaram perto da extinção há cerca de 900 mil anos.

Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.