O asteroide que causou a última extinção em massa na Terra segue impactando a vida em seu entorno, pois os microrganismos que habitam as rochas nas profundezas da cratera onde ocorreu o impacto que dizimou os dinossauros, em Chicxulub, no México, ainda são influenciados pelo evento – mesmo 66 milhões de anos depois.
Local do impacto do asteroide em Chicxulub, na Península de Yucatán, no México.Fonte: Gulick et al. (2008) / Reprodução.
Em um artigo publicado no dia 24 de junho, no jornal científico Frontiers in Microbiology, pesquisadores da Universidade Curtin, em Bentley, na Austrália, contam como usaram sequenciamento de genes, contagens de células e experimentos de incubação para estudar as comunidades de microrganismos da cratera de Chicxulub.
Microrganismos estudados a fundo
Bettina Schaefer, autora do estudo e candidata a PhD pelo WA-Organic and Isotope Geochemistry Center (WA-OIGC) de Curtin, explicou ao site Phys que enquanto os impactos de asteroides causaram grandes mudanças nos organismos e ecossistemas que viviam na superfície, a cratera resultante pode ter-se tornado o lugar perfeito para nutrir uma nova vida. "O calor e a pressão do impacto criaram uma área esterilizada que causou a extinção localizada dos micróbios residentes", disse Schaefer.
Segundo a pesquisadora, cerca de um milhão de anos após o impacto, a cratera esfriou novamente, retornando a temperaturas baixas o suficiente para que a vida microbiana pudesse voltar a existir e evoluísse isolada da superfície da Terra pelos últimos 65 milhões de anos.
Microrganismos da cratera de Chicxulub passaram por diversos experimentos.Fonte: Pexels/Edward Jenner/Reprodução
O geomicrobiologista Marco Coolen, professor associado do WA-OIGC, disse que o estudo encontrou bactérias pobres em nutrientes nas rochas graníticas fraturadas pelo impacto e ainda relativamente quentes – cerca de 70 °C, nas partes mais profundas da cratera. Essas bactérias eram significativamente diferentes das presentes na camada de entulho que encheu o local imediatamente após o impacto e dos micróbios presentes nos sedimentos marinhos depositados na cratera milhões de anos depois.
O estudo apontou que, enquanto em ambientes próximos à superfície os impactos de asteroides mostraram aumentar a porosidade e permeabilidade das rochas, aumentando a colonização microbiana, nas rochas sedimentares, a porosidade, que muitas vezes já é acessível para os micróbios, pode ter sido reduzida pelo impacto, resultando em uma perda de espaço para colonização.
Repercussão do estudo
"As descobertas nos deram uma visão sobre a vida microbiana em ambientes extremos e de que maneira a vida se recupera desses grandes eventos, como colisões de asteroides", disse Coolen. O professor seguiu: “Como a biosfera microbiana profunda desempenha um papel importante no ciclo global do carbono, é interessante investigar como as comunidades microbianas foram capazes de se recuperar desse evento geológico catastrófico".
Com a crescente preocupação de que um possível desastre ecológico gerado pelo homem aconteça, ou mesmo outro asteroide caia, os pesquisadores acreditam que estudos sobre de que modo a vida na Terra respondeu às principais mudanças ambientais, ecológicas e evolutivas – como extinções em massa do passado geológico – são cruciais para uma maior compreensão da resiliência da vida na Terra, que é tema de uma pesquisa maior, liderada pelo coautor John Curtin, diretor e fundador do WA-OIGC.
Marte é a próxima fronteira
Segundo os cientistas, as observações feitas têm aplicação na busca por vida em outros planetas – particularmente em Marte. O subsolo profundo em Chicxulub mostra que grandes impactos geram interfaces geológicas profundas, que favorecem o fluxo de fluido, o que aumenta a diversidade mineral e, portanto, a acessibilidade tanto de nutrientes quanto de energia no subsolo.
"Um número substancial de grandes crateras de impacto em Marte foi preservado desde sua história inicial devido à falta de placas tectônicas", segundo a conclusão do estudo. Embora em contraste com Chicxulub, a crosta marciana seja basáltica, a subsuperfície fraturada e porosa das grandes crateras de impacto em Marte são lugares propícios para focalizar missões de exploração científica em busca de ambientes habitáveis – e até mesmo testar a hipótese da presença de vida em Marte.