Uma chuva de meteoros nunca vista antes deve espalhar minúsculos pedaços de poeira de cometa sobre as regiões mais ao sul do planeta por um breve período em setembro deste ano.
As previsões indicam que a chuva de meteoros, apelidada de Finlay-id, pode começar no final de setembro e atingir o pico em 7 de outubro. O apelido do evento vem do Cometa 15P/Finlay, de aproximadamente dois quilômetros.
Chuva de meteoros anual Perseidas, em foto de longa-exposição feita em 2016.Fonte: NASA/Bill Ingalls
O evento durará cerca de 10 dias e aparecerá em latitudes mais ao sul, principalmente em regiões com pouca massa de terra. "Isso a torna não apenas uma chuva de meteoros interessante, mas também muito difícil de observar", disse Diego Janches, astrofísico pesquisador do Goddard Space Flight Center da NASA, em Maryland, nos Estados Unidos, durante entrevista ao site Space.
Janches acredita que a chuva partirá da constelação Ara (o Altar). Mas a irradiação exata – o ponto de onde os meteoros parecem se originar – não está clara porque é um evento totalmente novo.
Como uma nova chuva de meteoros é possível
Enquanto a Terra gira em torno do Sol, o planeta viaja através de nuvens de destroços deixados por cometas e asteroides. Essas partículas interagem com a atmosfera terrestre e produzem "estrelas cadentes" – que são, na verdade, meteoros. Usualmente essas nuvens ficam mais ou menos no mesmo lugar do universo, permitindo que a Terra passe por cada nuvem de detritos uma vez ao ano: é por isso que grandes chuvas de meteoros, como Perseidas e Geminidas, ocorrem anualmente.
Já a chuva de meteoros Finlay-id provavelmente será um evento único, segundo Janches. Ainda que se repita, não acontecerá anualmente. Até pode haver uma bolsa oculta de poeira do cometa Finlay que irá colidir com a Terra daqui a alguns anos, mas os astrônomos ainda não têm certeza de como ela poderá aparecer.
Uma chuva de meteoros única é possível porque a órbita de uma corrente de poeira pode mudar de forma e tamanho com o tempo. "Como o material entra no espaço após a cascata de um cometa, o caminho original da nuvem de detritos através do sistema solar é o mesmo que a órbita do cometa. Conforme as partículas de detritos começam a desacelerar, no entanto, o formato da órbita dos detritos se contrai, passando de uma órbita oval para um caminho mais circular", afirmou Janches.
E é assim que surge uma chuva de meteoros onde antes não existia: as forças do sistema solar afetam a jornada da poeira de um cometa. Os pequenos grânulos que se desprenderam do Finlay foram retardados pelo vento solar – fluxo de partículas carregadas que emana do sol – e seus caminhos, influenciados pelas perturbações gravitacionais de Júpiter e do sol. Assim, suas minúsculas partículas se deslocam para a órbita da Terra.
Como observar a Finlay-id
Não espere ver um monte de "estrelas cadentes" de uma vez. "Será uma chuva de meteoros difícil de observar, porque os meteoros serão muito lentos", explicou Janches.
Quando observamos um meteoro na atmosfera terrestre, não estamos observando a partícula real. O que vemos é a luz produzida quando as partículas do meteoro interagem com a atmosfera ou a ionização produzida durante a interação, segundo o astrofísico. Radares detectam a ionização do meteoro (quando seus átomos ganham ou perdem elétrons), e câmeras óticas ou olho nu visualizam sua luz.
O que enxergamos a olho nu, da Terra, não são meteoros, mas sim sua luz ou ionização.Fonte: Pixabay
Uma velocidade de entrada lenta como a estimada para a Finlay-id, de 11 km/s, torna difícil a ocorrência de qualquer um dos fenômenos descritos acima. Para ver os meteoros Finlay-id, será preciso um instrumento capaz de detectar essas partículas lentas do tamanho de grãos de areia à medida em que entram na atmosfera da Terra. E também será preciso estar no extremo sul.
Janches acredita que seu instrumento, localizado no cone sul da Argentina, será o mais bem situado para a tarefa: o Agile Meteor Radar Sul da Argentina (SAAMER) fica na Estação Astronômica Rio Grande (EARG) – localizada na Terra do Fogo, a quase 54 graus de latitude sul. O arquipélago, na ponta do cone sul-americano, é a maior parte de massa de terra disponível na latitude ideal para observar o fenômeno – o que deve ajudar em projetos futuros da NASA.
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