Enquanto a humanidade ainda "quebra a cabeça" procurando fontes de energia ambientalmente sustentáveis, pode ser que haja civilizações desconhecidas se aproveitando do poder de buracos negros para alimentarem suas tecnologias – e identificar a ocorrência desse tipo de extração pode revelar que não estamos, de fato, sozinhos no Universo, de acordo com um estudo publicado na revista Physical Review D.
Por enquanto, estamos tão longe de explorar essas áreas quanto elas estão da Terra, uma vez que o corpo espacial do tipo mais próximo daqui encontra-se a, pelo menos, mil anos-luz de distância, e a viagem demandaria várias gerações mesmo com equipamentos que, ainda, existem apenas no imaginário de pesquisadores.
De todo modo, supondo-se que alguém lá fora esteja um tanto mais avançado que o Homo sapiens sapiens e que tenha criado dispositivos à altura da tarefa, tais componentes seriam implementados fora do horizonte de eventos, a partir do qual coisa alguma escapa. Por lá, erupções de plasma certamente ocorreriam, e esse tipo de evento já foi detectado por cientistas.
A questão, ressalta o astrofísico Luca Comisso, da Universidade de Columbia, coautor do estudo, é como manifestações não naturais se pareceriam a nossos olhos. Contornando-se esse obstáculo, saberíamos que existe a esperança de que uma fonte praticamente inesgotável de um recurso fundamental à nossa sobrevivência está ao alcance de qualquer um com os avanços necessários.
"Somente aplicamos a física ao papel. Entretanto, estou trabalhando com um colega meu para aplicar isso à realidade, para procurar civilizações, para tentar ver que tipo de sinal você precisaria procurar", indica.
Fonte quase inesgotável de energia ao alcance de outras mãos.Fonte: Reprodução
Por que não?
Esta é a quarta vez em 50 anos em que uma teoria semelhante surge na comunidade científica, sendo a mais notória delas a proposta em 1969 por Roger Penrose, que ganhou o Prêmio Nobel de Física em 2020. Nela, o físico descreveu um mecanismo por meio do qual uma partícula se quebra em duas ao lado de um buraco negro girando próximo à velocidade da luz, sendo que parte dela cai através da ergosfera, uma região caótica do espaço-tempo fora do horizonte de eventos, antes de cair no próprio buraco negro – gerando uma energia negativa que poderia ser capturada por alienígenas.
Luca Comisso explica que os locais desses eventos são muito pequenos e que o processo não ocorre em parte alguma além deles. Além disso, é como se as manifestações alimentassem os buracos negros aos quais estão ligados com a energia produzida. Sendo assim, “nada” impediria a canalização dela para outros fins.
Aliás, análises mais recentes, ao contrário da original, revelam que plasmas de tamanhos astronômicos presentes nos discos de acreção passam pelo mesmo, dando origem a tanto poder quanto o número de partículas que possuem pode fornecer. Ainda que altamente massivos e, portanto, passíveis de “evaporação”, durariam mais tempo que qualquer fonte conhecida aqui na Terra.
Quanto mais partículas, mais recursos. Será?Fonte: Reprodução
Traçando paralelos
Mais do que apenas suporem a possibilidade de instrumentalização de fontes de energia além de nosso alcance, Comisso e Felipe Asenjo, da Universidad Adolfo Ibáñez, no Chile, dão seus palpites do porquê de toda essa história ser mais que uma invenção. Reconexões magnéticas, comumente vistas nas superfícies de estrelas como o Sol, que liberam uma tremenda quantidade de energia como chamas de plasma que se movem em direções diametralmente opostas, também se manifestariam nas extremidades de buracos negros, defendem.
Se, por um lado, exemplifica Luca, chamas de plasma criadas nos astros caem retornam a eles ou voam para o espaço, a ergosfera de um buraco negro em rotação faria com que um jato de plasma em queda se comportasse mais ou menos da mesma forma. Ou seja, parte para um lado, parte para o outro, mesmo que, no final, tudo fosse sugado. É nesse meio-tempo que algo seria capturado.
Entretanto, isso contradiz um outro estudo de 1977, liderado por Roger Blandford e Roman Znajek, que afirma que campos magnéticos próximos a um buraco negro em rotação não se reconectam, mas geram um momento angular adicional no jato de plasma que escapa – um tipo de "torque eletromagnético". Apenas novos testes poderão definir qual das propostas é a correta.
“No futuro, as pessoas farão simulações em supercomputadores de ambos os casos e poderá haver uma comparação, mas, no momento, não está claro", pondera Comisso.
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