Foi no deserto de Gobi, na Mongólia, que o paleontólogo americano e geneticista molecular Mark Norell, do Museu Americano de História Natural de Nova York, encontrou um ninho que suscitou uma pergunta não respondida por 15 anos: ovos de dinossauro sempre tiveram cascas duras?
Os bebês fósseis de protoceratops (um dinossauro herbívoro e quadrúpede), mortos entre 75 e 71 milhões de anos, estavam em posição fetal e envoltos por uma fina película – mas não foi achado nada que lembrasse fragmentos de cascas de ovos fossilizadas. O mesmo se deu com embriões preservados de um mussauro (um dinossauro também herbívoro e quadrúpede que viveu há 200 milhões de anos): película fina, sem cascas fossilizadas.
Os bebês fósseis de Protoceratops provavelmente morreram dentro de ovos de cascas moles.Fonte: AMNH/M. Ellison
Em dezenas de escavações pelo mundo, ovos de dinossauro fossilizados são encontrados, mas eles recuam no tempo apenas até a primeira metade do registro fóssil dos dinossauros. Enquanto para algumas espécies há ovos demais, nunca foi encontrado um único ovo de triceratops (dinossauro do mesmo grupo do protoceratops).
Muitos ossos, mas nenhum ovo
"Nos últimos 20 anos, encontramos ovos de dinossauros em todo o mundo, mas eles representam apenas três grupos. Ao mesmo tempo, achamos milhares de restos esqueléticos de dinossauros de outros grupos, porém quase nenhum de seus ovos. Por quê? Porque eles eram de casca mole, e provamos isso com esse estudo", disse Norell.
A ideia que ocorreu ao paleontólogo tem correlação com a natureza atual: assim como no caso de tartarugas, lagartos e cobras, ovos de alguns dinossauro também teriam a casca mole, que não fossilizam e oferecem pouca proteção contra predadores e clima.
Os ovos de tartaruga têm casca macia, e suas proteínas se mineralizam de maneira diferente da dos ovos de casca dura.Fonte: University of Yale/Jasmina Wiemann
Para provar a ideia de Norell, foi preciso uma abordagem mais sofisticada, que veio através do trabalho de Jasmina Wiemann, paleontologista molecular da Universidade de Yale. Ao examinar a película que envolvia os filhotes fossilizados de protoceratops, ela descobriu que havia restos degradados de proteínas do ovo.
O uso de um banco de dados sobre ovos de 112 répteis e pássaros vivos e extintos, relacionados entre si evolutivamente, provou que ovos de casca dura e de casca mole têm proteínas que fossilizam de maneira diferente. "As proteínas encontradas nos fósseis bebês de protoceratops e mussauro combinavam com a de ovos de casca mole."
Ovos gigantes de animais, idem
Outro achado confirmou a ideia de Norell: o primeiro ovo fóssil de Mosassauro (um predador marinho de 18 metros do fim do Cretáceo) encontrado na Antártica. Sempre se pensou que esse animal desse à luz indivíduos formados, e não que pusessem ovos.
Um filhote de mosassauro, nascendo no mar nas proximidades da Antártida.Fonte: New York Times/Francisco Hueichaleo
O ovo foi chamado de "A Coisa" por muito tempo, já que não se tinha sequer certeza do que ele seria. Somente em 2018, a paleontóloga Julia Clarke, em visita ao colega David Rubilar-Rogers no Museu Nacional de História Natural do Chile, mostrou o achado. Clark na mesma hora identificou "A Coisa" como um ovo – gigantesco (30 cm), mas um ovo, e de casca mole.
Para o paleontólogo da Universidade do Texas em Austin e principal autor do estudo publicado na revista Nature, Lucas Legendre, a confirmação de que "ovos de casca mole crescessem tanto assim sem desmoronar e que pudessem ser postos por animais tão grandes" pode mudar definitivamente o entendimento da linha evolutiva de dinossauros e, por consequência, de animais modernos, como pássaros.
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