Durante sua conferência na Brasil Game Show, o diretor da família PlayStation nas Américas, Mark Stanley, afirmou que o principal esforço da Sony em relação ao nosso país está na localização de conteúdo. A chegada de grandes títulos com opção de áudio em nosso idioma e o lançamento de consoles, como o PlayStation Vita, com menus já em português são apenas algumas das promessas da companhia em relação ao Brasil.
A Sony não é a única a apostar nessa regionalização. Outras grandes empresas já abriram os olhos em relação à importância do público brasileiro no mercado global, trazendo seus jogos previamente traduzidos. Warner Bros. e Electronic Arts, por exemplo, ofereciam seus produtos com o foco no usuário local há algum tempo, enquanto a Microsoft aproveitou a fabricação do Xbox 360 no país para oferecer jogos, como Gears of War 3 e Forza Motorsport 4, em nossa língua.
Porém, até que ponto essa preocupação em oferecer games neste idioma é vantajosa para o jogador brasileiro? Ela é realmente necessária ou apenas um adorno para chamar a atenção? O BJ decidiu levantar a questão e foi atrás de algumas respostas.
Os três níveis do idiomaAs diferentes formas de trazer jogos em portuguêsPara entender o processo de regionalização, é preciso ter em mente que existem várias maneiras de oferecer o mesmo conteúdo. Cada título possui uma proposta diferenciada, algo que, geralmente, é respeitado na forma de adaptá-lo à nossa realidade.
O método mais comum é a própria legenda, principalmente por conta da familiaridade que o público tem com o formato graças ao cinema. Além disso, ela é a saída favorita de quem prefere ouvir o áudio original, já que a adição das linhas com o diálogo traduzido não descaracteriza a situação.
Por outro lado, a dublagem é a alternativa para quem tem preguiça de ler ou quer imaginar como seria ouvir seu personagem favorito falando português. Ainda que inserir uma nova faixa de áudio seja algo um pouco mais raro no mundo dos video games, isso é bem visto pelos usuários — algo que fez com que as desenvolvedoras se interessassem mais pelo formato.
Por fim, há a própria tradução completa do material. Quem jogou os Adventures clássicos do PC, como a série Monkey Island, deve lembrar que praticamente todos os textos estavam em nosso idioma — tanto que aqui, o game era chamado de Ilha dos Macacos. Não se trata de apenas adaptar os menus, mas de contextualizar os diálogos a ponto de fazer com que o usuário imagine que aquela é uma produção nacional.
Um tom estranho
Tire da cabeça a ideia de que é preciso usar um ou outro formato na hora de trazer um game para o Brasil. Não existe um método certo ou errado de traduzir um game, já que, como dito anteriormente, cada título possui um proposta única. Desse modo, as empresas precisam encontrar o jeito ideal de fazer com que o conceito original do jogo permaneça intacto mesmo em outro idioma.
Pode parecer algo simples e quase imperceptível, mas é facilmente notado no momento em que a relação imagem e som não combina. Quando a Sony liberou o primeiro trailer de Uncharted 3, por exemplo, muita gente reclamou das vozes dos personagens, principalmente pelas entonações pouco naturais — algo que também foi criticado em Killzone 3 e inFamous 2. A Blizzard também sofreu pelos mesmos motivos com a adaptação de StarCraft II: Wings of Liberty.
Nesse ponto, resta a dúvida: não seria o caso de adicionar uma legenda para agradar aos dois lados da questão? Com isso, os fãs poderiam acompanhar o áudio original sem que ninguém tropece na língua estrangeira. Foi o que Microsoft e Warner fizeram com Gears of War 3 e Batman: Arkham City, que também receberam uma tradução mais profunda em diversos elementos.
Aliás, esse formato pode ser o mais ideal na hora de adaptar um jogo para o português. Isso porque, além de permitir que os usuários compreendam os diálogos, os próprios desafios ficam mais acessíveis. No caso de Arkham City, por exemplo, as senhas de criptografia das portas hackeadas são apresentadas em nossa língua, o que facilita a resolução dos enigmas.
Sinônimo de sucesso?O idioma é o dinheiro
A principal justificativa de Mark Stanley para traduzir os grandes lançamentos do PlayStation 3 no Brasil era exatamente a ampliação do público, que se sentiria “amparado” por uma grande empresa internacional. Mas será lançar games em português faz com que as vendas aumentem?
Talvez a série The Sims seja o maior exemplo de como valorizar o jogador brasileiro pode trazer um ótimo retorno. Desde sua estreia no PC, em 2000, a franquia de simulação de vida sempre se preocupou em fazer com que a língua estivesse presente. Pode parecer besteira, mas os jogadores — sobretudo os casuais — realmente se interessam por conferir títulos em seu idioma.
Por outro lado, há uma questão igualmente complicada na hora de desenvolver um game: a aceitação do mercado externo. Para permitir que pessoas do mundo inteiro tenham acesso ao jogo, os estúdios optam pelo inglês, considerado a “língua universal”. Basta acompanhar a situação da Vatra: a companhia da República Tcheca está trabalhando com a japonesa Konami para trazer Silent Hill: Downpour no idioma dos Estados Unidos.
Desse modo, por que trazer o português? Dependendo da companhia envolvida, o orçamento nem sempre permite que novos artistas sejam contratados para dar vozes em nosso idioma aos personagens.
Quando os gringos brincam de ser brasileirosDeslizes e acertos em bom portuguêsÉ quase uma regra: sempre que a indústria norte-americana tenta colocar um brasileiro em algo, o idioma acaba sendo um ponto que gera boas risadas. Há aqueles títulos que nos mostram falando espanhol, enquanto outros não escondem a origem saxônica, criando situações bem forçadas.
Quem jogou Driver 2, para PSOne, deve se lembrar da existência da fase que se passava no Rio de Janeiro. Porém, parece que se esqueceram de avisar a produtora que nosso país não é mais colônia de Portugal há mais de um século e que não há razão para que os cariocas tenham aquele sotaque lusitano.
Em Grand Theft Auto IV, por outro lado, temos um pouco mais de “espontaneidade” nos diálogos. Em determinadas áreas de Liberty City, quando Niko Bellic tropeça em um pedestre, é possível ouvir xingamentos em nossa língua, mostrando que sabemos ser mal-educados quando queremos.
Por fim, temos a famosa fase de Call of Duty: Modern Warfare 2 que se passa em uma favela. Como o conflito acontece em território nacional, nada mais natural do que ouvirmos algumas frases em português de alguns inimigos.