Coluna: video games, avacalhando a História há décadas

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Há algo que eu realmente preciso confessar: até o momento, ainda não tive coragem de entrar na sala de cinema para apreciar a “releitura” épica trazida por “Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros”. Não, eu não sou nenhum tipo de purista, defensor assíduo da história tal e qual ela normalmente é mostrada nos livros didáticos.

Embora me pareça pouco provável que aquele famoso presidente/herói estadunidense realmente tenha se aventurado com a turma do “alho, estaca e água-benta”, isso não foi o que realmente me chamou mais a atenção.

Na verdade, quando me vi diante daquele magnifico pôster do sombrio ex-presidente postado em sua cadeira — com uma bela lua cheia ao fundo —, o que me ocorreu foi: “Afinal, que tipo de formação histórica a sempre solícita indústria do entretenimento me garantiu até hoje?”.

Em outras palavras, será mesmo que o General Custer conseguiu sua vingança contra aquela pobre indiazinha seminua em Custer’s Revenge? Quer dizer, depois de uma derrota acachapante durante a Guerra da Secessão — o que eu sei por ter assistido a “Little Big Man”, uma bela película nonsense com Dustin Hoffman —, aquela desforra sempre me pareceu bastante natural... Ou será que não?

Após confirmar que, de fato, o bom general não havia voltado dos mortos para copular com uma bela índia — embora o “bela” aí seja um tanto abstrato, já que se trata do Atari 2600 —, de repente me ocorreu que, talvez, os video games venham avacalhando a história há muitos anos. Ou será que não? Assassin’s Creed II pode fornecer uma boa pista.

Ezio e seu bom camarada Leonardo da Vinci

Ok, a menos que algum documento perdido emerja de um círculo místico qualquer, Abraham Lincoln realmente não caçou mortos vivos nas horas vagas. Pelo menos foi o que me disse a Wikipédia. Ok, na verdade ela não incluía nada sobre o assunto... Mas quem cala consente, certo?

De qualquer forma, ainda me restava tirar a prova em relação aos video games. Uma boa jogatina no que estiver mais próximo pode ajudar a resolver o dilema. Ok, o primeiro jogo apanhado foi Tetris... A menos que o mundo tenha sido construído com blocos de montar caídos do céu, não serve como uma fonte de análise confiável.

Ah, sim. Assassin’s Creed 2  Agora sim. A boa epopeia de Ezio Auditore da Firenze. Conforme me lembrou um periódico qualquer há alguns dias, trata-se aqui do ponto alto das superproduções históricas em pixels. Foram milhões de dólares e verdadeiras expedições de historiadores, designers e até mesmo físicos à bela Florença — entre outras paisagens da Itália renascentista.

Lembro aqui do meu bom amigo, Leonardo da Vinci. Em uma missão particularmente “imoral”, Leonardo me convida para transportar defuntos para estudos anatômicos ou seja lá o que foram — é melhor não explorar a “elasticidade moral” do humanismo da Renascença, de qualquer forma.

Após uma análise detida, a conclusão foi das mais óbvias: ou a fabulosa máquina de rastreamento genético Animus 2.0 realmente existe no fundo de alguma instalação governamental secreta... Ou AC II também resolveu “aumentar um ponto” à História alimentada nos bancos da escola. E aí se vai por terra todo o meu conhecimento acadêmico!

Nazistas sobrenaturais, Stalin e os marcianos

Bem, caso você ainda sofra de qualquer ilusão em relação à história que é contata pelos vídeo games, vale uma boa dica: confira Stalin vs. Martians. Sim, o jogo é horrível.

Entretanto, mesmo o maior dos detratores de Joseph Stalin provavelmente seria incapaz de defender que, em algum momento, o líder comunista tenha se embrenhado em uma luta contra invasores de outros planetas — embora a veracidade das danças ao som de “techno-brega” ainda seja questionada.

E mais. Talvez os sonhos de muita gente venham abaixo... Mas, não. Os nazistas jamais dominaram quaisquer tecnologias de origem “sobrenatural”. Mas, adivinhe só? Isso jamais tornou Wolfenstein menos divertido ou relevante, certo?

Enfim, nada que uma boa epifania (uma revelação divina, por assim dizer) não resolva: embora ninguém devesse ter o seu repertório histórico-cultural composto por filmes trash e games... É provável que uma leitura acadêmica do mundo à nossa volta fosse um belo tiro no pé da indústria do entretenimento.

Quer dizer, para isso já existem os livros, certo? E agora eu me decidi: vou assistir a “Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros” — isso se ainda estiver em cartaz em algum canto.

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