Coluna: Cansado... Cansado de jogar

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Estive pensando: será possível acabar “enfastiado” de video games? Será que depois de encontrar dúzias de títulos virtualmente idênticos, a boa e velha massa cinzenta pode, simplesmente, acabar “arriando”? Jogando a toalha?

Talvez isso soe quase como uma ofensa pessoal para quem costuma cultivar dezenas de horas por dia em admiração deslumbrada diante de milhões de pixels em movimento, mas fato é que, pelo menos no meu caso, não se trata de nenhuma novidade. Basicamente: sim, às vezes eu me canso de jogar. Às vezes os jogos começam a simplesmente encher o saco (com o perdão do termo).

Fonte da imagem: Reprodução/Deviantart
Mas não, não se trata de algo permanente. Na verdade, me parece, isso pode ocorrer em momentos bastante específicos. Por exemplo: diante da verdadeira enxurrada de jogos de tiro em primeira pessoa que inundaram a atual geração. Francamente, ali começou a me faltar fôlego. Começou a cansar. Mas os jogos de tiro não são os únicos.

Mais um FPS. Mais um JRPG. Mais um...

Inúmeros Call of Duty. Um Halo atrás do outro. Battlefield. O multiplayer é algo divertido? Com certeza que é! O problema é que lá pelo milésimo headshot (disparado ou tomado, vale dizer), a coisa acaba caindo em uma mesmice terrível. Não há mais nada de novo, enquanto que a temática, baseada em uma guerra qualquer (qual era mesmo?), acabou completamente ignorada em prol de uma mecânica baseada em repetição exaustiva.

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Mas isso também me ocorreu com RPGs. Particularmente, com JRPGs — a boa e velha escola nipônica de jogos de aventura e tática, há um bom tempo mal das pernas aqui pelo ocidente. Mas não me entenda mal: eu gosto de RPGs japoneses. Adorava Grandia II. Diverti-me a rodo com Final Fantasy X — “Como assim? E o VII?!”, diria um fã ciumento. Não, o X mesmo. (Pelo menos até o aparecimento daquele esporte terrivelmente maçante, o Blitzball).

Mas aí vieram os novos (velhos) títulos da atual geração, regurgitando novamente as mesmas mecânicas e ideias. Sempre o mesmo mundo maniqueísta (com “Bem” e “Mal” bem delineados), sempre as CGs deslumbrantes que davam lugar a uma jogabilidade simplesmente passável.

Nesse ritmo, encarei então Final Fantasy XIII-2. Bom jogo. Embora a história tenha virado algo digno de caixa de cereal matinal, pelo menos o percurso em forma de tripa de chocobo esticada havia sido trocado por viagens temporais, mundos paralelos e aquela coisa toda. De fato, tornou-se um bom jogo. Devidamente encaixado nos cânones dos RPGs clássicos.

De qualquer forma, quando a mesma fórmula aparece diante dos olhos, pela milésima vez — provavelmente um problema direto de jogar video games durante muitos anos, diriam os antigos —, você se limita a dizer: “Ok, é bom. Mas vamos fazer outra coisa”.

Em busca de algo realmente original

É provável que qualquer gamer em início de “carreira” se deslumbre com praticamente qualquer coisa que apareça na frente — à exceção de algumas porcarias para Android e iOS, talvez. Gráficos fotorrealistas, violência gratuita — com litros e mais litros de sangue despejados contra a tela —, jogabilidade frenética em ambientes online etc.

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De fato, os franceses têm a palavra perfeita para o estado de descrença que se instala depois de muito “mais do mesmo”: blasé. “Que ou aquele que está embotado pelo excesso de estímulos (sensoriais, afetivos, intelectuais etc.) ou de prazeres, e que se tornou insensível ou indiferente a eles”, conforme coloca o bom Houaiss.

Mas é nesses momentos que algo realmente original pode fazer a diferença. É nesses momentos que uma proposta genuinamente artística consegue realizar a hercúlea tarefa de alterar feições estáticas (talvez a baba já esteja escorrendo), imprimindo, novamente, uma dose maciça de vigor, de descoberta. E nesses momentos é possível se sentir novamente como uma criança diante do Sonic The Hedgehog recém-adquirido.

  • Viva Portal! Viva Journey! Viva  L.A. Noire! Viva a genialidade!

Lembro como se fosse hoje: GTA IV já tinha dado o que tinha que dar (pelo menos pra mim), Gears of War também já havia se tornado incrivelmente mecânico. Aí veio Braid: gráficos lembrando pinturas impressionistas, jogabilidade a um só tempo retrô e inovadora, história densa — do tipo que torce o coração dos mais sensíveis. Enfim, havia ali algo realmente estimulante, regurgitado pela ainda incipiente Xbox LIVE Arcade.

Justiça seja feita: esses momentos sempre foram recorrentes. Lembro-me de ter entrado em contato com Portal, por exemplo, muito tempo depois do seu lançamento... Unicamente para poder me lamentar por não ter jogado aquilo antes. Além de todas as qualidades óbvias — de inquestionável genialidade —, havia ainda algo que tem se tornado cada vez mais raro: um autêntico humor sarcástico, tão refinado quanto o alcance das cordas vocais metálicas e inconstantes da emblemática GLaDOS.

Mas há várias injeções de adrenalina para corações gamers em situação fibrilante — próximos da mais completa apatia, por assim dizer. Volto à minha trajetória: a experiência audiovisual à prova de classificações de Journey; o preciosismo forense de L.A. Noire — cheio de detalhes sutis jamais vistos antes em um jogo; a tranquilidade reflexiva quase desprovida de sentido do recentemente relançado Dear Esther. E há muitos outros.

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Enfim, seja lá qual for o seu ponto de abandono diante de uma diversão que anda há muito pasteurizada e vomitando coisas incrivelmente parecidas, resta manter uma espécie de “fé”. Em suma: as coisas lhe parecem muito iguais? Vá ler um livro, jogar futebol, empinar pipa... Depois volte para o seu video game. Nesse meio tempo, algo de brilhante pode ter aparecido ali.

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