Coluna: o que esperamos das análises de jogos grandes?

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Escrevo prévias, análises e afins para o TecMundo Games há quase cinco anos, e eis uma dúvida que até hoje permanece sem uma resposta clara: o que, exatamente, se espera do tratamento midiático de um jogo de video game? O que nós, consumidores de cultura massificada por excelência, realmente esperamos encontrar em um tratamento dado por sites e revistas a produtos pelos quais tenhamos interesse ou que já tenham encontrado lugar em nossas prateleiras?

Em resumo: qual é a real utilidade que textos focados em projeções e avaliações de jogos têm, hoje, para o usuário médio de video games? (Isso para não entrar no mérito das inflamações geradas pelo famigerado sistema de notas, amado e odiado em igual medida).

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Uma resposta fácil e idealizada poderia ser: “Lemos porque gostaríamos de encontrar análises cuidadosas dos títulos mais relevantes” — quase uma frase de efeito, na verdade. Há também uma possibilidade mais realista, e também um tanto menos inocente: “Lemos porque gostaríamos de saber se determinado jogo vale o dinheiro que é pedido”. Mas mesmo essa ainda não parece ser a resposta definitiva.

Na verdade, após vários anos lidando com esse segmento — tão rico e estimulante quanto potencialmente incoerente —, me arrisco a dizer: sobretudo nos jogos de grande porte, é muito comum que a dimensão “analítica” de uma matéria seja posta de lado por questões de cunho quase “religioso”. Isso porque uma grande parcela dos leitores ainda espera encontrar elogios... E não críticas.

“Habemus Jogo!”

Em teoria, uma análise ou previsão ligada a um jogo (ou qualquer outro produto cultural) deveria tratar simplesmente de dizer se, afinal, algo é realmente bom e por quê, certo? Analisam-se pontos em separado, consideram-se as expectativas geradas (o bom e velho “hype”), promessas e, por fim, o conjunto da obra. Mas essa nem sempre parece ser a realidade do que nós, consumidores cuidadosos, esperamos encontrar em um tratamento crítico.

Basta imaginar a seguinte possibilidade: você acaba de adquirir a sua maravilhosa nova cópia de Need for Speed The Run ou de Dead Island, unicamente para descobrir que o “sacana” do TecMundo Games (ou qualquer outro periódico de games) conferiu uma nota abaixo do que seria considerado “decente” — o que, de acordo com a cultura atual, é qualquer coisa abaixo de 9,5.

Nesse momento, surge a dúvida: discutir a análise, mantendo a coisa em uma abordagem racional... Ou partir em defesa cega do jogo e da quantia empenhada na sua compra? De fato, é exatamente esse tipo de “leitura” que tenta transformar uma avaliação de conteúdo em um culto organizado ao redor de um game.

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Eis o que pensa o típico “fiel” ao bater de frente com qualquer texto que se proponha a tratar do seu adorado título: “Eu não quero uma avaliação! Quero apenas que o site ‘X’ diga que o meu jogo é maravilhoso, que eu realmente fiz bem em adquiri-lo, para que possamos todos (agora em maior número) sair de mãos dadas entoando cânticos de louvor às qualidades do meu belíssimo game recém-adquirido!”.

Profetas e apóstolos da indústria de games?

Parece pretensioso... Quase agressivo — sem falar em excessivamente sarcástico. Mas estive pensando: essa espécie de culto, de “clube do Bolinha” organizado no entorno de cada grande jogo, acaba alterando dramaticamente os papéis entre “redatores” e “leitores” , sempre de acordo com o conteúdo tratado:

  • Prévias: para promessas do “porvir”, há dois papeis disponíveis. Por um lado, há os jogadores fanboys, que assumem o papel de fieis em busca da revelação divina — quer dizer, o que o jogo realmente trará, desde que a notícia seja sempre boa, é claro. Por outro lado, o analista acaba elevado ao posto de “profeta”, aquele que deve anunciar a boa nova: a vinda do messias (ou o lançamento do jogo); e
  • Análises: eis o ponto alto de cada título, e também o momento mais perigoso para se colocar a própria cabeça em jogo (principalmente para levantar pontos negativos). Basicamente, para o jogador que congrega em torno de uma franquia, absolutamente nenhum papel além de “apóstolo” é aceito para classificar alguém que se proponha a analisar o jogo. Você, o crítico, deve exaltar as qualidades fabulosas do título recém-nascido, de forma que todos os fiéis possam se regozijar — mesmo que, eventualmente, o jogo seja apenas uma grande porcaria.

Posturas críticas... De ambos os lados

É claro que isso leva a uma daquelas velhas questões de círculo vicioso — uma “cobra mordendo o próprio rabo” também parece servir. Quer dizer, quem realmente começou a confundir a crítica/análise de produtos culturais com um palco de adoração em massa?

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Terão sido os próprios analistas, constantemente entre a cruz e a espada, apertados por questões corporativas e econômicas — e também eles, muitas vezes, fanboys organizados? Ou voltamos aos consumidores, pouco treinados a compreender o significado e o propósito real de uma crítica? Um pouco das duas coisas parece ser a resposta mais apropriada.

De qualquer forma, antes que apareçam instituições como “A Igreja dos Sonystas dos Últimos Dias”, “As Testemunhas de Miyamoto” ou “O Sacrossanto Culto das Três Luzes Vermelhas”, é bom que nós, como produtores e também como leitores de críticas — mas, principalmente, como questionadores —, possamos desenvolver uma postura racional diante do que nos é ofertado nas prateleiras.

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