Desde que as expedições e observações na Antártida se tornaram possíveis, é impossível não notar o ambiente dominado por neve, gelo, icebergs e uma paisagem intensamente branca. Sob a superfície da região, há milhares de quilômetros de gelo, que guardam diversos registros da vida pré-histórica na Terra. Mas e se todo esse gelo não existisse?
Apesar de a humanidade só conhecer a Antártida coberta por neve, cientistas já descobriram evidências científicas que esse continente já abrigou árvores, animais e vastas paisagens verdes. Quase não dá para imaginar, né? Mas agora você pode.
Em um estudo recente publicado na revista Scientific Data, uma equipe de pesquisadores do British Antarctic Survey (BAS) produziu um mapa que revela detalhadamente como seria a Antártida sem o gelo.
Cerca de 70% de toda a água doce da Terra está armazenada nas geleiras da Antártida, cuja espessura média do gelo chega a 1,9 quilômetro. Um exemplo impressionante é o Lago Vostok, que está escondido a aproximadamente 4 quilômetros abaixo de uma camada de gelo — essa região está isolada há cerca de 15 milhões de anos.
Nomeado Bedmap3, o mapa desenvolvido por um grupo internacional de cientistas do British Antarctic Survey (BAS) foi criado a partir de dados coletados por satélites, navios, trenós, aviões, entre outros meios.
A partir das informações coletadas, os pesquisadores conseguiram reconstruir os 14 milhões de quilômetros quadrados da região, revelando como seria a Antártida sem a cobertura de gelo e neve que esconde suas partes mais inacessíveis — é estimado que existem cerca de 27 milhões de quilômetros cúbicos de gelo.
Mas por que fazer um mapa da Antártida? O objetivo dos cientistas é entender melhor como o continente reage às mudanças climáticas dos últimos anos. Afinal, se o gelo da região continuar derretendo devido ao aumento das temperaturas, o nível do mar pode subir e afetar diversas áreas ao redor do mundo.
"Esta é a informação fundamental que sustenta os modelos de computador que usamos para investigar como o gelo fluirá pelo continente à medida que as temperaturas aumentam", disse o glaciologista do BAS e principal autor do estudo, Dr. Hamish Pritchard.
Mapa da Antártida sem gelo
O mapa pode ajudar os cientistas a entender melhor como as geleiras se movimentam sobre a superfície da Antártida, além de oferecer uma compreensão mais precisa sobre os efeitos de rios subterrâneos de água quente.
Em outras palavras, o objetivo é investigar a interação entre os processos que ocorrem nas profundezas da Terra e o gelo que cobre o continente.
Os cientistas utilizaram aviões para sobrevoar a região e também recorreram a dados de satélites. Ao todo, foram realizados 277 levantamentos de espessura do gelo, que resultaram em 82 milhões de pontos de dados.

Esses resultados permitiram a criação de um mapa muito mais detalhado do que o anterior produzido pela BAS, com diversas lacunas completamente preenchidas. Por exemplo, uma das lacunas revelou uma região com mais de quatro quilômetros de espessura de gelo.
O novo mapa também trouxe descobertas no Polo Sul, nas Montanhas Transantárticas e nas áreas costeiras. Com a pesquisa concluída, os cientistas calcularam que o volume total de gelo na Antártida é de 27,17 milhões de quilômetros cúbicos — o que representa quase o dobro do tamanho do próprio continente.
Confirmando estudos anteriores sobre o tema, os pesquisadores mostraram que os dados indicam que o nível do mar subiria cerca de 58 metros caso todo o gelo da Antártida derretesse de uma só vez. Em outras palavras, isso teria um impacto devastador, capaz de transformar completamente a sociedade como a conhecemos.
"Imagine despejar xarope sobre um bolo de rocha — todos os caroços, todas as saliências, determinarão para onde o xarope irá e quão rápido. E assim é com a Antártida: algumas cristas segurarão o gelo fluindo; as cavidades e partes lisas são onde esse gelo pode acelerar”, Pritchard acrescenta.
Antártida pode descongelar?
O Bedmap3 é apenas o terceiro mapa já desenvolvido pelo British Antarctic Survey; o primeiro foi publicado em 2001. Esta nova versão reúne mais do que o dobro de pontos de dados em comparação à anterior. Além disso, informações como precisão, altitude, espessura e formato das camadas de gelo foram registradas com muito mais detalhamento.
À medida que o mundo continua a se aquecer, especialistas em clima alertam que o derretimento da Antártida deve impactar cada vez mais a sociedade humana.

Até 2050, estima-se que a Corrente Circumpolar Antártica fique cerca de 20% mais lenta do que é atualmente. Se isso realmente acontecer, pode haver uma redução significativa na biodiversidade marinha e um aumento na presença de espécies.
Esse é apenas um dos efeitos. O derretimento das geleiras pode desencadear uma série de problemas climáticos em escala global, que, por sua vez, gerariam novas consequências — criando um ciclo quase contínuo de impactos.
"Em geral, ficou claro que a camada de gelo da Antártida é mais espessa do que imaginávamos originalmente e tem um volume maior de gelo que está aterrado em um leito rochoso abaixo do nível do mar. Isso coloca o gelo em maior risco de derretimento devido à incursão de água quente do oceano que está ocorrendo nas franjas do continente”, disse outro autor do estudo e cartógrafo do BAS, Peter Fretwell.
Mesmo coberta por uma espessa camada de gelo, a Antártida esconde segredos do passado — e um deles é que esse continente gelado já foi verde e cheio de vida. Quer saber mais? Então aproveite para descobrir o que pode acontecer, se os vulcões da Antártida entrassem em erupção. Até a próxima!
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