Valorant tem tudo para ser uma das maiores febres do ano
Depois de dominar o mundo dos MOBAs com League of Legends e se aventurar pelos jogos de cartas colecionáveis em Legends of Runeterra, a Riot mergulhou de cabeça em sua empreitada mais ousada até agora: Valorant foi lançado exclusivamente para PC no começo de junho disposto a abocanhar a coroa de FPS definitivo e, de quebra, se consolidar como a nova febre dos esports.
Após uma curta fase beta fechada que bateu recordes de streams na Twitch, com ótimo feedback dos jogadores casuais, eAtletas e da crítica especializada, o free to play chegou oficialmente ao mercado com direito a novos mapa, personagem e modo de jogo, além de inúmeras melhorias de estabilidade, correções de bugs e otimização de performance, tornando o que já era bom ainda melhor.
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Um prato familiar...
A base de Valorant deve soar mais do que familiar para quem dedicou algumas horas de sua vida a CS:GO, um dos maiores cases de sucesso dos esports. Duas equipes com cinco jogadores cada se alternam nas posições de defesa e ataque, vencendo quem alcança primeiro 13 pontos totais. Tudo gira em torno de uma bomba, chamada de Spike por aqui: atacantes precisam instalar o artefato na base rival, enquanto os defensores devem impedir a sua detonação a qualquer custo.
Apesar de a movimentação dos agentes ser mais lento do que estamos acostumados, o ritmo das rodadas é eletrizante, pois os conflitos são resolvidos rapidamente e é difícil terminar uma rodada sentindo que seu tempo não valeu a pena. Valorant cria um ambiente de tensão constante, já que você nunca sabe qual é o plano dos rivais, e os tiroteios são pautados pela altíssima letalidade das armas.
Um passo errado fora da segurança das paredes bem na mira do rival? Já era. Basta um movimento em falso e sua participação na rodada chega ao fim, o que deve afastar os jogadores mais casuais ou sem disposição para investir centenas de horas se aperfeiçoando como jogador em uma jornada punitiva ao extremo, já que é preciso ter muito conhecimento dos mapas para não dar mole.
Se você for novo no gênero, é compreensível ficar intimidado com a quantidade de coisas para se aprender logo de cara. São 17 armas diferentes para experimentar, cada uma delas com propriedades únicas, com diferentes recuos, taxas de disparo e dano, além de 11 agentes que também possuem habilidades secundárias e supremas com alto impacto no domínio do mapa. E são justamente os heróis que ajudam a distanciar um pouco Valorant de CS:GO.
O grande diferencial de Valorant são os poderes únicos do agentes em um Tactical ShooterFonte: Riot
...mas com temperinho especial
Se os objetivos e estrutura das partidas foram claramente inspirados em CS:GO, é difícil negar ou esconder o quanto os artistas da Riot também beberam da fonte de Overwatch e do saudoso Team Fortress 2 enquanto decidiam o design e poderes de seus agentes. Mecanicamente, temos exemplos como as flechas de Sova, que remetem diretamente ao arqueiro Hanzo, com direito até a flechas-sonar! Sage, o mais próximo que Valorant chega de um herói de suporte, pode ressuscitar seus aliados ao melhor estilo Mercy.
Esteticamente, Reyna, a mais nova adição ao elenco, não só tem a mesma nacionalidade da hacker Sombra, como compartilha da mesma palheta de cores. E vai dizer que o encapuzado Omen não comprou suas roupas na mesma loja que o Reaper? O curioso é que, apesar de tantas semelhanças, basta começar sua primeira partida para sacar que Valorant não é tão derivativo quanto as primeiras impressões dão a entender.
Isso acontece porque, embora uma parte de suas habilidades funcionem na base de cooldowns, tal qual o hero shooter da Blizzard, o grosso dos poderes foi integrado à janela de compra de armas que aparece no início de cada rodada e ao seu progresso na partida. Isso é muito bom, pois ajuda os embates a ganharem complexidade conforme o tempo passa, e evita uma chuva de poderes na sua cabeça nas primeiras rodadas, quanto todos ainda estão sem recursos e dependem de armas mais simples.
Você precisa ser bem ativo no jogo para poder comprar e usar logo seus melhores poderesFonte: Riot
Para habilitar a sua ult, é preciso participar bastante do jogo, seja colhendo as orbes estrategicamente espalhadas pelo mapa ou conquistando abates, que também rendem um ponto de suprema. Dificilmente você verá partidas repletas de ults sendo disparadas a esmo, pois elas são um recurso escasso muito valioso, capaz de virar totalmente o rumo de uma rodada e te ajuda a conquistar aquele doce Clutch. É essa dinâmica e ritmo único que ajuda a distanciar o FPS da Riot de seus concorrentes.
Mapas simples e com boas ideias
Os mapas de de Valorant também seguem a mesma linha geral de CS:GO, com uma base em cada extremo do cenário e, normalmente, dois pontos nos quais a Spike pode ser plantada. Cada mapa tem ao menos um recurso único que o diferencia das demais, o que foi uma boa sacada por parte da riot. Haven, por exemplo, é o único que tem um terceiro ponto onde é possível detonar a bomba, acrescentando uma camada a mais de planejamento tático.
Jogando no Bind você pode pegar portais de mão única que o levam instantaneamente até outro ponto distante; Split tem cordas escaláveis para cortar caminho e acessar outros andares; e o novo mapa de Ascent possui portais de metal que podem ser manualmente fechadas para obstruir a rota rival.
Além de dominar o mapa, você precisa controlar suas economias e a dos rivais em cada turnoFonte: Riot
No geral, o design dos mapas é competente e objetivo, então sua navegação é clara e não há muitas firulas visuais para distrair o jogador. Só prepare-se para revisitar de novo e de novo nos mesmos cenários, já que não há muitos deles disponíveis por enquanto. Como o jogo acabou de ser lançado, até que dá para passar pano para isso, já que tactical shooters como esse costumam receber inúmeras atualizações com o passar do tempo, e provavelmente seus melhores mapas ainda estão por vir.
Já entre o beta e o lançamento tivemos uma melhoria digna de nota, com o acréscimo do modo Disputa de Spike, que consistem em partidas com ritmo totalmente diferente, normalmente durando pouco menos da metade do tempo de uma partida normal ou ranqueada. Em uma melhor de sete rodadas, todos os agentes têm sua própria Spike, o que torna tudo mais caótico. Não é tão profundo e legal quanto o modo principal, mas é uma boa forma de matar tempo enquanto você espera o resto do seu squad chegar para jogar as partidas normais.
Questão de economia
Como todo free to play que se preza, Valorant é gratuito para baixar, mas possui microtransações internas para motivar os jogadores a gastarem seu suado dinheirinho. O sistema não é muito invasivo e, felizmente, não há qualquer espécie de pay to win, já que todos os destravamentos são cosméticos, consistindo em belas skins de armas, sprays para tirar onda durante as partidas, ou banners para ostentar em seu perfil.
Quando você começa sua jornada, só é possível jogar com cinco dos 11 agentes, mas você vai destrancar outros dois gratuitamente rapidinho através da progressão natural de níveis. Depois disso, é preciso cumprir contratos próprios de cada personagem, uma série de missões que consomem um bom tempo, ou então gastar dinheiro real para habilitá-los imediatamente.
Valorant tem um farto arsenal de armas para você dominar. Experimente todas!Fonte: Riot
Os menus internos não são particularmente intuitivos, e é fácil bater um pouco de cabeça até se acostumar a navegar por lá. Adicionar amigos, formar grupos, trocar skins e entender a economia do jogo não são coisas tão claras quanto deveriam nas primeiras horas. Há duas moedas correntes virtuais: os Valorant Points, obtidos só com dinheiro real, e os Radianite Points.
Tudo fica ainda mais confuso com um Passe de Batalha bem escondido entre os menus. Ele possui uma trilha grátis para todos os jogadores, e outra paga, para quem quiser ainda mais recompensas. Se você considerar que o jogo tem duas moedas correntes, menus pouco intuitivos, missões de contrato que precisam ser manualmente ativados e uma loja com estoque cíclico de skins, dá para entender como a comunicação poderia fluir um pouco melhor nesse departamento.
Problemas na comunidade
Quem já desbravou os mares inóspitos do chat público de League of Legends deve saber bem que a comunidade de jogadores da Riot não é exatamente formada pelos jogadores mais maduros ou bem educados do mundo e, infelizmente, as primeiras semanas de jogo mostram que Valorant periga trilhar o mesmo caminho, a despeito do compromisso público da desenvolvedora para atuar mais firme contra os sem-noção.
Encontrar jogos é muito rápido, mas também é comum esbarrar com jogadores tóxicosFonte: Riot
Há ferramentas internas para reportar jogadores tóxicos, mas infelizmente a Riot não consegue banir adequadamente quem comete racismo, machismo e outros crimes virtuais, demorando demais para atender às denúncias da comunidade. Isso cria um ambiente inóspito para minorias, como uma rápida pesquisa em redes sociais pode mostrar a qualquer um com um mínimo de empatia.
Como o jogo é extremamente dependente do chat por voz para que a sua equipe possa receber as melhores informações, é lamentável saber que apenas uma pequena parte dos jogadores está disposta a ajudar o próximo ou criar um ambiente acolhedor para todos. Até que isso seja resolvido, jogar com o chat de voz ligado pode gerar uma experiência terrível.
O que é uma pena, já que, de resto, a Riot fez um ótimo trabalho com seus servidores, cujas partidas sempre acontecem com baixa latência para todos os jogadores. Em um jogo tão preciso e letal, é essencial que o ping nunca suba, e a Riot fez um maravilhoso trabalho técnico ao garantir que todas as disputas sejam o mais justas possível.
Veredito
Valorant começou sua jornada cheio de potencial, com um bom elenco de personagens e ampla variedade de armas e poderes balanceados. O forte investimento que a Riot fez em marketing fortaleceu sua cena casual e profissional na mesma medida e, se a empresa conseguir manter um bom fluxo de atualizações atraentes, é de se esperar que seu FPS continue nos holofotes por anos a fio. Por enquanto, seus poucos pontos fracos são a curva de aprendizado íngreme demais, a pequena variedade de mapas, e a frequente toxicidade da comunidade. Com um pouco de esforço, o jogo tem tudo para virar referência e se tornar um dos maiores esports da geração.
Valorant é gratuito e tivemos acesso antecipado ao game graças à Riot Games.
- Boa variedade de agentes e poderes
- Partidas tensas, divertidas e equilibradas
- Tiros muito precisos; é legal estudar as armas
- Baixa latência nos servidores
- Microtransações limitadas a cosméticos
- Inspirado um tantinho demais em CS:GO e Overwatch
- Alta toxicidade da comunidade
- Poucos mapas por enquanto
- Menus pouco intuitivos
Nota do Voxel