Imagem de Gran Turismo Sport
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Gran Turismo Sport

Nota do Voxel
70

Gran Turismo Sport: Você não é mais o mesmo, GT...

Vinte anos... Quem diria, Gran Turismo. Você fez parte de boa parte da minha infância e da minha adolescência, dá até pra dizer que crescemos juntos. Devo muito do meu gosto pelos games de corrida à você, que agora volta pela sétima vez na minha vida. Faz tempo desde a última vez que nos vimos – quatro anos, para ser mais exato. Você mudou, GT. Mudou bastante.

Acho engraçado você ter adotado essa alcunha de “Gran Turismo Sport”. Parece sério, mas será que isso não aconteceu apenas pra você esconder algo? Devo dizer que, depois desse tempo que passamos juntos na última semana, você é inconstante: em alguns momentos é muito legal estar com você, mas em outros é simplesmente um saco.

Essa sua mania besta de querer que eu esteja constantemente conectado à internet, essa experiência offline extremamente rasa e repetitiva, esses conteúdos completamente randômicos e desnecessários como o “Museu”... Não sei. A impressão que tenho é que você está sofrendo com um conflito de personalidade em que, sabendo que precisa se reinventar, também não consegue se desprender do passado para não perder sua base de fãs cativos.

Na verdade, senhor “Gran Turismo Sport”, depois de 20 anos nossa relação está por um fio – e agora eu vou explicar o porquê.

Beleza não basta, Gran Turismo

Uma das coisas que eu sempre soube a seu respeito é que você voltaria mais bonito do que nunca. A equipe responsável pela sua parte visual continua sendo uma das melhores do gênero, sem qualquer dúvida, por conseguir recriar veículos em um nível obsceno de detalhes.

As pistas, tanto as que são réplicas virtuais de localidades reais quanto as criações originais, também estão belíssimas e com uma riqueza de detalhes simplesmente espetacular. Durante o gameplay, há de se dizer, você até que parece normal, com um ou outro serrilhadinho, mas basta dedicar algum tempo para apreciar os detalhes que você realmente mostra sua beleza.

GT sport

Onde você realmente surpreende, no entanto, é nos replays. O pós-processamento e o uso mais pesado de anti-aliasing faz com que a experiência de rever minhas corridas seja algo simplesmente inacreditável, que em muito momentos borra a linha entre o virtual e o real, tamanho o fotorrealismo alcançado pela combinação de ótimos gráficos, efeitos de iluminação bem aplicados (embora inconstantes, mas já falo sobre isso) e o uso de motion blur na medida certa – era o mínimo que eu esperava de você e devo admitir que foi um dos maiores acertos.

É claro que, como comentei, você dá umas derrapadinhas: o serrilhado já citado durante o gameplay e inconstância na aplicação dos efeitos de iluminação, com placas em neon que não refletem e coisas do tipo, chamam a atenção de vez em quando. A câmera externa também precisa de ajustes para ficar mais fluida, visto que a configuração padrão deixa tudo muito quadrado no que diz respeito à movimentação.

Ainda assim, você volta como o mais belo game de corrida da atualidade – em uma disputa ferrenha com seu principal concorrente, o Forza Motorsport 7, que apresenta uma experiência muito mais cinematográfica, mas que não chega a fazer com que eu duvide do que meus olhos estão vendo (por muito pouco, diga-se).

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Esse desempenho, no entanto, cobra seu preço no PS4 normal: embora você consiga manter os 60 frames por segundo em 1080p na maior parte do tempo, existem momentos em que as quedas são perceptíveis. No Pro, por outro lado, a experiência é mais estável – e mais bonita também, já que existe a opção de priorizar os gráficos e isso elimina um pouco dos serrilhados mais perceptíveis durante o gameplay.

Ainda assim, Gran Turismo... Beleza não é tudo: é preciso ter conteúdo

Embora seja possível definir o período em que as corridas vão acontecer em alguns modos, não há clima dinâmico e nem progressão de tempo. A chuva ainda não deu as caras, com o mais próximo disso sendo a superfície molhada em alguns desafios de missão.

Outros detalhes, no entanto, chamam bastante a atenção e contribuem para uma experiência visual mais agradável: os fiscais de prova na beira da pista, as equipes comemorando no muro dos boxes ao fim de algumas corridas e as animações nos boxes foram sacadas muito bacanas.

Ainda assim, Gran Turismo... Beleza não é tudo: é preciso ter conteúdo.

Você não soa mais como um liquidificador (pelo menos não sempre)

Se teve uma coisa que eu não pude deixar de notar, GT, é que você está soando bem melhor do que da última vez que nos vimos. O grunhido digitalizado e horrível deu lugar a sons de motores mais condizentes na maior parte dos veículos que você trouxe, mas, como a experiência geral, você ainda é inconsistente.

Enquanto o som do Miata ainda me faz torcer o nariz e duvidar das suas intenções, o rugido do motor V8 do Corvette e do Jaguar F-Type, por exemplo, me fizeram esboçar um sorriso sincero diversas vezes. Os efeitos que acompanham o som dos motores, com as embaralhadas nas reduzidas e também as trocas de marcha, ajudam bastante a ter uma percepção melhor.

Embora o avanço do seu som em relação aos títulos anteriores tenha sido evidente, você ainda sofre para chegar ao nível dos seus principais concorrentes, GT. A tentativa de melhorar é louvável, mas você precisa se esforçar mais para chegar lá.

Embora o avanço do seu som em relação aos títulos anteriores tenha sido evidente, você ainda sofre para chegar ao nível dos seus principais concorrentes

Os demais efeitos, como o dos pneus gritando em busca de aderência nas curvas ou a suspensão trabalhando ao passar nas zebras, estão bons e acompanham o nível de qualidade do resto do trabalho.

Uma das coisas que me chamou a atenção, no entanto, foi a falta de orientação espacial desses sons todos. Mudar da câmera externa para a câmera interna nos carros preparados para competição, por exemplo, significa apenas ganhar o assovio pronunciado das engrenagens da transmissão direta e seu câmbio sequencial, com o som do motor sendo praticamente o mesmo de fora – o que mostra que, apesar das boas intenções, você ainda vacila na aplicação prática das mudanças.

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A sua trilha sonora, no entanto, continua impecável e dita muito bem o clima da experiência, com uma boa combinação de músicas de gêneros diferentes. Isso ajuda bastante a complementar o que pode ser visto na tela.

No geral, é inegável que você evoluiu e isso deve ser reconhecido e admirado – mesmo ficando para trás quando comparado com seus concorrentes.

No controle, você ainda é um Gran Turismo

Não me leve a mal, Gran Turismo Sport, mas dizer que você ainda é um GT pela sua jogabilidade não é necessariamente um elogio. Isso porque, com o surgimento de tantos outros títulos bons de corrida no subgênero simcade e simuladores em geral, a impressão que se tem é que sua física é, na falta de uma palavra melhor, estranha.

Explico: a sensação é que todos os carros, principalmente os de competição (que são o foco aqui), mesmo com o controle de estabilidade e outras coisas desligadas, sofrem com um “efeito solo” permanente.

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É como se existisse uma força mágica que os mantém presos ao asfalto e que não vem, necessariamente, de uma pressão aerodinâmica ou como resultado da fricção entre os pneus e a pista. Diga-se de passagem, a noção de “grip” que você passa é quase ínfima: definir o limite entre estar com aderência e não ter absolutamente nenhum controle é tênue ao nível de se tornar quase impeditivo desligar o controle de tração.

Definir o limite entre estar com aderência e não ter absolutamente nenhum controle é tênue ao nível de se tornar quase impeditivo desligar o controle de tração

Claro que nem tudo é culpa sua: a ausência de vibração nos gatilhos, um indicador físico que ajuda bastante a ter controle sobre esse aspecto, é uma limitação de hardware que você não tem qualquer culpa.

Ainda assim, a impressão que se tem é que os carros, com exceção de quando se usa compostos macios, estão com rodas de plástico e que a única coisa que os mantém no trilho é essa força sobrenatural. É como se “modelagem de pneus” fosse algo inexistente no seu desenvolvimento.

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Vale ressaltar que isso também continua causando estranheza na forma como os carros se comportam. Com exceção dos veículos de rua em alguns casos, há a sensação de que todo movimento é duro demais, não existe aquele “molejo” de torção de carroceria e trabalho de suspensão.

Andar nas superfícies de pouca aderência é um exercício constante de paciência

Um dos meus pontos mais críticos em relação a você, no entanto, GT, é sobre o comportamento dos carros de rally: é como se você tivesse ido às aulas de física na escola e só tivesse aprendido sobre força centrífuga e inércia e faltado a tudo que existe sobre fricção e atrito. É mais uma amostra de como a experiência com você é inconstante.

Andar nas superfícies de pouca aderência é um exercício constante de paciência – e olha que mesmo assim eu insisti e consegui ouro em todas as provas que você colocou diante de mim nessa situação.

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O balanço sobre a sua jogabilidade, no fim, é que não é que seja ruim, só é diferente – e é claro que, depois de passar algum tempo juntos, tudo ficou mais natural e eu até gostei em diversos momentos (como nos velhos tempos), mas também passei raiva. Não tive a oportunidade de te testar com um volante, mas imagino que a sensação esteja bem melhor – não tenho como afirmar com certeza.

Agora, a parte realmente ruim

Então, Gran Turismo... Senta aí. Agora a gente vai entrar na parte embaçada dessa conversa. Se você consegue segurar as pontas com os gráficos, com a melhoria no som e com a jogabilidade que vai bem na maior parte do tempo, é como eu disse lá em cima: é preciso ter conteúdo – e é aí que você pisa na bola. Feio.

É aqui que sua confusão mental sobre o que você quer ser fica mais evidente: embora você queira se repaginar e se apresentar como um game voltado para a parte competitiva, você não consegue se desprender do seu passado.

Isso não seria ruim se você escolhesse a parte legal do seu passado, que fez você se tornar, sabe, o Gran Turismo. Mas você preferiu pegar a parte chata e inútil – o que é meio revoltante.

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Começando pela parte do conteúdo single player: é possível participar do “Escola de Pilotagem”, dos “Desafios de Missão” e das “Experiências de Circuito” como parte da campanha propriamente dita. O problema é que, quando o conteúdo (que é pouco) não é muito similar entre os três, ele é simplesmente desnecessário.

As primeiras lições, que consistem em só acelerar em linha reta ou desviar de um objeto, são absolutamente descartáveis

Um exemplo claro disso é a maior parte do que está disponível na escola de pilotagem. As primeiras lições, que consistem em só acelerar em linha reta ou desviar de um objeto, são absolutamente descartáveis porque se trata do conceito mais básico de qualquer jogo de corrida e em nada contribuem para o que é efetivamente poderia contribuir para o pilar principal do game que é a corrida competitiva online.

Diga-se de passagem, se apenas os Desafios de Missão e a Experiências de Circuito existissem, seria algo que faria muito mais sentido. Os desafios por oferecerem algum tipo de gameplay objetivo e corridas de forma geral e as experiências de circuito por ensinarem o que contribuiu em 80% para que o jogador seja mais rápido: conhecer a pista.

Galeria 1

As dicas que são dadas para cada setor, de referências de frenagem à forma como as curvas devem ser feitas, são extremamente valiosas e podem contribuir de forma efetiva – ao contrário do que acontece com a escola de pilotagem, que ensina o que deveria ser intuitivo em jogos do gênero, como acelerar e frear.

Mais do que isso, você precisa se decidir: o jogo é feito para quem é extremamente casual ou para quem já está habituado com jogos de corrida, de alguma forma? Porque nada faz sentido: a pessoa que precisa aprender a apertar um botão para acelerar não vai conseguir aproveitar a parte competitiva, enquanto quem já está preparado para a parte “Sport” não vai aproveitar absolutamente nada de algo tão primário, repetitivo e cansativo.

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Se não bastasse, esse conteúdo é curto, com duração em torno de no máximo 20 horas. Para piorar, se eu estiver offline, você simplesmente não vai me deixar jogar a menos que seja o modo arcade. O problema aqui é que, se tudo isso fosse retirado, o jogador ficaria com ainda menos coisas pra fazer.

As recompensas por completar o que está disponível vem na forma de créditos, para compra de veículos, e milhas, que podem ser trocadas por itens de vestuário, adesivos, rodas e até mesmo carros raros. Ainda assim, você é generoso ao ceder carros com certa facilidade – ainda que, no modo Sport, não seja realmente necessário usá-los.

Para fechar um dos aspectos mais frustrantes do que você oferece, Gran Turismo Sport, está o fato de que no modo offline eu tenho que lidar com uma inteligência artificial que evoluiu a passos de formiga desde seu primeiro título.

Os carros controlados pela IA ainda andam em fila indiana na maior parte do tempo e oferecem pouca ou nenhuma resistência à ultrapassagem. Não é nada orgânico e, depois de um tempo, tudo se torna um exercício mecânico e repetitivo de ultrapassar carros na pista que mais parecem obstáculos do que adversários. Mas, hey, seu foco é no online, certo?

O que você quer ser, Gran Turismo?

Como eu disse anteriormente, você sofre de uma crise de identidade grave, Gran Turismo. Embora você queira se repaginar com o foco na competitividade online, você não consegue se desprender do seu passado, seja por preciosismo ou pelo motivo que seja.

Embora você queira se repaginar com o foco na competitividade online, você não consegue se desprender do seu passado, seja por preciosismo ou pelo motivo que seja

A maior evidência disso é o tal “Museu”, que consiste em nada mais do que um conjunto de slides que já foi apelidado de “modo PowerPoint”. Enquanto existe uma parte que, sim, oferece informações sobre as marcas, existe toda uma área dedicada à fatos históricos randômicos, como o lançamento de “Wannabe” das Spice Girls, o primeiro disco da Bjork, a clonagem da ovelha Dolly ou Donald Trump assumindo a presidência dos EUA.

Sério, quem teve A BRILHANTE IDEIA de direcionar esforço para desenvolver isso de forma consciente em vez de produzir, sei lá, mais alguns modos de corrida offline!? Ou quem sabe criar mais pistas? Ou carros, talvez? Ou um lugar para usar esses veículos, já que no principal modo do jogo, na maioria das vezes, eu sou forçado a usar um veículo “emprestado” e não um que eu tenha na garagem?

GT sport

Eu trocaria a história da Porsche ou de qualquer marca no jogo por mais formas de jogá-lo, visto que é pra isso que um jogo serve. Se eu quiser aprender sobre as marcas, existe algo na internet (a mesma que você julga obrigatória para que eu possa acessar parte do seu conteúdo) chamado Wikipedia e Google, que podem ensinar de forma mais eficiente e melhor – e, mais importante, quando eu não estiver ávido por me entreter com um título que mais parece querer ser mais uma enciclopédia do que um jogo.

É esse tipo de coisa que me faz perder a paciência com você, GT. É ver que os responsáveis pelo seu desenvolvimento tiveram QUATRO ANOS para fazer um bom trabalho e aparecem com um conteúdo single player limitado, repetitivo e outras coisas inúteis e completamente desnecessárias.

Fechando o pacote de coisas que poderiam ter sido deixadas de lado para aumentar o recheio, está o modo Scapes: embora os fotógrafos de plantão possam se regozijar com fotos em 4k nas quais é possível colocar seu carro e tirar fotos com fundo falso nos mais diversos lugares do mundo, mais uma vez é difícil aceitar que houve esforço de desenvolvimento em uma função que em nada agrega o cerne do jogo.

Mesmo assim você afirma que você quer ser uma referência na competição online, com campeonatos sancionados pela FIA e tudo mais, mas não tem coragem pra deixar toda essa bagagem inútil de lado e focar no que realmente interessa.

O que realmente importa: carros e pistas

Sabe, Gran Turismo, uma coisa eu preciso admitir: a capacidade da Polyphony Digital em criar pistas próprias de qualidade é superior a dos concorrentes. Correr em Lake Maggiori traz à lembrança a pista de Algarve, enquanto Dragon Tail tem uma combinação bacana de curvas e de variação de altitude.

Ainda assim, 17 localidades totais e apenas 6 delas sendo circuitos reais é muito pouco, mesmo que você seja o único jogo de corrida da atualidade a oferecer Interlagos nos consoles – o que certamente é bom pra fazer uma média com seus fãs brasileiros, mas está longe de ser o suficiente.

É muito legal ter a oportunidade de ver diversos carros convertidos de forma brilhante para as especificações de categorias existentes, como a GT3, mesmo que eles não participem delas na realidade

Sua lista de carros, apesar dos pesares, não está totalmente ruim: são 163 veículos disponíveis e alguns deles nem precisavam estar lá (estou falando de você, Daihatsu Copen). Mas não vou ser injusto também: é muito legal ter a oportunidade de ver diversos carros convertidos de forma brilhante para as especificações de categorias existentes, como a GT3, mesmo que eles não participem delas na realidade.

É claro que isso serve para inflar um pouco o número total de veículos, visto que muitos são apenas variantes do mesmo carro para diferentes categorias. No entanto, levando em consideração a sua afirmação de que seu foco está na competição (apesar de muita coisa apontar o contrário), isso é até entendível.

O que não dá pra entender é que seu criador, Kazunori Yamauchi, já afirmou que quer trazer mais carros antigos. Tá vendo como você não se decide se quer ser um jogo novo ou uma versão mais pobre e podre do que você já foi?

Aliás, esse é um bom momento para falar do “novo eu” que você tanto vem batendo na tecla.

Modo Sport: um tiro certo no escuro

Vamos ignorar por um instante a total falta de foco do time de desenvolvimento da Polyphony Digital e falar um pouco do que deve ser o seu principal pilar de sustentação: o modo Sport. A intenção é bacana: um modo online competitivo que oferece campeonatos com especificações bem definidas, sessões com hora marcada e um sistema de classificação de “bons modos” e performance do piloto.

Pela primeira vez é possível ver que você, Gran Turismo, saiu da bolha em que vive e se espelhou em um formato que funciona muito bem em títulos como iRacing, por exemplo

Pela primeira vez é possível ver que você, Gran Turismo, saiu da bolha em que vive e se espelhou em um formato que funciona muito bem em títulos como iRacing, por exemplo. É legal ter a oportunidade de fazer um treino classificatório antes de entrar na pista para correr.

GT Sport

Mas aqui você não se salva de alguns detalhes também: a experiência, talvez por estarmos no começo, é muito rasa. As corridas são bem curtas e, por só existirem três lobbies no início, tudo pode se tornar enjoativo bem rápido. Por outro lado, a ideia da Copa das Nações, em que será possível defender um país, ou a Copa de Marcas, que permitirá defender a minha marca favorita, são bem legais – confesso que defender a Porsche, mesmo que virtualmente, é algo que pode ser bastante empolgante.

Ainda não apareceram corridas mais extensas que tornam obrigatória a parada nos boxes – algo que faria um aproveitamento muito melhor da excelente mecânica de pitstop e das animações que foram feitas para isso.

Uma adição bacana foi a possibilidade de aplicar pinturas personalizadas nos veículos, na linha do que já se vê há algum tempo em seu principal concorrente, e que ajuda a dar personalidade à competição online. Isso se estende ao capacete e ao macacão do seu piloto e tudo pode ser compartilhado online – uma função que demorou, mas que é muito bem-vinda.

GT sport

Para fechar, a mecânica de classificação pode ser abusada: como ela classifica se o setor do jogador foi limpo ou sujo (caso aconteça algum contato ou saída de pista), nada te impede de jogar um amiguinho pra lá de Goiás numa freada tardia, contanto que você mantenha o resto da volta limpo.

No geral, o modo Sport, apesar de ainda estar dando seus primeiros passos, tem muito potencial para se tornar algo grande em termos de competição online no gênero de corrida.

É uma pena que seja algo bom envolto em uma porção de coisas sem sentido: para poder participar das competições, é obrigatório assistir dois vídeos, um com instruções sobre “sportmanship” e outro com exemplos do que é ser um completo imbecil na pista – e eu fiquei me perguntando sobre como a “escola de direção” lá do modo campanha poderia ter sido melhor utilizada, mais uma vez, para que eu pudesse jogar em vez de ficar olhando pra tela.

Cadê o Lewis Hamilton, Gran Turismo Sport?

Antes de seguir para o encerramento dessa carta-análise sobre a nossa relação, GT Sport, eu preciso apontar algo grave: você mente. O caso mais evidente é sobre usar o nome de Lewis Hamilton como “O Maestro”, apenas para que seja possível constar que o piloto da F1 aparece no seu infame modo “Museu” e em outra ocasião isolada na campanha.

Agora sim, vamos encerrar...

Um gigante em decadência

Gran Turismo Sport falha não pelo que é, mas pelo o que poderia ser. É um jogo bom, bonito e que soa muito melhor que seus antepassados, mas que é extremamente limitado e dependente de um futuro incerto no ambiente competitivo online – além de ser inconstante em vários aspectos.

É frustrante, irritante e triste ver o que Gran Turismo se tornou. GT Sport teria sido um ótimo título para o início da geração e possivelmente uma fundação bastante sólida para um Gran Turismo 7 ainda nesta geração.

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O jogo por si só não é ruim, mas quando se coloca na balança o que foi entregue depois de quatro anos de desenvolvimento, o resultado é, no mínimo, vergonhoso – ainda mais quando os desenvolvedores afirmam que o conteúdo será melhorado mais pra frente com DLCs, como se não tivessem tido tempo suficiente.

A Polyphony Digital parece ter se acomodado de uma forma assustadora por conta do sucesso estrondoso dos quatro primeiros títulos da franquia e simplesmente parou no tempo – e as pequenas reações esboçadas em Gran Turismo Sport parecem pequenas demais para despertar a fé de que um dia a série possa voltar a ser o que já foi.

No fim das contas, parece que todo o pretexto de focar na competição online pareceu mais uma desculpa para entregar um jogo incompleto e sem foco. É um game que, apesar de acertar cirurgicamente no que faz bem, erra em uma proporção muito maior e tem esses erros agravados pelo contexto de seu desenvolvimento.

Para quem é dono de um PlayStation 4 hoje, não existem muitas escolhas a não ser reajustar as expectativas, aceitar o que se tem e torcer para que o futuro seja mais generoso com uma das maiores franquias da história dos vídeo games – e, mesmo assim, a ideia de que serão necessárias atualizações para melhorar um jogo que levou tanto tempo para ficar pronto agrava o fato de que há muita coisa faltando em seu lançamento.

E quanto à nossa relação, Gran Turismo... Acho melhor que cada um siga seu caminho. Vai ser melhor pra nós dois.

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Pontos Positivos
  • Gráficos trazem um fotorrealismo impressionante
  • Evolução evidente na parte sonora, ainda que com algumas exceções
  • Modo "Experiências de Circuito" ajudam o jogador a ser mais rápido
  • Modo Sport tem grande potencial, mas precisa ser mais variado
Pontos Negativos
  • Pouca quantidade de carros e pistas
  • Experiência single player extremamente rasa e bastante limitada
  • Exigência de conexão para ter acesso a um conteúdo offline já limitado
  • O "Museu" é completamente desnecessário no contexto do game
  • Modo "Scapes" é legal, mas agrega muito pouco à experiência
  • Falta de foco na definição de qual é o propósito definitivo do jogo