Coluna: fácil acesso aos jogos. Realmente queremos isso?

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Desde que os ditos “jogos de video game” passaram por uma segmentação mais ampla, dois mercados principais foram formados. O primeiro deles diz respeito aos títulos que são lançados para os consoles de mesa, atualmente compostos pelas plataformas da Microsoft, Sony e Nintendo, contando também com alguns dispositivos portáteis e outros mais antigos, que ainda existem, mas que não fazem parte do mercado de jogos novos.

A segunda divisão de jogadores são os que utilizam os games lançados para PC. Mesmo que não se tratem de títulos exclusivos, a jogatina dos computadores é, em geral, bastante diferenciada da encontrada nos consoles, principalmente devido ao grande poderio de processamento dos hardwares.

Fonte: Reprodução/Tecmundo
Mais do que isso, quem é usuário fiel dos PCs conta com uma enormidade de conceitos diferenciados, tanto no preço dos jogos quanto na utilização de redes comuns a todos os gamers — como é o caso do Steam, Origin e mesmo a loja brasileira Nuuvem. Essas particularidades inevitavelmente criam um nicho de pessoas, que acabam se distanciando um pouco dos demais gamers simplesmente pela questão da falta de alcance (e de compreensão) de quem não faz parte do meio.

No entanto, esse grupo de jogadores de PC tem uma certa dificuldade de aceitação quanto a estrangeiros. Não é fácil o processo de “abertura dos portos às nações amigas”, até porque será que os novos participantes do meio serão mesmo amigos?

Mais acesso, mais jogadores, mais... Problemas?

Em outubro deste ano, o Tecmundo noticiou que o Steam — o maior vendedor online de jogos do mundo— divulgou oficialmente que o serviço UOL BoaCompra foi o escolhido pela Valve para intermediar as transações utilizando o real para o público brasileiro. Assim, além de pagamento por cartão de crédito, será possível comprar games por boleto bancário, transferência de valores ou depósito em conta.

Fonte: Divulgação/Steam
De acordo com Mark Richardson, diretor do Steam, a novidade vem em resposta aos pedidos dos fãs do Brasil. No entanto, assim que essa notícia começou a repercutir, o que pudemos notar nas redes sociais foram pessoas satirizando o fato — como ele se tratasse — de uma “orkutização” do Steam.

Será que a acessibilidade mais democratizada, o que gera às pessoas com menos escolaridade ou menor poder aquisito acesso a mais games vai realmente prejudicar o funcionamento do sistema? Para os nichos mais fechados de jogadores, nota-se que a popularização do Steam foi encarada como uma espécie de “invasão do mundinho cercado dos jogos online”.

Igualdade para poucos

A cúpula de jogadores do mundo online cultiva um pouco de preconceito em relação aos jogadores brasileiros em geral. Uma das principais razões disso é a mesma que faz com que vários servidores de jogos online no mundo não aceitem jogadores brazucas: a falta de respeito às regras e a vaga noção de companheirismo.

Fonte: Reprodução/FórumDofus
A adaptação dos gamers brasileiros a jogos massivos online é um pouco difícil, a começar pela estranheza com o idioma “oficial” utilizado, que é o inglês. Em vez da maioria dos participantes procurarem se adaptar aos costumes locais do mundo de cada jogo, é mais fácil encontrar uma comunidade isolada de brasileiros, com pouca receptividade aos demais colegas de jogo.

Tirando essa falta de boa vontade, ainda temos que reconhecer que é muito mais fácil vermos um gamer contendo “Br” no nickname cometendo alguma contravenção do que os demais users. Por que nossos conterrâneos têm dificuldade de aceitar a participação em missões coletivas e na preferência por coletar recursos em vez de de furtá-los? É só lembrar o que acontecia em Tíbia...

Reivindicações e arrependimentos

Desde que adquirimos o direito de liberdade de expressão em nosso país, fazemos questão de reivindicar acesso mais barato à internet rápida, com a distribuição mais democrática de banda larga. Também faz parte do pacote de desejos sociais o acesso universal a jogos, desde que possamos pagar um preço mínimo — ou pelo menos que seja menos abusivo.

Mas o que acontece é que, quando nós conseguimos entrar nesse claustrofóbico mundinho de acessibilidade digital, queremos que isso continue confortável somente para nós mesmos. A exemplo do que houve em Team Fortress, assim que o título se tornou de graça para jogar, nutrimos inúmeras ressalvas quanto à popularização de jogos que gostamos.

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Com mais pessoas jogando, teremos servidores mais cheios e maior número de jogadores distribuídos nas 24 horas do dia. Isso implica dizer que você pode começar a jogar meia noite ou meio dia, que a chance de arrumar um bom número de colegas jogando é bastante parecido.

O problema é que esse inchaço de gamers nem sempre segue uma premissa de organização e ordem. Há aqueles que chegam para somar força, mas, também, há quem simplesmente não se importe com as regras e promova confusões nos servers. Com isso, a exclusividade que tínhamos anteriormente é deixada de lado e um grande ponto negativo surge: a falta de regularidade na qualidade dos jogos.

Colocando o sentimento de iconoclastia de lado — aquele no qual você gosta de uma coisa, mas ela perde toda a graça quando fica famosa —, será que a maior acessibilidade vale a pena? Nós realmente queremos isso?

Dividir para governar

Claro que nós queremos acessibilidade. O acesso aos games deveria ser um direito a toda a população. Todos que estiverem interessados podem (e devem) correr atrás dos jogos de computador para poder desfrutar experiências ótimas, como as promoções que o Steam realiza em datas comemorativas.


A solução para não deixar que a qualidade dos servidores diminua é a “segregar” novamente o público, de acordo com o gênero de preferência e com as regras mais rígidas de cada servidor. E não se trata de nenhum tipo de preconceito e sim de uma união feita por interesse comum.

O melhor exemplo disso é o modo “Rush” de Battlefield 3, no qual os jogadores devem colocar bombas em uma parte do cenário, protegê-las para que elas explodam e uma nova parte do mapa seja liberada. A única maneira de vencer no jogo é com o esforço coletivo das partes, pois, caso isso não seja feito, é praticamente impossível desbloquear os outros níveis de cada fase.


O próprio modo do jogo obriga que os jogadores sigam uma determinada conduta. Outra solução é agir como a Treyarch em Call of Duty: Black Ops 2 e compilar um livro inteiro de regras. Caso os gamers fujam do estilo da jogatina convencional, eles serão punidos com severidade e podem até ser banidos para sempre do jogo.

Somos amigos!

Para concluir, quem é que não gosta de pagar pouco por um bom jogo e que seus amigos também consigam adquirir as mesmas obras pelo mesmo baixo custo? Então, podemos concluir que nós realmente queremos jogos mais acessíveis tanto no que diz respeito ao preço quanto à presença brasileira nos servidores.

No mais, basta cada um de nós fazer a nossa parte em termos de educação e de responsabilidade, que em pouco tempo o Brasil seja uma das grandes potências mundiais no mundo dos games! Como diria um famoso contribuidor da sociedade: “O poder é de vocês!”

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