Que fim levou o Flogão? A rede social era a versão brasileira do Fotolog

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Imagem: Facebook.com/Flogao/Reprodução

Publicar fotos na internet no início dos anos 2000 não era tão fácil quanto agora, devido à pouca quantidade de sites que ofereciam esta funcionalidade e à lentidão da conexão, entre outros fatores. Antes das redes sociais como conhecemos, o Flogão era uma das plataformas que disponibilizavam tal recurso.

Lançado em 2004 pelo programador Cristiano Costa, o serviço de compartilhamento de imagens nasceu como uma versão brasileira do Fotolog, que começou a fazer sucesso dois anos antes. E não demorou para que ele ganhasse fama entre as pessoas à procura de uma página para compartilhar suas fotos.

As fotos publicadas no Flogão eram registradas nas antigas câmeras digitais, em sua maioria. (Imagem: Getty Images)As fotos publicadas no Flogão eram registradas nas antigas câmeras digitais, em sua maioria. (Imagem: Getty Images)Fonte:  Getty Images/Reprodução 

Entre os diferenciais para atrair mais usuários, vale destacar a ausência de limite de criação de contas e postagem de fotos. Enquanto o serviço norte-americano permitia apenas 500 novos perfis e uma imagem por dia na modalidade gratuita, a plataforma nacional não apresentava restrições.

A possibilidade de compartilhar fotos livremente colocava o site até mesmo à frente do Orkut, que inicialmente liberava 12 fotos por pessoa, sendo necessário apagar uma delas para colocar outra ao atingir o limite.

Além disso, o Flogão permitia personalizar o plano de fundo do perfil, usar GIF como foto principal e adicionar música.

Como funcionava o Flogão?

O Windows XP era o sistema operacional mais popular no auge do Flogão. (Imagem: Getty Images)O Windows XP era o sistema operacional mais popular no auge do Flogão. (Imagem: Getty Images)Fonte:  Getty Images/Reprodução 

Usando o slogan “O Fotolog do seu jeito”, por causa da personalização, a versão brasileira funcionava de forma semelhante à original. Bastava criar uma conta, transferir as fotos da câmera digital para o computador e fazer o upload no site, processo que poderia ser demorado, pois a internet discada predominava no início da plataforma.

A imagem normalmente era publicada junto com uma descrição e a postagem recebia comentários, facilitando a interação entre os usuários. Também era possível seguir outros perfis e havia comunidades reunindo pessoas com interesses em comum, como fãs de bandas, futebol ou games.

Ou seja, o Flogão era uma rede social do início dos anos 2000, uma espécie de “ancestral do Instagram”, da mesma forma que o Fotolog. A plataforma nacional atingiu seu auge entre 2007 e 2008, quando alcançou 7 milhões de usuários ativos e 25 milhões de acessos mensais.

Com a popularidade, o site chamou a atenção de investidores e chegou a ser vendido para a startup Power.com em 2007. Porém, o negócio foi desfeito quatro anos depois e voltou a pertencer ao seu criador, Cristiano, no período em que o Orkut já surgia como a rede social preferida dos brasileiros.

Reduto de fãs de caminhões e do jogo Tibia

Conteúdos sobre caminhões dominaram o Flogão em seus momentos finais. (Imagem: Getty Images)Conteúdos sobre caminhões dominaram o Flogão em seus momentos finais. (Imagem: Getty Images)Fonte:  Getty Images/Reprodução 

O Flogão passou a ter a concorrência cada vez maior do Orkut e do Facebook, que ganhavam novas funcionalidades de maneira recorrente e começavam a se adaptar aos dispositivos móveis. Além das plataformas com as quais já convivia, incluindo o Flickr, a rede brasileira ganhou um novo rival em 2010, o Instagram.

A partir da fuga dos usuários para as plataformas mais modernas das gigantes da tecnologia, o “Fotolog brasileiro” começou a ser utilizado por públicos específicos que tinham no site um lugar mais tranquilo para interagir. Em seus anos finais, o site era frequentado, basicamente, por fãs de caminhões e do jogo Tibia.

Por volta de 2014, a rede social estava dominada por esses grupos. No caso dos veículos pesados, as comunidades eram formadas por adolescentes e jovens, geralmente filhos de caminhoneiros ou apaixonados por esses automóveis, que se reuniam em postos de combustível e nas rodovias para fotografá-los e interagir com os motoristas.

Entre os flogueiros fãs de caminhões, perfis como “AlucinadosdaSC101”, “Elite Goiânia” e “Conexão 277” eram alguns dos mais famosos. Esse tipo de página já existia na plataforma na segunda metade dos anos 2000 e se popularizou ainda mais na década seguinte, ganhando a companhia dos jogadores de Tibia.

Apontada como a página mais acessada da história do Flogão, a conta “Dirrego” era dedicada ao game de RPG adorado pelos frequentadores de lan houses. Foram pelo menos 11 milhões de visualizações enquanto o perfil gerenciado pelo analista de sistemas, Diego Valverde Gerolamo, esteve no ar.

Por que o Flogão acabou?

O Flogão foi descontinuado após 15 anos no ar. (Imagem: André Luiz Dias Gonçalves/TecMundo)O Flogão foi descontinuado após 15 anos no ar. (Imagem: André Luiz Dias Gonçalves/TecMundo)Fonte:  André Luiz Dias Gonçalves/TecMundo 

Assim como aconteceu com o Fotolog, o declínio do Flogão se deu pela falta de adaptação aos novos tempos. O layout criado para desktops e notebooks em 2004 não funcionava bem nas telas dos smartphones e o site sofria com bugs, dificultando a experiência dos usuários.

Mesmo com os problemas, a rede social brasileira durou mais que o Fotolog e o Orkut, e ainda contava com vários perfis ativos nos anos finais. Porém, os responsáveis pelo serviço decidiram encerrar o Flogão no dia 24 de junho de 2019, entristecendo as comunidades tibiana e de caminhoneiros.

Na mensagem de despedida, o site sugeriu aos usuários que se cadastrassem na página Meadd.com, que tem visual semelhante ao dos clássicos Flogão e Fotolog. Antes do encerramento, a empresa deu prazo para que as fotos armazenadas na plataforma fossem baixadas.

O Meadd ainda funciona, porém ao tentar acessar o site do Flogão em 2024 nos deparamos com o erro “Sua conexão não é particular”, não sendo possível saber se essa página possui relação com a plataforma original.

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