Futebol, o esporte mais conhecido e praticado no mundo. Em recente pesquisa no Brasil, a Olympikus mostrou que 15% dos entrevistados praticam futebol, sendo o terceiro tipo de exercício mais praticado no país, atrás apenas da caminhada (39%) e musculação (23%), mas na frente de corrida (12%) e ciclismo (10%).
Entre os praticantes e atletas do esporte surgem dúvidas a respeito de se esse tipo de atividade física seria suficiente para saúde, para promover perda de gordura ou como fortalecimento muscular para membros inferiores. Entenda como a ciência responde tais questões.

Futebol é saúde
Considerando a dificuldade que temos em realizar exercícios aeróbicos monótonos regularmente, como corrida, especialmente em esteiras, o futebol se destaca como uma prática intermitente que exige principalmente aptidão cardiorrespiratória. Esse é o principal componente relacionado à redução no risco de mortalidade, caso estiver em bons níveis.
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Dados indicam que o futebol é uma forma de aumentar o consumo máximo de oxigênio (VO2 max), até níveis superiores a outras modalidades em intensidade aeróbica moderada e à musculação, tanto em homens como em mulheres. O aumento pode ser de 10% na capacidade máxima de utilizar oxigênio.
Em um estudo que comparou a expectativa de vida associada à prática de diferentes esportes, praticantes de futebol apresentaram um aumento de 4,7 anos. Mesmo para os “atletas de fim de semana” que praticam apenas uma ou duas sessões semanais, como uma partida de futebol, há benefícios.
A distração do esporte, que inclui corridas de alta intensidade, ações de agilidade, saltos, arrancadas, giros e outros fundamentos técnicos do esporte, como dribles, passes e chutes, mas com diversão e competição, contribui para menor percepção de fadiga dos praticantes, algo que pode ser mais evidente quando o foco é no exercício em si, como apenas uma corrida, dificultando a persistência.
Em relação à saúde mental, a prática é favorável não somente pelos efeitos neurobiológicos, em que a química cerebral é otimizada a partir do exercício, mas também via mecanismos psicossociais, como senso de pertencimento e socialização.

Futebol para perder gordura?
Quando pesquisadores reuniram 22 estudos controlados randomizados com 777 praticantes de 20 a 68 anos, queriam entender se o futebol promove redução de massa gorda. Para isso dividiram os estudos em dois tipos: comparando o futebol com outras práticas, como corrida, zumba, treino de força e outros (9 estudos), e comparando o futebol com quem não fazia nada de atividade física (21 estudos).
Na comparação de quem jogou futebol com quem fez outros exercícios e esportes, o resultado foi de que ambos os grupos foram efetivos para redução de massa gorda, sem diferença entre eles. Na segunda comparação, quem jogou futebol reduziu mais sua massa gorda, comparado a grupos que não fizeram atividades físicas.
Basicamente, o futebol foi melhor do que nada, mas não melhor do que outras formas de exercício. Além disso, tanto os homens quanto as mulheres exibiram reduções semelhantes, não significativamente diferentes na massa de gordura após praticarem futebol recreativo em comparação com os grupos ativos.
Sendo uma forma de exercício, o futebol tem potencial para atuar no processo de emagrecimento. Estudo recente demonstrou que a perda de peso a partir do exercício aeróbico é significativa, porém modesta: 0,5 kg de peso corporal a cada 30 minutos por semana e 2,7 kg com 2,5 horas por semana.
Portanto, é importante estar ciente do limitado papel que o exercício isoladamente possui, sendo crucial cuidar da alimentação, sono e saúde mental.

Futebol como treino de pernas?
Não é incomum ouvir de praticantes de futebol que pulam o treino de membros inferiores na academia, justamente pela prática esportiva. Entretanto, o fortalecimento muscular via exercícios de força é fundamental, tanto para prevenção de lesões quanto para melhora do desempenho no esporte. Futebol não substitui o treino de pernas, pois os estímulos de uma partida e de uma sessão de força são diferentes e devem ser complementares.
O futebol recreativo tem potencial para transformar pessoas inativas em ativas graças a vantagens como proporcionar experiências mais agradáveis e menos monótonas, promover senso de pertencimento, socialização, competição, distração e diversão. A prática pode ajudar na perda de gordura, mas não é superior a outras formas de exercício.
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Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/UDESC). Faz divulgação científica nas redes sociais e em podcast disponível no Spotify. Autor do livro Exercício Físico e Ciência - Fatos e Mitos.