Can you understand me?

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Img_normalIf you can’t understand this text very well, then you’ll probably have problems to face some of today’s biggest blockbusters, like Fallout 3, Mass Effect 2 and Fable III. That’s because story has become a central element, even in shooters and action games.*

Quando as principais mascotes da indústria de games gastavam a maior parte do tempo hábil saltando entre plataformas e esmagando geringonças mecânicas, o jargão próprio que se fazia necessário era realmente bastante simples. Basicamente, os seus conhecimentos da língua inglesa não precisavam ir muito além de “life”, “continue”, “shoot”, “start”, “options”, “select”, e por aí vai.

Entretanto, mesmo nos áureos anos da saudosa terceira geração já havia alguns arautos indicando que isso mudaria em breve. Jogos como The Legend of Zelda, Final Fantasy e Dragon Quest tornavam praticamente imprescindível que se dominasse pelo menos a leitura da língua inglesa. Do contrário, o que restava era aquela famosa situação, árdua e embaraçosa, de seguir em uma sequência de tentativa e erro — algo do tipo, “selecione todas as opções, até que uma delas finalmente faça o jogo avançar”.

É verdade que essa exigência ficou durante muito tempo restrita apenas aos RPGs e jogos afins. Afinal, qual era o seu real interesse em conhecer a história de vida do Ryu (Street Fighter) ou o motivo que levava Sonic a juntar esmeraldas e libertar coelhos inocentes? O negócio era simplesmente sair pulando e distribuindo pancadas — não necessariamente nessa ordem.

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Só que isso parece ter mudado ao longo das gerações. Sim, você ainda consegue terminar um jogo como Gears of War sem entender absolutamente nada do que anima a batalha alienígena de Marcus Fenix. Entretanto, isso significa deixar de lado a tensão diplomática originada na guerra pela preciosa Imulsion, e também os pormenores que liberaram os temíveis locust para ocupar a face do planeta Sera. O que resta? Apenas um bom jogo de tiro com algumas novidades na jogabilidade.

Enfim, vale colocar a pergunta: qual é o papel do inglês na atual geração de consoles? O flerte cada vez mais acentuado com a indústria do cinema e com tramas complexas por um lado. A ascensão dos jogos casuais e das partidas multiplayer por outro. Entre outras coisas, isso faz pensar: será que estamos todos jogando o mesmo jogo?

Mais perdido que milho na boca de banguelaCompreenda a mensagem ou sofra as consequências

Em alguns jogos você até se vira. Tudo bem, não dá pra saber exatamente o que o alto comando do exército passou como “missão ultrassecreta”, ou qual é o real motivo para que o seu personagem tenha sido enviado a algum local remoto em uma missão suicida. O negócio é seguir as “flechas”, esperando que em algum momento a coisa toda termine com o seu nome em algum rank de pontos.

Só que nem sempre isso é possível. Senão, fica o desafio: tente encarar algo como Heavy Rain — com todos os seus desdobramentos e escolhas morais — enquanto finge que tudo o que é dito pelos personagens está em javanês, esperanto, japonês... Além de uma história mal compreendida, isso garante frustrações que frequentemente terminam com um portentoso blockbuster juntando poeira no fundo de uma gaveta.

Escolhas morais: um ponto de encontro entre trama e jogabilidade

Entre outros fatores, a ausência de um script inevitável tem colocado cada vez mais as histórias e, consequentemente, o domínio da língua com a qual elas são escritas em evidência. Em outras palavras, se antes o seu jogo corria paralelamente à história, agora a trama passa a influenciar diretamente no desenrolar da ação do jogo.

Vale lembrar aqui de uma missão de Fallout 3 em particular (possível spoiler adiante). Qualquer um que tenha encarado o colosso da Bethesda Softworks deve se lembrar da bomba nuclear em torno da qual foi construída toda a cidade de Megaton. Trata-se de um objeto de adoração para uns, um transtorno econômico para outros, e um elemento neutro para boa parte da população local.

Em dado momento, você será procurado por um sujeito, que vai convidá-lo a mandar tudo pelos ares. Desnecessário dizer: caso você não entenda realmente o que está ocorrendo, as consequências podem ser literalmente catastróficas — não que não seja possível simplesmente explodir a bomba, é claro.

Só que mesmo para isso não existe um script. O jogo simplesmente se desvencilha do clássico “opção A”, “opção B”. Um exemplo: em vez de explodir (ou não explodir) a bomba, você poderia perfeitamente entregar os planos maquiavélicos do sujeito às autoridades locais — que, por sinal, estão bastante interessadas em que se desative de vez a arma. Não há uma história óbvia para ser seguida. Não há uma escolha simples entre poucas opções. Você simplesmente deve compreender o que está ocorrendo.

Mas existem outros casos semelhantes, é claro. Haja vista o diplomático Mass Effect, com suas questões morais constantes, todas elas colocadas para avaliar o caráter do seu personagem... E também o seu, naturalmente. Além dos textos exibidos durante as conversas dos personagens, há ainda uma extensa enciclopédia que atesta toda a riqueza da cosmologia criada pela BioWare.

A raça Rachni é um bom exemplo das encruzilhadas morais do título. A sua enciclopédia vai colocá-los como seres perigosos, e a semelhança razoável das criaturas com baratas gigantes egressas de algum filme B apenas serve para comprovar essa concepção. Entretanto, após um rápido papo com uma das rainhas da espécie, é fácil perceber que o buraco é bem mais embaixo. Em suma: aja diplomaticamente ou pague para ver os resultados.

O que eu estou fazendo aqui?!Cuidado para não perder uma boa história

Img_normalMas se existem jogos em que a não compreensão do inglês implica em uma situação embaraçosa de tentativa e erro, há também aqueles casos em que sim, você pode apenas pegar o controle e sair dando socos ou distribuindo rajadas de metralhadora. Só que uma boa história pode ser deixada de lado com essa prática.

God of War, por exemplo. É de se pensar que a pancadaria e o panteão de deuses gregos não estão todos aglutinados dentro do título por simples questões estéticas — ok, isso é passível de discussão. O caso é que, entre combos praticamente infinitos e criaturas desmembradas, descortina-se todo um universo extremamente interessante baseado na mitologia grega e em um projeto pessoal de chacinar todo o Olimpo.

Outro bom exemplo seria Call of Duty. Particularmente, Modern Warfare 2. Trata-se, naturalmente, de guerra. E guerra jamais é algo simples. Entre manobras terroristas e mártires, o que se tem é uma trama complexa e interessante... Que pode acabar completamente esquecida quando o único interesse é estourar miolos e correr para o próximo checkpoint.

Será que estamos todos jogando o mesmo jogo?

Até que se prove o contrário, é impossível afirmar que a indústria de games no Brasil seja capaz de distribuir a língua portuguesa e a nossa visão particular de jogos mundo afora. Isso atualmente é uma exclusividade das indústrias com maior poder de fogo que, por questões óbvias, escolheram o inglês como língua default para cada um dos seus títulos.

Juntando-se isso ao fato de que o número de pessoas que compreendem razoavelmente o inglês em território tupiniquim ainda é bastante reduzido, surge a pergunta inevitável: será que estamos todos jogando o mesmo jogo? Ou será que, por outro lado, os games ainda sejam consumidos apenas parcialmente em locais onde o inglês não é a língua pátria?

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Em outras palavras, é fácil imaginar que uma boa parte das pessoas que compram jogos como Call of Duty: Modern Warfare 2, God of War 3 ou Ninja Gaiden 2 unicamente pelo seu componente de ação. Dessa forma, entre um jogo e outro, as diferenças acabariam reduzidas apenas às questões estéticas e de jogabilidade — o que, talvez, explicaria o deslumbre insistente que se tem por estas banda em relação aos gráficos de última geração, enquanto a história é tratada, na maioria das vezes, apenas como um apêndice.

Que venha o português, mesmo que aos poucos

Caso o seu dicionário de gírias lusitanas não esteja à mão, é possível que um ou outro comentário de Killzone 2Uncharted 2 ou Heavy Rain acabe mal compreendido. Mas, ei! Já é alguma coisa, certo?

Fato é que as traduções de jogos para o português de Portugal representam uma medida ainda tímida, mas mesmo assim trata-se de um bom começo. E mais: alguns poucos títulos já têm incorporado até mesmo o nosso português tupiniquim, tais como Viva PiñataHalo 3 e a inconfundível narração do icônico Silvio Luiz em Pro Evolution Soccer 2011.

Video games: quase uma instituição de ensinoJogue, divirta-se... E aprenda alguma coisa durante o processo

Quando o assunto são video games e o inglês, há um comentário bastante recorrente entre os gamers brasileiros: “Eu aprendi inglês jogando video games”. De fato, não é incomum que um jogador, ainda na tenra idade, carregue para o lado daquele seu jogo preferido um dicionário inglês-português. “Para que eu possa entender a história”, afirmam uns. “Para saber o que fazer”, segundo outros — talvez mais sinceros.

Img_normalDe qualquer forma, algo parece ser constante: a associação imediata entre a história e as imagens dos games parece favorecer o aprendizado — mesmo que a princípio informal — de boa parte dos jogadores que não têm o inglês como língua materna. Afinal, desdobrar-se para compreender o objetivo épico de The Legend of Zelda parece, em boa parte das vezes, mais atraente do que questões insossas como sujeitos que insistem em colocar livros sobre a mesa — “the book is on the table”.

Em suma, a tendência parece ser inevitável: o inglês — ou outra língua suportada pelos blockbusters surge hoje como uma necessidade absoluta para quem quer, de fato, entender o que se passa em histórias que, em boa parte das vezes, não devem nada para tramas cinematográficas.

Mas isso parece menos ligado à questão da língua do que ao fato de a trama hoje estar muito mais entrelaçada à experiência de jogo — conforme o exemplos citados anteriormente. Seja por questões funcionais (Fallout e Mass Effect) ou simplesmente porque os jogos atuais, mesmo nos gêneros mais voltados para a ação ininterrupta, têm se mostrado cada vez mais como bons contadores de histórias.

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*Se você não consegue entender muito bem este texto, então provavelmente você terá problemas para encarar alguns dos maiores lançamentos da atualidade, como Fallout 3, Mass Effect 2 e Fable III. Isso porque a história tem se tornado um elemento cada vez mais central, mesmo em jogos de ação ou tiro. (tradução da citação inicial deste artigo)

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