Um futuro sem cabeças giratórias e mulheres-burro? Pouco provável

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O negócio é adentrar a mata à surdina, silenciosamente aguardando o momento certo para efetuar aquele disparo perfeito que fará um corpo sem vida cair sobre os seus joelhos. Talvez diminuir a distância do alvo possa tornar as coisas mais fáceis.

Que tal se arrastar até lá? Parece ser uma boa ideia... Até o momento em que o seu bravo soldado acaba sendo enviado para baixo da terra, ou acaba com uma torção na perna do tipo que deixaria mesmo um veterano do Vietnã com o estômago embrulhado... De tanto rir. Sim, o que ocorreu é certamente um bug; um tipo de comportamento inesperado — tanto para jogadores quanto para desenvolvedores — que pode tanto fazer rir quanto chorar.

De fato, não seria difícil entender a reação dúbia que normalmente acompanha uma mancada do desenvolvedor na hora de dar forma a um novo projeto. Quer dizer, se você compra um game esperando algumas horas de entretenimento de qualidade, com um óbvio desligamento da realidade em volta... Como é possível manter a fantasia enquanto um tanque de guerra voa pelos ares, ou enquanto aquele seu atacante contratado a peso de ouro sai voando ao dar de frente com o goleiro?

Afinal, como exatamente os erros de cálculo de alguns dos programadores mais bem pagos do globo são interpretados pelo usuário final? Depende do nível do deslize? Ou será que o peso do título, juntamente com sua história, pode afetar a forma como recebemos um rápido balde de água fria... Ou uma estranha e embaraçosa fusão entre Fallout e o filme “O Exorcista” (confira abaixo).

Por parte da indústria, talvez a questão fosse: como o atual modelo comercial e de desenvolvimento colabora para a eliminação de bizarrices antinaturais, travamentos de jogo, salvamentos perdidos e afins? Será que a imensa profusão de DLCs e atualizações, juntamente com a crescente complexidade dos títulos hardcore, acabou por justificar uma indústria que vai até a sua casa para fazer os ajustes finais em um título? Realmente não parece ilógico. Talvez valha a pena conferir em detalhes.

Games e a teoria do caosQuanto maior a complexidade, maior a possibilidade de equívocos

Grand Theft Auto representa um daqueles paradoxos mais apropriados para se entender o papel que os famigerados bugs mantém na atual configuração da indústria de games. Por um lado, GTA é um dos jogos mais singulares das duas últimas geração de consoles. Trata-se da matriz que “ensinou” os demais jogos que não era necessário manter o jogador dentro de um script rígido, seguindo, necessariamente, do ponto A para o ponto B. Quer dizer, que tal se eu for do ponto D para o ponto A... Ignorando completamente o ponto B?

Basicamente, o que a Rockstar conseguiu com sua celebrada franquia foi reproduzir um pouco do que nós entendemos por “realidade” dentro de um video game, com possibilidade de ir e vir, de interagir com um universo que parece ter vida própria e de atuar de forma razoavelmente liberal em relação à trama do jogo. É claro, isso tem um preço.

Conforme os games abandonaram a ditadura das plataformas e dos esquemas side-scrooler que marcaram as primeiras gerações, as desenvolvedoras acabaram encarando a famosa “teoria do caos”. Quer dizer, se evitar erros em um ambiente controlado e consideravelmente restrito já era difícil... O que se pode esperar ao implementar a proposta megalômana de criar todo um mundo de jogo interativo, completamente abarrotado de detalhes?

É fácil perceber que nem o mais proeminente dos programadores conseguiria imaginar todas as possibilidades de gameplay que um jogador poderia lançar mão. Ademais, há também uma pequena questão numérica...

“Dois milhões de pessoas são melhores do que apenas 100”

O comentário acima veio do redator do site Giantbomb que atende por “Sado”. A ideia é simples e bastante válida. Todo o game, antes de abarrotar as prateleiras das lojas, é extensivamente testado, retestado... E novamente testado e retestado. Ao final do processo, em teoria, todo tipo de bug, erro ou inconveniente foi encontrado e resolvido. Em teoria.

Voltando aos números, há, digamos, 100 ou talvez mais dos chamados “testers”, os quais, valendo-se de suas capacidades de percepção e crítica ímpares, devem reportar qualquer anomalia encontrada no universo de jogo. O que poderia ser melhor do que isso? Simples: vários milhões de “testers”... Tremendamente dedicados e críticos após empenhar seus trocados em uma promessa de entretenimento de qualidade.

Ou, conforme afirmou “Sado”, que afirma ter trabalhado por um bom tempo como testador de jogos, “é um argumento válido o de que muitas messoas parecem aceitar que é muito difícil pegar cada pequeno problema ou bug em um jogo”. Isso provavelmente conduz a um último raciocínio.

Menos crítica e mais divertimento?Concessões necessárias para algumas horas de diversão

Alguém honestamente espera que Red Dead Redemption seja o próprio Velho Oeste? Alguém acredita mesmo que Fallout: New Vegas representa exatamente a sensação de se estar em meio a uma terra desolada por catástrofes nucleares? Parece pouco provável. Não apenas por se tratar de obras de ficção... Mas também porque, ao que parece, estamos todos devidamente vacinados contra a maioria dos deslizes moderados dos desenvolvedores de jogos.

Em outras palavras, provavelmente não faria sentido abandonar toda a diversão daquele seu game favorito unicamente porque, em algum lugar, há um estranho cruzamento entre uma mulher em um burro, ou porque há alguém digitando em uma máquina de escrever invisível.

É possível uma argumentação de cunho empático aqui: “você sempre deve se lembrar enquanto joga qualquer game que as pessoas responsáveis por aquilo são humanas”, afirmou o redator da Giantbomb. “Eles se equivocam, vão para casa para suas famílias toda a noite, e, às vezes, tem que manter vários trabalhos para poder se sustentar ou a suas famílias.” Mas nem tudo é compreensão... E nem deve ser.

Hype e lançamentos em prestações

Uma das maiores fontes de descontentamento em torno de um jogo certamente vem do hype muitas vezes inacreditável que é criado em torno de um jogo. Quer dizer, ao final de um jogo como Diablo III ou Gran Turismo 5... Provavelmente nada que fosse humano agradaria a uma legião de fãs sedentos, os quais muitas vezes passam anos em um culto de devoção remotamente lógico.

Por parte das empresas, entretanto, é fácil perceber que os modelos atuais de comércio focados em lançamentos “em prestações” acabam servindo de muleta para que projetos sejam lançados pela metade, atendendo a deadlines quase impossíveis — para quê preocupações, se qualquer equívoco poderá ser corrigido posteriormente, em um jogo que carrega permanentemente a plaqueta “Homens Trabalhando”?

Enfim, enquanto os jogos forem desenvolvidos por seres humanos (um bom tempo ainda, espera-se), é natural que os famigerados bugs continuem despontando aqui e ali. Embora novas tecnologias possam facilitar o desenvolvimento e universos virtuais mais complexos... Os cavalos voadores e cabeças giratórias não devem virar história assim tão cedo. Mas ei! Alguns desses erros são até carinhosamente mantidos, não? Enfim.

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