A inevitável morte da mídia física

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Olhe bem para sua prateleira, admire os jogos organizadamente enfileirados sobre a estante e diga adeus. Sim, pois essa dezena de títulos comprados ao longo dos anos pode estar com os dias contados, já que as previsões são taxativas ao dizer que essas mídias físicas não terão mais espaço nas próximas gerações de consoles.

A morte dos DVDs, Blu-rays e afins não é um assunto recente e há um bom tempo o tema vem sendo discutido por especialistas e analistas de mercado. No entanto, os bons e velhos discos continuam a existir e a trazer possibilidades cada vez maiores em relação a seus antecessores. O problema é que não sabemos até quando isso continuará a ser dessa forma.


Além de todo o avanço gráfico e de processamento oferecido pela sétima geração de aparelhos, a melhoria dos serviços online foi uma das principais novidades introduzidas pelas empresas em suas plataformas. A adição de recursos consistentes a partir da conexão à internet trouxe novas possibilidades para fabricantes e desenvolvedoras, permitindo a criação de um novo segmento de mercado: a distribuição digital.

O crescimento de um formatoA relevância da novidade em uma indústria bilionária
Comprar jogos na PSN, LIVE ou Steam já não é mais visto com estranheza para ninguém. A adesão às redes online é uma tendência natural a partir do momento em que os consoles ficam mais conectados e, por consequência, o comércio digital se torna muito mais atraente por conta de sua praticidade.

Imagine um título que você aguarda por muito tempo e cujo lançamento está agendado para amanhã. Por mais que a esperada data tenha chegado, isso não significa que você poderá experimentar o game naquele dia, pois será preciso esperar a cópia chegar a uma loja perto de sua casa ou ser postada para seu endereço no caso de compras virtuais. Esses são apenas alguns problemas que até mesmo os consumidores que adquirem em pré-compra são obrigados a passar.

Por outro lado, há a comentada mídia física, em que basta baixar o jogo em seu console ou PC para que, depois de algumas horas, você possa estar se divertindo com a produção que você tanto desejou. É um processo muito mais rápido e, em alguns casos, mais barato, que tem chamado a atenção de um número crescente de pessoas.

É claro que o potencial existente nesse tipo de comercialização não passaria despercebido aos olhos das grandes empresas. Foi apenas uma questão de tempo para que games completos fossem lançados digitalmente e roubassem o brilho dos DVDs e Blu-rays do mercado.

Empresas apostam alto

Será mesmo que esse novo tipo de distribuição seria capaz de pôr um fim nos tradicionais discos? As opiniões são bem diversas, pois há quem defenda o padrão utilizado até agora e também existe quem acredite em uma evolução da indústria – e ambas possuem argumentos válidos para justificar sua posição.

Como em uma indústria que movimenta bilhões de dólares ao ano, é praticamente impossível permanecer em cima do muro, várias companhias já deram sua opinião sobre o assunto, com declarações favoráveis ou não à mudança. Algumas, por exemplo, se mostram bem mais empolgadas com esse possível futuro.

É o caso da Electronic Arts, que apostou alto nessa nova distribuição e investiu pesado na novidade – o que é possível conferir na quantidade de títulos lançados também na LIVE, PSN e Steam. Mais do que isso, a EA também criou sua própria plataforma, a Origin, que deve disputar a atenção dos proprietários de PC com a Valve.

O presidente da companhia, John Riccitiello, já demonstrou seu entusiasmo em relação ao assunto. Ele afirmou várias vezes que o mercado online está em constante crescimento e diz acreditar que as vendas digitais devem superar as físicas ainda neste ano.

Uma visão positiva demais? Talvez, mas Riccitiello fez questão de divulgar todos os números da EA envolvendo essa distribuição para comprovar que o formato já faz parte do presente da indústria e que possui papel fundamental no rendimento das desenvolvedoras. De acordo com o presidente, cerca de 40% dos jogos vendidos pela Electronic Arts foram por meio desses serviços digitais.

John Riccitiello, presidente da EA (Fonte da imagem: Wikipedia)
Situação semelhante é a da Activision, que também apresentou a relevância do novo padrão nos lucros. De acordo com Bobby Kotick, CEO do estúdio, houve um crescimento de US$ 140 milhões no primeiro trimestre deste ano e que 50% desse valor vieram dessas compras online. Mais do que isso, Kotick deixou claro que sua empresa ainda não mergulhou fundo nessa evolução da indústria.

Crescimentos às cegasUm segmento quase ignoradoÉ comum as companhias terem seus balanços mensais divulgados por empresas especializadas em análises de mercado, sobretudo a NPD, a mais tradicional e conceituada do ramo. Contudo, por mais que esses números sejam importantes, eles não são tão precisos quanto se pensa, pois a consultoria simplesmente não considera as vendas por meio de distribuição digital.

Como os relatórios apresentados nos últimos meses nos mostram, as vendas de jogos tiveram uma queda considerável em relação a períodos anteriores, sendo que o mês de maio foi considerado o mais fraco dos últimos cinco anos. Porém, nenhuma grande empresa decretou falência ou lamentou a situação do mercado – muito pelo contrário. A indústria de games continua crescendo mesmo com as projeções negativas de especialistas.

O motivo pelo qual os estúdios divulgam lucros e opiniões positivas sobre o momento vivido atualmente é o fato de que os cálculos de balanços mensais são feitos com base na comercialização de mídias físicas, enquanto os títulos lançados digitalmente são ignorados.

Desse modo, é fácil ligar os pontos e imaginar o porquê de tantos especialistas acreditarem que o PlayStation 4 e o Xbox 720 irão abandonar os discos para trabalharem apenas com arquivos em um disco rígido ou memória Flash em um futuro breve. Se a venda de títulos em mídia tradicional está em queda, mas a indústria permanece estável, significa que a balança está sendo equilibrada pelos games distribuídos por meio de redes online.


Embora seja difícil mensurar com precisão o montante gerado por esse formato, é possível usar valores divulgados como referência. De acordo com Riccitiello, a Electronic Arts arrecadou US$ 570 milhões somente com jogos lançados em serviços como PSN, LIVE e Steam em 2010 – o que representa um crescimento de 33% em relação ao mesmo período do ano anterior. Mais do que isso: somente no último trimestre de 2011, a EA obteve um lucro de US$ 211 milhões a partir de distribuição digital.

Steam ainda é referência

Quando falamos em jogos sendo vendidos digitalmente, é impossível desvencilhar a imagem do Steam. E não é para menos, afinal o serviço da Valve foi um dos primeiros a adotar o sistema e hoje lidera o segmento, dominando cerca de 70% do mercado de jogos para PCs. Além disso, estima-se que a marca valha aproximadamente US$ 4 bilhões – algo próximo dos R$ 6,3 bilhões no câmbio atual.

Porém, mais do que se tornar referência no comércio de jogos para computadores, o Steam mostrou para usuários e empresas que o formato era, além de extremamente confiável, muito mais vantajoso do que a mídia tradicional.

Para os jogadores, foi apresentada a simplicidade de adquirir lançamentos no instante de sua liberação e a preços menores do que os encontrados na maioria das lojas – pois o título digital excluía os gastos com impressão de material, distribuição e revenda – e a comodidade de ter diversos games à disposição para serem baixados sempre que preciso, evitando o desperdício de espaço em prateleiras. Já as desenvolvedoras viram no serviço uma forma de oferecer seus produtos de maneira muito mais eficiente e sem o fantasma da pirataria que sempre rondou os PCs, afinal o sistema de DRM desenvolvido pela Valve se mostrou extremamente eficiente.


É claro que, diante desse panorama, surgiram vários concorrentes à hegemonia do Steam. Além do já comentado Origin, da Electronic Arts, há o Direct2Drive, GoG e Impulse – plataformas de distribuição que também contribuem para o crescimento deste formato não convencional. A partir daí, foi uma questão de tempo para que evolução chegasse aos consoles, fazendo com que Microsoft, Sony e Nintendo liberassem jogos recentes em suas redes internas.

Vantagens e desvantagensPrós e contras para a mudança
Formatos serem sentenciados à morte não é algo raro. No caso dos discos de jogos, eles continuam a ser usados pelo simples fato de que essas mídias têm grandes vantagens sobre o arquivo digital – assim como a recíproca também é verdadeira, o que faz com que haja um confronto entre elas que justifica sua coexistência.

Desse modo, para compreender o porquê da sugestão de que este novo padrão é o futuro da indústria de games ou os motivos que fazem com que o DVD e o Blu-ray continuem a existir, é preciso conferir os principais diferencias que justificam – ou não – a mudança.

Por que mudar?

Os motivos que justificam a evolução do formato dos discos padrão para o digital são bem variados, mas se encontram em um ponto em comum: a praticidade. Vários especialistas e usuários têm um consenso de que esse novo tipo de distribuição é muito mais simples de ser gerenciado, eliminando diversos problemas existentes nos discos tradicionais.

Prova disso é a questão financeira. Como dito anteriormente, os lançamentos feitos pela PSN, LIVE, Steam e outros serviços tendem a ser muito mais baratos do que seus correspondentes físicos. Por não existirem custos de impressão, transporte e a própria mão de obra para trabalhar com esses produtos, o valor final cobrado pelo jogo tende a cair – embora, na prática, nem sempre seja isso o que acontece.

Para nós, brasileiros, isso se mostra ainda mais benéfico. Primeiro porque a distribuição digital permite que tenhamos acesso a títulos na data de seu lançamento, simultaneamente aos Estados Unidos e à Europa, por exemplo. Basta você comprar e baixar seu game sem ter de esperar a importação chegar – com a vantagem de abandonar a preocupação com possíveis problemas com a Receita Federal e outras taxas aduaneiras.

Mais do que isso, essa compra online também favoreceria, e muito, nossos bolsos. Isso porque os tão criticados impostos não pesariam tanto, afinal não há um item físico entrando no país – tornando realidade o tão sonhado preço justo. Um ótimo exemplo é o recente lançamento de inFamous 2 na PlayStation Network. Quem optar pelo disco padrão irá encontrar uma cópia entre R$ 150 e R$ 199, enquanto a versão digital sai por apenas US$ 60 – algo próximo dos R$ 95. Uma economia e tanto, não?

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Isso sem falar de questões logísticas e de manutenção. Um título comprado nesses sistemas pode ser baixado diversas vezes em sua conta sem o menor problema, ou seja, você não corre o risco de perder ou danificar o disco. Caso algo aconteça com o arquivo ou você queria retornar a um game já terminado, basta fazer um novo download.

Esse ponto nos leva a um aspecto ainda mais fundamental: espaço. Se você é um jogador ávido por novidades, certamente já deve ter se deparado com o terrível dilema de onde colocar tantas caixinhas. Por mais que sua prateleira seja o orgulho de sua vida, chega um momento em que é preciso esbanjar criatividade para fazer com que todas as embalagens caibam no lugar que você deseja – algo que será impossível a partir de determinado momento.

Na contramão disso, o arquivo digital simplesmente elimina esse problema, afinal tudo fica armazenado em um disco rígido. Além disso, é possível simplesmente apagar o documento para limpar o HD e aumentar sua capacidade de armazenamento.

Já para as empresas, a adoção desse novo formato também ajuda na eterna batalha contra a pirataria. Isso porque a maioria dos games vem com uma proteção que impede a reprodução ilegal – os chamados DRM –, o que valoriza o produto original. Isso é reforçado pelas atualizações de sistema e firmware que as plataformas realizam, o que dificulta a ação de usuários mal-intencionados.

Freando o entusiasmo

Porém, se você é um dos defensores de seus DVDs e Blu-rays, saiba que você não é o único. O Ipsos MediaCT, um instituto de pesquisa francês, entrevistou cerca de 1000 jogadores e constatou que 64% ainda preferem os bons e velhos discos. De acordo com o diretor do centro, Ian Bramley, boa parte das pessoas que responderam que o modo padrão ainda é melhor acredita nisso por conta do valor agregado que o produto físico possui.

Esteja ele certo ou não, é inevitável que temos uma segurança muito maior quando adquirimos algo em que podemos pôr as mãos. Nos games, isso é ainda mais perceptível, afinal os cartuchos e CDs já fazem parte da história dos consoles.

Isso representa uma das principais dificuldades da adoção de um novo formato: a confiança. Como revelado pelo estudo do Ipsos MediaCT, ainda há uma barreira quanto à distribuição digital, pois as pessoas acreditam que o arquivo físico vale mais do que aquele existente apenas dentro do console ou do computador.

Mais do que isso, há um medo sobre esses “jogos abstratos” – sobretudo sobre a garantia de acesso eterno ao game, mesmo depois de tê-lo deletado de seu HD. Muita gente teme a impossibilidade de fazer um novo download, acreditando que será obrigado a realizar uma nova compra para isso. Outro receio está em bugs nos sistemas de distribuição – algo que já aconteceu com o Steam no início de sua vida e que causou várias dores de cabeças para os jogadores. Isso sem falar da necessidade de um cartão de crédito internacional, algo que nem todos possuem.

No entanto, o maior problema dos jogos digitais está em seu acesso. Como todos os títulos são adquiridos pela internet, é preciso que os consumidores tenham uma conexão estável e de alta velocidade para conseguirem baixar as dezenas de gigabytes de cada game – o que acaba não acontecendo na prática. Dessa forma, por mais que você possa ter um lançamento logo após sua liberação pela produtora, também é preciso esperar a boa vontade de sua rede para que o download seja concluído – considerando que não haverá nenhuma queda ou corrupção de documentos.

Além disso, o argumento de que “todos os jogos lançados fisicamente também são oferecidos em mídia digital” não chega a ser uma verdade absoluta. Isso porque são poucos os estúdios que realmente fazem uma distribuição simultânea, pois, de modo geral, há um lapso de semanas – em alguns casos, meses – entre um tipo e outro. Isso quando determinado título simplesmente não dá as caras nas redes online, frustrando os fãs.


O fracasso do PSP Go pode ser justificado por isso. A primeira grande investida da Sony em desenvolver um console que rodaria somente arquivos não padrão não agradou aos jogadores, pois muitas produções não eram disponibilizadas na PSN, como Kingdom Hearts: Birth by Sleep. A partir disso, foi uma questão de tempo para que o aparelho passasse a ser evitado pelos consumidores.

A decisão da fabricante do PlayStation também desagradou aos lojistas, que se viram excluídos do processo de comercialização de games. Por mais que todos desejem uma diminuição no preço de seus jogos, é inegável que prejudicar todo um setor do mercado não é a melhor alternativa.

O que esperar do futuro?Previsões para a próxima geração – ou depois
Ainda é impossível dizer que o PlayStation 4 ou o Xbox 720 abandonarão os discos tradicionais para substituí-los por arquivos digitais. Por mais que os números da indústria apontem para uma inevitável evolução e que as empresas estão apostando alto nessa mudança, há uma série de fatores que mostram que realizar essa modificação ainda é um passo arriscado.

É provável que a próxima geração nos surpreenda com o novo formato? Absolutamente, mas também não seria estranho perceber que as mídias físicas – sejam elas como forem – ainda têm chance de aparecer, afinal há uma parcela muito grande do mercado disposta a enfileirar caixinhas e exibir sua coleção aos amigos.

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