Jogar video games engorda?

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Faça uma rápida pesquisa logística no seu ambiente de jogatina preferido: quão distante está a fonte de guloseimas mais próxima? Você precisa se deslocar até alguma despensa para se apropriar daquele seu salgadinho favorito ou aquele belo saco de gordura saturada está logo ao lado, à distância de um braço esticado?

Ligar video games ao ganho excessivo de peso realmente não é nenhuma novidade. Inúmeras pesquisas científicas foram conduzidas ao longo dos anos com o objetivo de provar, por fim, que longas horas de jogatina implicavam um estilo de vida muito pouco desejável.


Afinal, enquanto está postado em frente à TV — olhos grudados na mira de um sniper em Call of Duty ou no próximo monstrengo que atacará o fantasmagórico Kratos —, você provavelmente praticará pouco ou nenhum exercício físico.

Naturalmente, qualquer gamer razoavelmente esclarecido mencionaria de imediato neste ponto: “E as tecnologias baseadas na captura de movimentos? Quer dizer, o Wii traz possibilidades de se queimarem calorias desde os seus primórdios, não?”.

Ok, certamente é um argumento válido. Mas há um “porém”: pesquisas recentes tentam demonstrar que o sedentarismo não é a única razão por trás do ganho de peso associado aos games. Engordamos também porque comemos mais durante as horas de jogatina. A ideia, portanto, seria mais ou menos esta: não adianta muito se chacoalhar inteiro com Kinect, PlayStation Move ou WiiFit enquanto mantém ao lado um sanduíchegorduroso ou um montinho de batatas fritas.

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Jogar abre o apetite?Estudo afirma que video games fazem comer mais

Um estudo conduzido no Canadá alardeou recentemente o descobrimento de uma nova pista para entender a epidemia de obesidade que assola aquele país. Basicamente, os video games não são fábricas de obesos simplesmente porque promovem vidas mais sedentárias. Segundo o estudo, os games também compelem os usuários a comer muito além das suas necessidades diárias – algo que outras atividades igualmente sedentárias não fariam.

Eis a natureza do estudo – conforme postado recentemente no American Journal of Clinical Nutrition: uma parte de um grupo de 22 voluntários  foi convidada a passar uma hora sem fazer absolutamente nada, apenas permanecendo sentada confortavelmente. O restante, entretanto, gastou a mesma hora jogando video games. Conclusão: os jogadores acabaram por ingerir em média 80 calorias a mais durante uma refeição oferecida à base de macarrão.

Parece pouco, a princípio, mas algumas contas mostram quão sérias as coisas podem se tornar após algum tempo. Isso porque uma simples maçã (com aproximadamente 50 calorias) a mais por dia pode trazer um sobrepeso de até 28 quilos em 10 anos, conforme colocou o coordenador da pesquisa, o fisioterapeuta Jean-Philippe Chaput. “A história é muito mais séria do que uma simples atividade sedentária”.

É claro que o esforço físico necessário para se jogar não foi desconsiderado. “Quando joga video games, você realmente queima algumas calorias”, afirmou Chaput, “mas você também come mais”. Ao final, a pesquisa atestou ainda que cada um dos participantes que gastou seu tempo jogando games ganhou um total de 163 calorias a mais no decorrer do dia.

Uma recompensa por salvar o mundo

Img_normalApesar dos resultados obtidos, exames de sangue efetuados durante os estudos não revelaram qualquer aumento de hormônios relacionados ao apetite. Em outras palavras, o ato de jogar não deixou os participantes com mais forme.

Dessa forma, os pesquisadores teorizam que  o esforço mental efetuado durante os jogos pede uma recompensa comestível – comidas com altos valores calóricos seriam mais efetivas para satisfazer o impulso.

O Dr. Chaput acredita ainda que o impacto possa ir muito além das 80 calorias extras reveladas pela experiência, já que a maioria das pessoas normalmente joga acompanhada, e elas normalmente comem enquanto jogam.

Só exercícios não resolvem. O negócio é fechar a boca

Segundo o Dr. Arya Sharma, responsável pelo centro de pesquisas de obesidade da Universidade de Alberta, o estudo trata de esclarecer um equívoco comum relacionado ao ganho de peso. Embora os exercícios físicos tragam diversas vantagens para a saúde, sozinhos, esses esforços fazem muito pouco pela perda efetiva de peso. Dessa forma, a solução ainda permanece a mesma: para emagrecer, o negócio é mesmo fechar a boca.

Portanto, isso torna o video games um vilão duplo. Além de a maioria das práticas relacionadas serem naturalmente sedentária, as “recompensas” calóricas exigidas pelo nosso organismo após salvar o mundo ou vencer o campeonato de futebol apenas tornam a coisa toda ainda menos saudável. “Existe um mal-entendido largamente espalhado que afirma que a obesidade surte apenas da inatividade física”, afirma o Dr. Sharma. “Os canadenses não estão se tornando mais gordos porque são inativos. Eles estão se tornando mais gordos porque não têm tempo para nada, e estão sempre estressados; porque nunca ‘desligam’”.

Kinect, Move e Wii na mira da ciência

Pois é, nem mesmo os suprassumos da jogabilidade saudável estão fora da mira da ciência antiobesidade. Após conclusão da mencionada pesquisa com jogos, digamos, “normais”, o foco agora deve repousar sobre as novas gerações de jogos, conforme afirmou o fisioterapeuta Jean-Philippe Chaput.

Segundo Chaput, de nada adiante imitar os movimentos dos personagens na tela se a prática ainda puder desencadear uma comilança exagerada. “Caso esse seja o caso”, afirmou Chaput, “qualquer efeito positivo pode ser ofuscado pelo aumento na compulsão por comer”.

Dos males o menorControles sensíveis a movimentos podem ser uma esperança

Verdade seja dita: no que diz respeito à saúde exclusivamente física, seria provavelmente mais recomendável que você saísse para bater uma bola ou para correr pelo parque. Afinal, embora representem um estímulo mental admirável, os video games ainda persistem como uma das atividades de entretenimento mais ociosas.

Não que os games sejam os únicos culpados, vale dizer. Na verdade, há mesmo quem os defenda. “Quando se comparam video games, obesidade e televisão, torna-se bastante óbvio que esta última representa o pior dos dois males”, afirma a especialista em perda de peso James Rouse — em coluna para o site enzinearticles.com.

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E pasme: isso poderia valer até mesmo para a compulsão por comer. “Os video games mais tradicionais requerem a utilização de duas mãos para operar o controle. Qualquer um poderia teorizar que, enquanto estão jogando, as crianças estão comendo menos e também estão menos expostas a anúncios publicitários de comidas menos saudáveis”, afirma Rouse.

É claro, tudo iria bem, não fosse um detalhe: o botão de pausa. Estudos adicionais têm mostrado que crianças acima do peso gastam mais horas com atividades sedentárias do que crianças magras. “Crianças com menos massa corporal utilizam mais o computador para finalidades além dos jogos, e a sua utilização de consoles de video game varia bastante”.

Dance para emagrecer

Mas seria possível reverter a imagem que se tem dos video games atualmente? Talvez sim. “A associação entre games e obesidade tem construído uma reputação ruim para os desenvolvedores de jogos eletrônicos”, comenta Rouse. “Mas assim como em qualquer outro negócio, eles apareceram com uma solução que pode ser a resposta para a obesidade infantil. Consoles integrados como o Nintendo Wii abriram uma nova perspectiva para a atividade física”, conclui especialista.

Há quem concorde com ele, é claro. Embora não seja necessário um cientista para dizer que ao jogar Dance Dance Revolution você queimará algumas calorias, a pesquisadora do centro de pesquisas de obesidade da Mayo Clinic, Lorraine Lanningham-Foster, resolveu descobrir quantas calorias, exatamente, nós perdemos enquanto nos chacoalhamos em frente a um jogo de dança.

Os resultados foram apresentados há algum tempo na publicação médica Pediatrics. “Atualmente, as crianças realmente adoram jogar video games”, afirmou Lorraine ao site Gamespot.com. “Mesmo que nós desejássemos que as crianças estivessem lá fora se dedicando a atividades mais tradicionais, eu não acredito que elas vão simplesmente abandonar os video games tão cedo... É importante olhar por esse lado porque os video games representam uma boa forma para que os pesquisadores de obesidade desenvolvam intervenções para crianças”, afirma a pesquisadora.

Liderados por Lorraine, um grupo de pesquisadores mediu a energia gasta por 25 crianças (10 delas medianamente obesas) em cinco estágios de atividade. As crianças foram avaliadas enquanto permaneciam apenas sentadas, enquanto estavam sentadas jogando jogos tradicionais, enquanto jogavam diversos jogos que requerem movimentos e, finalmente, enquanto corriam em uma esteira e assistiam a TV.

Img_normalOs pesquisadores concluíram então que as crianças gastaram a mesma quantidade de calorias enquanto assistiam a TV ou jogavam games tradicionais. Por outro lado, as crianças envolvidas em jogos com detecção de movimentos gastaram, em média, o triplo de calorias. “Video games que promovem atividades físicas tem a capacidade de aumentar a queima de calorias em crianças até um nível similar ao de brincadeiras tradicionais”, concluiu Lorraine.

Ela continua: “Nós acreditamos que trocar atividades estáticas em frente a uma tela por outras associadas a atividades físicas — em frente à mesma tela — seja a melhor abordagem para promover um ambiente que seja ao mesmo tempo saudável e divertido para a criança”.

Afinal, quem é realmente o vilão?

Há cerca de dois anos, um comentário feito pelo chefão do McDonald’s no Reino Unido, Steve Easterbrook, causou considerável controvérsia entre os fãs de jogos e de restaurantes fast-food. Para Easterbrook, embora comidas rápidas naturalmente representem riscos à saúde, grande parte do problema vem mesmo é dos video games — formando aquele clássico cenário do “passe a batata quente para outro”.

Na verdade, o executivo considerava mesmo que os games são a principal causa da obesidade infantil. “A obesidade é um problema complexo e absoluto que a nossa sociedade está encarando, não há o que negar em relação a isso”, afirmou Easterbrook ao jornal The New York Times. “Mas há um elemento ligado ao estilo de vida aí: existem poucos espaços verdes, e as crianças permanecem sentadas jogando no computador ou assistindo à televisão enquanto que, no passado, elas gastavam mais energia do lado de fora.”

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Mas há outros momentos igualmente épicos pelos quais a indústria de games se vê obrigada a passar. Um estudo conduzido na Universidade de Iowa ofereceu uma ligação entre — pasme! — cáries e games. Segundo a pesquisa, crianças que jogam video games normalmente apresentam saúde bucal comprometida. Isso porque comeriam todo tipo de porcaria enquanto jogavam, concluiu o estudo.

Enfim, parece razoavelmente óbvio que a jogatina clássica não figura entre as atividades mais saudáveis para crianças, adolescentes ou jogadores de quaisquer outras idades. Por outro lado, a popularização de controles sensíveis a movimentos demonstra que sim, pode haver uma mudança drástica nesse cenário em menos tempo do que se imaginava.

Mas uma conclusão final talvez pudesse ser tirada: a solução mais adequada ainda parece vir do equilíbrio. Quer dizer, embora seja absolutamente notório que passar todo o tempo enclausurado em uma sala jogando traz malefícios à saúde de forma geral, também são amplamente conhecidas as vantagens cognitivas e intelectivas que um bom jogo de video game pode trazer.

Portanto, jogue, chacoalhe-se em frente ao seu Kinect ou ao seu PlayStation Eye... Mas reserve também algum tempo para atividades físicas e sociais (diga-se a tempo: além do MMO). Ademais, o negócio é esperar pela próxima pesquisa bombástica.

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