Coluna: Confissões de um iniciante no mundo dos jogos

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Estávamos reunidos em frente a uma televisão de 14 polegadas, colorida, de tubo. O chão era o nosso melhor sofá e, com as pernas entrelaçadas sobre um tapete amarelo qualquer, eu jogava Donkey Kong Country 2 com meus dois primos. Nenê, apelido de um deles, e Esteves (se fala “Estive”) jogavam muito melhor que eu.

Claro, o Super Nintendo era deles. E outra: eu sempre ficava com o controle mais claro, duro e ruim (pirata). De toda forma, ríamos um bocado naquelas tardes. Tínhamos todos 10 anos. Certa vez, a televisão começou a ficar escura. Estávamos em algum dos mundos mágicos daquele planeta de macacos e jacarés gigantes.

Fonte: Reprodução/DonkeyKongWikiaEntão o jogo travou. Os personagens não respondiam mais aos nossos comandos. A música começou a ficar distorcida. “Rá! Fechamos!”, disse Nenê. “Mas, cara, nem matamos o chefão ainda!”, eu repliquei. A televisão finalmente ficou preta. Minha tia dizia que “muito video game poderia estragar a TV”. E então o cheiro de queimado subiu. Desligamos tudo e fomos brincar de guerrinha de barro. Minha tia tinha razão.

Isso resume, em linhas bastante gerais, minha experiência com os video games. Na verdade, cheguei a ter um Dreamcast. Mas, depois de jogar durante um tempo Sonic Adventure, o troquei por um DVD. Logo fiz rolo com o leitor de filmes – que até tocava MP3 na época, veja você – por uma bateria (tum pá!). Então praticamente nunca mais joguei.Fonte: Reprodução/ShutterstockHoje, escrevo sobre tecnologia e caí, invariavelmente, no mundo dos games. Estou a menos de três semanas na NZN (escrevendo para o Tecmundo, para o Baixaki e para o TecMundo Games como você bem pode perceber) e confesso que tremo quando recebo a tarefa de escrever sobre “jogos”. Jogos. Um assunto tão comum e maravilhoso na boca de todos por aqui. E certamente você, leitor, possui tanta intimidade com os games quanto eu tenho com a flanela que limpa estes meus óculos sempre ensebados.

As visões mirabolantes de um pré-gamer

Acontece que há um mundo de dimensões vastas por trás dos consoles. E ele é maravilhoso. Sinto como se eu estivesse sendo seduzido pelo canto de uma sereia de cabelos pretos (prefiro as morenas, sabe...): a voz que entoa canções sempre encantadoras me leva invariavelmente à perdição. Então posso dizer com certa segurança que (mesmo sem ter cabelos negros) a realidade gamer tem me deixado apaixonado.

Tenho lido bastante sobre a evolução dos jogos e, na semana passada, escrevi um texto sobre algumas das pessoas que vivem na penumbra das grandes desenvolvedoras de games. Demorei dois dias para finalizar o artigo. Pensei: “Cacete. Vou ser demitido por ter demorado tanto”. Bom, ainda estou aqui – e escrevendo, veja você. Mas eu explico. Fiquei simplesmente boquiaberto com a densidade desse mundo até então praticamente desconhecido por mim.

Fonte: Reprodução/NintendoO fato é que as relações comerciais que antes determinavam o sucesso ou fracasso de uma franquia ou título qualquer foram radicalmente alteradas. Hoje, a comunidade gamer ocupa um espaço tão real e gigantesco quanto qualquer sede partidária ou vertente alternativa do mercado artístico. Veja a prova: a indústria dos jogos faturou, depois de um investimento de US$ 25 milhões, US$ 60,4 bilhões em 2010; com US$ 100 milhões iniciais, Hollywood emplacou cerca da metade desse valor naquele mesmo ano: 31,8 bilhões.

Outra vez me espantei. “Como pode a indústria dos jogos faturar mais do que a do cinema no ramo do entretenimento?”. Pois é. Ela pode (tudo!). Tenho visto o mercado da literatura se nutrir de tramas dos games. Roupas têm sido inspiradas nas vestes dos personagens de Assassin’s Creed. E o mais importante: tenho conseguido pagar meu aluguel escrevendo sobre jogos!

Mas não me entendam mal, companheiros. Este é apenas o depoimento sincero de um – como se diz?! – “noob”. O grande lance, na minha modesta opinião, não é escarrar por aí centenas de milhares de nomes de jogos ou ter na ponta da língua todas as novidades do mundo da tecnologia. Me parece que, antes disso, é preciso ter sensibilidade e, sobretudo, inteligência: o mundo dos games nunca foi tão real e palatável; continuar fazendo vista grossa a ele é besteira.

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