Coluna: Será que estamos certos ao tentar chamar games de arte?

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Volta e meia, surge em algum meio de mídia uma crítica aos video games, seja por causa de algum episódio de violência que alguém insiste em vincular a jogos eletrônicos ou por causa de um grande lançamento da indústria. Logo em seguida, diversos sites e fãs gritam o quanto podem para afirmar que está tudo errado, levando ao papo de que games não podem ser considerados uma forma de arte, como o cinema e, por isso, são inferiores.

O ciclo continua, com fãs argumentando que isso não é verdade, dando exemplos, como Shadow of the Colossus, para mostrar como jogos são arte. Será que são mesmo? Será que a mídia e milhares de pessoas ao redor do mundo que contestam essa alegação estão realmente errados por fazer isso? Ou a maneira como jogos são apresentados para o grande público não dá muita brecha para outra percepção?

O que realmente é arte?

A primeira coisa que podemos falar é que jogos eletrônicos têm potencial para chegar aos mesmos níveis de filmes e livros, podendo até superar a sua qualidade, mas a maneira como eles funcionam e são apresentados os torna algo um pouco diferente do que podemos considerar “arte”.

Se você parar para pensar, praticamente toda forma de arte no mundo é um produto da mente de uma ou mais pessoas, apresentada de uma maneira que consegue fazer com que a parte receptora a interprete da sua própria maneira. De maneira grosseira e simplista, arte é a criação de alguém, a qual você consome na sua totalidade e sem alterações e a interpreta em seguida.

Se você considerar arte por essa definição (que não é 100% assertiva, mas adotada por grande parte da população leiga), jogos de video game não conseguem se encaixar na mesma categoria que filmes, pinturas, etc. Isso acontece pelo simples fato que você, jogador, é parte vital do desenvolvimento do game.

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Peguem, por exemplo, a série Grand Theft Auto. Todos os jogos contam com diversos roteiristas, que criam uma trama para a história principal e pequenas histórias para as side missions.

Seus desenvolvedores criam um sistema para você dirigir carros, pilotar aviões e afins. Diversos jogadores ignoram tudo para ficarem se jogando de prédios e fazendo qualquer coisa, somente porque podem. Esse tipo de mentalidade ajuda a criar o estigma que pode ser o maior responsável por jogos não serem considerados uma forma de arte.

“Video game é coisa de criança”

Aqui é o momento que muita gente vai reclamar, mas acompanhem o raciocínio. É comum vermos relatos de pais que ficaram indignados por seus filhos jogarem títulos violentos (como GTA), quando deveriam ter ficado de olho no que os jovens têm acesso. Isso geralmente acontece porque, na cabeça de muitas pessoas, jogos eletrônicos são coisas de criança.

Lógico que aí também tem uma boa dose de incompetência dessas pessoas como pais, mas essa ideia de que, por ser algo juvenil, todos os jogos estão liberados para crianças e adolescentes, é real, tirando um pouco a importância e peso que diversos títulos trazem.

Img_normalO eterno sonho de ser um soldado?Para piorar um pouco a situação, a própria indústria de games, durante muitos anos, focou os seus esforços em agradar a um público jovem, adolescente. Seja na forma como apresentava (e ainda apresenta) personagens femininos e situações que são dignas dos sonhos juvenis mais absurdos, diversos jogos não passavam de pequenas desculpas para um pequeno grupo satisfazer alguns dos seus desejos.

É lógico que existem vários jogos que vão contra essa torrente de títulos, como To The Moon, Braid ou Journey, mas quando os maiores destaque do ano no mundo dos games são jogos de tiro, como Call of Duty e Battlefield, e GTA (independente da qualidade dos títulos), é possível notar um padrão no que é considerado um jogo bem sucedido e outros que ficam em segundo plano, sem destaque.

Cena do jogo independente To The Moon

É possível também argumentar que algo parecido acontece com a indústria do cinema, que anualmente lança filmes execráveis, mas que arrecadam milhões de dólares nas bilheterias. Ao mesmo, diversos longas sérios e dignos de nota recebem atenção por parte da crítica e do público que é fã de cinema. Isso quase não acontece com games.

Por causa desse foco na porção mais juvenil, grande parte do público geral não consegue levar a indústria de games a sério, mesmo ela arrecadando quantias obscenas de dinheiro todos os anos. É como se ao falar de música, fosse apenas considerasse os hits do momento, ou, ao falar de cinema, apenas os blockbuster de Hollywood recebessem destaque.

Se não é arte, é o que?

Caso você considere arte algo que mexe com você, seja deixando-o feliz, emocionado, triste ou qualquer que seja a sua reação, jogos de video game poderiam estar lado a lado com o cinema, literatura, teatro e música.

Se você já pensa que arte é algo criado por alguém e que você não pode ser alterado, podendo apenas reagir à criação, o simples fato de você ter qualquer escolha exclui completamente os games do reino das artes.

Conforme foi dito acima, a maneira como a indústria dos games se apresenta não consegue acabar com a barreira de que jogos eletrônicos são um simples passatempo juvenil. Existem diversos games com trilhas sonoras incríveis, design impressionante e um roteiro impecável. O problema é como a combinação desses elementos é vista pelo público leigo.

Img_normalO excelente Braid

Se você separar a trilha sonora ou design de jogo e analisá-los, poderia, de uma maneira simplista, classificá-los como arte. Junte todos e acrescente a possibilidade de controlar alguns elementos e isso deixa de acontecer.

Aos olhos do grande mídia e de pessoas que ao ouvirem as palavras “video game” pensam em Mario, Call of Duty e GTA/“joguinho de roubar carro”, a indústria de games sempre será vista como uma fábrica de simples passatempos. Isso, lógico, se não acontecer uma reação.

E no final das contas, jogos precisam ser considerados arte?

Conforme foi falado em texto publicado pelo TecMundo Games em 2012 (e que você pode ler clicando aqui), a discussão sobre games serem ou não arte é muito relativa. Jogos eletrônicos têm o potencial de serem tão bons quanto um bom filme ou livro, apenas de uma maneira diferente. Vendo o conceito de arte de um jeito diferente, eles poderiam se enquadrar nessa classe por diversos motivos.

Enquanto a indústria de jogos continuar sendo tão focada em títulos que servem apenas para “satisfazer desejos” de uma parcela da população, dando um destaque monstruosos para eles, o público leigo ainda vai ignorar as qualidades da maioria dos games.

A busca pela aceitação, pelo respeito que ser considerado como arte supostamente traria, acaba por limitar os horizontes da indústria, que tenta emular fórmulas de sucesso, como em Hollywood, para tentar agradar ao público.

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Talvez, quando for compreendido por todos que jogos eletrônicos podem ser excelentes por seus próprios méritos, utilizando o que têm de diferente para inspirar e emocionar as pessoas, só assim os games serão considerados como arte.

No final, isso realmente importa? Será que um jogo, que já era bom e que satisfez todo mundo, será melhor porque alguém disse que era arte? Se você trabalha na indústria, talvez seja uma busca por respeito, mas, para os fãs, isso mudará alguma coisa ou é só uma forma de defender algo que você gosta e que muitas pessoas ainda consideram “coisa de criança”?

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