Por que o Nintendo 3DS está fazendo tanto sucesso?

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Fracasso, decisão errada, tiro no pé, vergonha. Todas essas “qualidades” foram atribuídas ao Nintendo 3DS no começo da vida do portátil — não sem justificativa. No entanto, para a surpresa de muitos, o produto que começou como “mais uma mancada da Nintendo” fechou 2013 como o console mais vendido durante quase todo o ano nos Estados Unidos, só perdendo um pouco de espaço quando o PlayStation 4 e o Xbox One chegaram às lojas.

Ao todo, foram vendidas 16 milhões de unidades do aparelho nos últimos 12 meses, o que, somado aos resultados obtidos anteriormente, indica que aproximadamente 35 milhões de pessoas já possuem ao menos das três versões do gadget — nada mal para um aparelho que muitos analistas de mercado condenaram ao ostracismo na época de seu anúncio.

No entanto, o sucesso obtido pelo Nintendo 3DS (e pelos modelos XL e 2DS) não foram mera obra do acaso, tampouco foram uma consequência natural do fato de o aparelho ser o sucessor do portátil mais vendido da história. Para o dispositivo conseguir chegar à situação que está hoje, foi preciso a Nintendo arregaçar as mangas e tomar algumas decisões que mudaram a percepção dos consumidores — algo que a companhia bem poderia fazer com o Wii U.

3D? Esqueça o 3D

O primeiro ponto que permitiu à Nintendo estabelecer o 3DS como um produto atraente foi abandonar de vez a ideia de que o efeito 3D era a principal qualidade do dispositivo. Quem acompanhou o lançamento da plataforma sabe que, durante muito tempo, a companhia pareceu acreditar que esse artifício seria suficiente para atrair consumidores, ideia que não se mostrou exatamente correta, tanto para a Big N quanto para fabricantes de televisores e outros gadgets que também apostaram na tecnologia.

Diante da recepção pouco calorosa do público, a companhia tomou uma decisão que nem parece ter sido feita por seus executivos, conhecidos por insistir em ideais que não dão muito certo. Relegando o recurso a somente um “extra”, a companhia preferiu dar destaque ao que realmente interessa aos jogadores: preço acessível e jogos bons.

Seis meses após o lançamento do portátil, a Nintendo decidiu reduzir seu preço original de US$ 250 para US$ 169, o que fez com que ele passasse a ser imediatamente mais atrativo a um leque maior de pessoas — como contraponto, a empresa passou a tomar prejuízo a cada unidade vendida durante certo tempo. O valor reduzido fez com que o produto deixasse de ser visto como “aquele novo video game caro”, o que permitiu a ele competir melhor com o mercado de tablets e com o Vita (algo que trataremos mais à frente no artigo).

Também ajuda o fato de a companhia aparentemente ter reconhecido que alguns recursos do Nintendo 3DS simplesmente não eram interessantes o bastante para serem explorados. Prova disso são os AR Cards, que atualmente fazem aparições esparsas nas edições especiais de alguns jogos e, na maioria das vezes, acabam ficando conhecidos pelos jogadores somente como “aqueles cartõezinhos que ficam esquecidos na caixa do dispositivo”.

Jogos de qualidade

Não adianta uma plataforma ter um hardware avançado, uma campanha de marketing surpreendente e o apoio de celebridades e desenvolvedores conhecidos se, no final do dia, ela não possui o elemento mais importante: jogos interessantes. E, ao menos nesse quesito, ninguém pode acusar o Nintendo 3DS de não ter feito direitinho sua lição de casa.

Embora o console apresentasse com alguns títulos de destaque em seu lançamento e tenha recebido games bons em 2012, foi somente no ano passado que a plataforma realmente mostrou a que veio. Durante 2013, foi difícil passar um mês que não contasse com ao menos um novo título forte para o portátil, dividindo-se entre os mais diversos gêneros.

Luigi’s Mansion: Dark Moon, Fire Emblem: Awakening, Shin Megami Tensei IV, Etrian Odissey IV: Legends of the Titan, The Legend of Zelda: A Link Between Worlds, Phoenix Wright: Dual Destinies, Animal Crossing: New Leaf, Pokémon X & Y, Mario & Luigi: Dream e Donkey Kong Country Returns 3D foram somente alguns dos títulos de destaque a plataforma recebeu em 2013, em uma lista que deixa de lado games exclusivamente digitais e relançamentos de plataformas anteriores da Nintendo.

Para quem se importa com notas, o video game é a plataforma que mais recebeu jogos com média superior a 80 no Metacritic durante o ano passado — tanto entre os fãs quanto em meio à crítica especializada. E, ao contrário do que acontece com a plataforma de mesa da empresa, não é preciso confiar em nomes como Mario e Zelda para encontrar facilmente experiências de qualidade do portátil (situação bastante diferente daquela vista no Wii U).

Quem tem medo da concorrência?

Um dos fatores que o mercado usou para condenar o Nintendo 3DS à morte foi a ascensão dos jogos para smartphones e tablets, que, devemos reconhecer, realmente influenciou negativamente na venda dos portáteis. No entanto, o que os “analistas especializados” pareciam não perceber é que a Nintendo, tal qual é sua tradição, não poderia estar se importando menos com o que concorrentes como o iOS e o Android estão fazendo.

Assim, em vez de tentar se focar no público casual (para quem um joguinho baixado na App Store é suficiente), a empresa investiu na criação de títulos que justificam a compra de uma plataforma dedicada. Por mais que existam RPGs de qualidade no iPad ou em tablets Android, somente o hardware especializado do 3DS combinado ao conhecimento do time da Intelligent Systems conseguiu resultar em algo com o nível de Fire Emblem: Awakening, apenas para citar um dos títulos cuja experiência não é bem reproduzida em outras plataformas portáteis.

Ao provar que há experiências divertidas que só podem ser proporcionadas por video games portáteis no estilo tradicional, a companhia conseguiu sobreviver em meio a um ambiente que parecia desfavorável a partir do momento em que o produto foi anunciado. É aquela velha lógica: pode haver diversos restaurantes em sua cidade, mas se somente um deles serve seu prato favorito, é nele que você vai preferir gastar seu dinheiro.

O grande mérito da Nintendo foi conseguir convencer os consumidores de que não há motivos pelos quais os jogos de US$ 30 ou US$ 40 não devem mais ter espaço no mercado — basta que eles possuam qualidade suficiente para sustentar esse preço. Além disso, não há como negar que há experiências que as telas de toque simplesmente não conseguem reproduzir e que exigem os botões físicos apresentados por plataformas como o Nintendo 3DS.

Outro ponto que também ajudou a empresa de Mario é o fato de a Sony aparentemente ter desistido de vender o PlayStation Vita como um dispositivo essencialmente portátil, preferindo reposicioná-lo como um complemento para o PlayStation 4. Apesar de a plataforma contar com títulos muito bons, como Persona 4: Golden e Teraway, o fato de a maioria deles também poder ser encontrada em “consoles de gente grande” serve como um estímulo a menos para que alguém queira adquirir a plataforma.

Uma ajudinha do mercado japonês

Embora os famosos “analistas de mercado” considerem o mercado japonês como “praticamente morto”, fato é que ele ainda tem grande importância, especialmente no que diz respeito aos consoles portáteis. Assim, não é de se estranhar que o Nintendo 3DS tenha uma grande popularidade no país e desperte investimentos de empresas como Atlus, Capcom e Square Enix, entre outras.

Entre os fatores que ajudam a explicar a proximidade dos japoneses com video games que podem ser levados de um lado para outro, está a questão da falta de espaço. Como a maioria das casas (especialmente aquelas nas grandes cidades) possuem dimensões limitadas e se localizam bastante próximas uma das outras, nem sempre é possível investir em um sistema aliado a um grande home theater — afinal, lá é comum cogitar ser um incômodo para vizinhos.

Outro ponto que ajuda é o fato de o Nintendo 3DS ser uma plataforma na qual, para obter bons retornos financeiros, não é preciso realizar muitos investimentos. Para um mercado em crise, no qual cada vez menos companhias dispõem de grandes reservas financeiras, essa é uma ótima notícia — isso parece ainda melhor quando se leva em consideração o crescente desinteresse dos ocidentais por experiências essencialmente japonesas que, se antes eram vistas com curiosidade, hoje em dia são consideradas “pervertidas” e “bizarras” por quem cresceu jogando Assassin’s Creed, Call of Duty e outras séries fortemente baseadas em nossa cultura.

A Nintendo tem ciência da importância que os portáteis têm em sua terra natal e sabe muito bem os hábitos típicos de consumo do país. Prova disso são funções como o Street Pass, que, embora pouco utilizadas por aqui, se mostram muito úteis em um território no qual há garantia de encontrar vários donos de 3DS andando de metrô ou em outros meios de transporte público.

Boa vontade do público

Vamos ser sinceros: embora o Wii U sofra com diversos problemas causados pela própria Nintendo, o console sofre principalmente com o que só pode ser considerado como uma “má vontade” por parte do autodenominado público “hardcore” que se considera “adulto” demais para jogar os “games de criança” para a plataforma — como se participar de partidas de “mata-mata” virtual em cenários repletos de sangue e pedaços de corpos humanos fosse algo muito maduro.

Estranhamente, o 3DS parece não sofrer com esse mesmo preconceito voltado a seu irmão maior. Embora haja quem diga que a plataforma “só tem Mario e Zelda”, a impressão geral é a de que o público aceita muito mais o portátil do que o Wii U, por fatores que não ficam muito claros — talvez pelo segmento ao qual ele pertence não ser levado muito a sério pelos “hardcores” ou por não haver um competidor capaz de ditar as regras que “os jogadores sérios” devem seguir na hora de escolher um bom game.

Fato é que o ambiente portátil ainda não se deixou contaminar pela necessidade de apresentar “hardwares poderosos com gráficos extremamente surpreendentes” e ainda prioriza essencialmente jogos divertidos, independente do estilo a que eles pertencem. E isso é algo que a Nintendo tem provado que não tem qualquer problema em entregar ao público, ao menos nesse universo que a companhia domina há décadas.

O que o futuro reserva para o console?

Apesar de 2013 ter sido um ano ótimo para o 3DS, a Nintendo não pode deixar “bola cair” e se esquecer de lançar títulos de qualidade para o portátil em 2014. Infelizmente, até agora parece que as chances de isso acontecer são relativamente altas, visto o número limitado de títulos anunciados para o video game até o momento.

Embora tenhamos a confirmação de que jogos como Bravely Default (lançado em 2011 no Japão), Persona Q: Shadow of the Labyrinth, Super Smash Bros. e Yoshi’s New Island vão chegar em breve à plataforma, esses títulos não parecem suficientes para captar a atenção dos jogadores durante todo o ano — felizmente, sempre há a possibilidade de que mais lançamentos de peso estejam reservados para serem apresentados publicamente somente na E3 2014.

Fato é que, apesar de ainda sofrer com alguns problemas (como uma eShop pouco organizada e com preços caros), o portátil parece destinado a ser a próxima “impressora de dinheiro” que vai manter a Nintendo viva nos próximos anos. Resta esperar que a companhia saiba observar as estratégias que fizeram do 3DS um sucesso inesperado e as aplique no Wii U, aparelho que precisa de uma boa injeção de ânimo para conseguir sobreviver de maneira saudável durante os próximos anos.

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