12 filmes que ajudaram a definir o mundo dos games

9 min de leitura
Imagem de: 12 filmes que ajudaram a definir o mundo dos games

Traçar paralelos entre jogos e o cinema já é praticamente “chover no molhado”. É verdade que no início, quando Pac-Man ingeria lá sua primeiras pílulas (altamente suspeitas), as ligações com as películas ainda eram um tanto abstratas — embora não falte quem ainda defenda a teoria de que o “homenzinho” comilão era, de fato, um astronauta abandonado à própria sorte e à própria mente doente, o que se parece muito com um roteiro cinematográfico.

Entretanto, conforme a técnica disponível aos desenvolvedores foi nos afastando mais e mais dos quadradinhos do Atari 2600 (e similares), mais e mais se tornou óbvia a conexão entre o entretenimento eletrônico e, digamos, seu irmão mais velho. Na verdade, seria difícil hoje analisar o código genético de qualquer blockbuster em pixels moderno e não encontrar doses variadas de Indiana Jones, Star Wars, Mad Max e por aí vai.

E essa diferença perfaz praticamente todas as dimensões dos jogos modernos. Desde a estética até as escolhas de roteiro; desde a ação da câmera até o bom e velho maniqueísmo fílmico (com “Bem” e “Mal” muito bem definidos).

Bem, embora seja muito fácil cometer alguma injustiça por omissão, o BJ resolveu elencar aqui alguns filmes que tiveram papel crucial na forma assumida pelos nossos amados jogos eletrônicos — que, como se verá, não são tão incrivelmente originais como algumas pessoas ainda gostam de acreditar. Vamos a eles.

Mad Max 2: A Caçada Continua (1981)

Ok, é fácil antecipar a dúvida aqui: “Por que não o primeiro Mad Max?”. Bem, embora o primeiro título tenha sido tão (ou mais) representativo de uma tendência do que “A Caçada Continua”, fato é que seria impossível assistir à sequência estrelada por Mel Gibson e não imaginar que se encontram ali — em estágios mais ou menos desenvolvidos — grande parte dos padrões (às vezes clichês) que acabaram dando forma a um sem-número de jogos posteriormente.

E isso é particularmente notável nas gerações mais atuais, as quais parecem incrivelmente “obcecada$” em recriar realidades pós-apocalípticas. Afinal, ali se encontra o herói solitário, sujeito a uma enormidade de situações de vida ou morte no deserto do que restou da humanidade.

Note que isso tanto poderia descrever a realidade da trilogia cinematográfica quanto o mundo aberto das séries Fallout ou Borderlands. Indo um pouco mais além, até em BioShock há elementos que fariam Mel Gibson soltar um sorriso de canto de boca. Além disso, vale lembrar que teremos todos em breve a oportunidade de controlar o próprio “herói sem nome”, quando o jogo “Mad Max” surgir em algum momento de 2014.

Blade Runner (1982)

Difícil nominar obras de influência mais onipresente em leituras de ficção científica do que o filme dirigido por Ridley Scott — com exceção, talvez, de “Metropolis”, de Fritz Lang. Há aqui a raiz de toda uma estética cinematográfica focada na belíssima cooperação do cyberpunk e do noir.

Isso para não falar em uma trama organizada em torno de um herói de moral questionável, tornando Harrison Ford um arquétipo para sujeitos como Adam Jensen, de Deus Ex: Human Revolution — há até mesmo uma semelhança notável entre os cubículos que ambos chamam de “lar”. Além de Deus Ex, seria fácil citar também jogos como Perfect Dark ou Syndicate.

O Passageiro do Futuro (1992)

Como se esquecer do jardineiro meio “lento” que é escolhido para participar de uma experiência científica bem pouco ortodoxa, tornando-se então um assassino doentio em uma realidade virtual que, em 1992, certamente convenceu muita gente.

Com uma trama notavelmente original, “O Passageiro do Futuro” ainda foi um verdadeiro luminar ao referenciar uma realidade virtual. Ok, impossível não ler nas entrelinhas o temor que os jogos eletrônicos e a computação, de forma geral, suscitavam à época — o que deixa a coisa toda tão mais datada quanto mais visceral. Pois é, e você aí achando que Matrix tinha sido incrivelmente original.

Alien, o 8º Passageiro (1979)

Vale voltar um pouco no tempo aqui, lá para o final da década de 70, quando a dupla H. R. Giger e Ridley Scott apareceu com uma das obras mais seminais do cinema — e certamente também uma das que mais influenciaram o entretenimento eletrônico, em diversos aspectos.

Além das monstruosidades concebidas por Giger terem “inspirado” praticamente qualquer jogo com alienígenas, é impossível negar que a estética, a movimentação e o ritmo conferidos por Scott podem ser encontrados em praticamente qualquer título com temática focada em terror espacial (ou não).

Afinal, seria difícil, por exemplo, não imaginar uma ligação entre o motion tracker de “Alien, o Oitavo passageiro” e os HUDs (head-up display) utilizados em praticamente todos os jogos modernos. Além disso, é impossível negar o pioneirismo de Ridley Scott ao trocar o tradicional militar machão por uma protagonista feminina que era pura fibra, habilidade e inteligência — algo que pode parecer normal hoje, mas que certamente não o era há mais de 30 anos.

Mas é possível dar nomes a alguns bois aqui. Dead Space, por exemplo, provavelmente não existiria sem uma curiosa confluência de “Alien, o 8º Passageiro” e “O Enigma do Horizonte” (tratado mais adiante). O mesmo provavelmente valeria para Lost Planet, Half-Life, Gears of War, Halo e por aí vai. Basicamente, em qualquer lugar que houver uma criatura antropomórfica que não pode ser vista, mas que precisa ser parada... Lá está também Alien.

O Enigma do Horizonte (1997)

Dead Space certamente é um título original. Afinal, a Visceral Games conseguiu dar nova vida ao Survival Horror, tendo ainda presenteado audiências estupefatas com uma das melhores histórias de terror/suspense das últimas gerações. Entretanto, é impossível negar que a ótima trama do título da EA deve muito a um filme relativamente desconhecido, intitulado “O Enigma do Horizonte”.

Ok, é verdade que havia também ali, em 1997, muito de “Alien, o 8º Passageiro” (acima). Entretanto, uma espaçonave encontrada no meio do nada, em que algo de natureza “religiosa” parece ter dado muito errado... Sim, isso é a própria cara de “O Enigma do Horizonte”.

Star Wars (1977)

Talvez a melhor pergunta aqui fosse: “Que título focado em exploração espacial não deve algo a Star Wars?”. Verdade seja dita, a franquia de George Lucas simplesmente definiu parâmetros que são utilizados até hoje sempre que se quer retratar embates interestelares em filmes ou, é claro, em jogos.

Além de questões focadas na trama — perfeitamente maniqueísta — e na estética — uma verdadeira forja de efeitos especiais —, ainda é possível encontrar facilmente “paródias” de Luke, Leia e Han Solo em uma infinidade de títulos de ficção-científica. Talvez a comparação mais óbvia (e recente) aqui seja a trilogia Mass Effect — basicamente, um Star Wars de propriedade da BioWare, que assim se livrou do controle da Lucasfilm.

Alucinações do Passado (1990)

Trata-se aqui daquela que é considerada a maior influência na série Silent Hill. Após sobreviver à guerra do Vietnã, o protagonista, Jacob, passa a tocar adiante uma vida sem muito sentido, imersa em lembranças da guerra e de seu filho mais novo falecido. De uma hora para outra, entretanto, ele passa a enxergar monstruosidades e figuras sem rosto — enquanto perambula pelas ruas de Nova York, em seu emprego como carteiro.

Embora não traga o mesmo nível de ação encontrado em Silent Hill — portanto não assista procurando por isso —, “Alucinações do Passado” certamente compartilhou muito de seus genes com a série da Konami. Trata-se aqui do “mal indizível”, do terror sem nome e origem definida que não se cansa de jogar protagonista e espectador (ou jogador) em um labirinto de possibilidades e confusão.

Igualmente, sem arriscar spoilers, é notável a forma como ambas as obras lidam com a questão de que “anjos” e “demônios” são julgamentos bastante subjetivos. Em outras palavras, salvamento e danação podem facilmente se concentrar em uma mesma entidade... O que importa é como se enxerga aquilo.

A Noite dos Mortos-Vivos (1968)

Talvez não seja arriscado dizer que a obra de George Romero ajudou a definir a forma como qualquer obra posterior a 1968 trataria a temática dos “mortos-vivos”. Ao concentrar temores sociais como “contaminação” e “culturas de massa” em montes de carne-podre ambulantes, Romero acabou forjando o zumbi moderno, em todas as suas dimensões.

Ok, a influência mais óbvia aqui salta à vista. Na verdade, caso você preste atenção nos zumbis do primeiro Resident Evil, verá que as feições putrefatas ali herdam muito dos traços de “A Noite dos Mortos-Vivos”. É claro que Romero também ganhou um reconhecimento muito mais escancarado, podendo ser encontrado como o vilão final (e mais encarniçado) do modo Zombie de Call of Duty: Black Ops.

The Matrix (1999)

Matrix é por si só uma enorme colcha de retalhos com influências variadas — embora o mérito dos Wachowski certamente possa ser percebido na forma como a coisa toda foi ligada e reinterpretada, desde Platão até “Alice no País das Maravilhas”.

Ok, as influências de Matrix no entretenimento eletrônico seriam difíceis de elencar em alguns poucos parágrafos — da trama até a indumentária, com aquelas enormes capas de couro que demoraram a desaparecer do gosto popular. Mas há um elemento curioso cuja origem (ou pelo menos o formato mais definido) talvez possa ser atribuído à trilogia: a forma de “brincar” com o tempo.

Isso responde também por outro nome: bullet time. Trata-se daquela habilidade hoje incrivelmente difundida de retardar a ação do tempo ao redor do protagonista — transformando até mesmo Max Payne em um Neo capaz de desviar balas, mesmo sem a justificação de uma realidade virtual. Algo semelhante também pode ser encontrado em Prince of Persia, Bayonetta e tantos outros.

Tron (1982)

Eis aqui outro clássico, do tipo que dificilmente poderia ser ignorado sempre que se considera qualquer jogo focado em realidade 3D — o que é a grande maioria hoje, mesmo para quem joga em um smartphone. Ok, talvez aqueles enormes polígonos pareçam hoje incrivelmente datados, para não falar na completa falta de texturas.

Entretanto, em 1982, encontrar Jeff Bridges rasgando uma realidade virtual com uma motocicleta absolutamente singular com certeza foi algo incrível — algo que certamente fez parte da bagagem de toda uma geração de desenvolvedores de jogos. É claro que Tron possui também adaptações diretas em jogo... Mas talvez seja melhor ficar apenas com suas influências.

Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (1981)

Pegue Lara Croft, coloque cuecas, retire as curvas voluptuosas e os polígonos virtuais e o que deve sobrar provavelmente se parecerá com o icônico personagem de Harrison Ford — também não se pode esquecer o chapéu, é verdade.

Indiana Jones simplesmente definiu os formatos para ação e aventura, algo seguido de perto por outros filmes e, naturalmente, também por uma infinidade de jogos. Além de Tomb Raider, uma releitura quase paródica poderia ser o blockbuster Uncharted, por exemplo. E tudo já estava lá, os saltos, as músicas, o chicote... E também a formação acadêmica — que curiosamente ainda deixava tempo para saltitar atrás de relíquias e fugir de pedregulhos.

Fuga de Nova York (1981)

Quer dizer que você nunca reparou na semelhança? Ok, vá lá, olhe novamente, eu espero... E agora, foi? Pois é, o misterioso Big Boss bem poderia colocar em seu currículo a habilidade de “surfe urbano” — embora devesse acrescentar que o fez sob o pseudônimo de Snake Plissken.

Não que isso devesse gerar grande espanto, é verdade. Afinal, o próprio Hideo Kojima jamais fez segredo das muitas influências que lhe permitiram dar corpo ao “pastiche” que virou Metal Gear. E “Fuga de Nova York” sempre foi lembrado pelo desenvolvedor. Isso para não falar em “Rambo III”, “O Franco Atirador” e também no visual do ator Sean Connery.

Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.