Por que a NVIDIA ficou de fora da nova geração de consoles?

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A nova geração de consoles já chegou ao mercado há algum tempo. PlayStation 4, Xbox One e Wii U já estão estabelecidos e fazendo crescer suas bibliotecas de jogos. Mas o que esses dispositivos têm em comum? Simples: dentro de cada uma dessas máquinas bate um coração AMD.

Em sua sede localizada em Austin, no Texas, a AMD tem um local especial em que ela exibe diversos de seus produtos. Lá, ela mostra com orgulho as quatro plataformas de entretenimento em que está presente: os três consoles e o PC.

Para a AMD, não existe concorrência no mercado de video games. Enquanto uns brigam pelo PlayStation 4, outros preferem o Xbox ONE ou o WII U. Já a AMD comemora: não importa qual seja a escolha dos consumidores, de uma forma ou outra eles estarão levando para casa um aparelho, em parte, AMD.

Tecmundo/TecMundo GamesEm sua sede, AMD exibe com orgulho as plataformas em que está presente. Fonte: Tecmundo/BJ

Mas isso nos leva a uma questão fundamental, que deve ter atormentado muita gente: por que a NVIDIA ficou de fora dessa geração de consoles? A empresa esteve presente no primeiro Xbox e no PlayStation 3, logo, não era de se esperar que ela abrisse mão de todas as plataformas desta geração.

Tentar descobrir o que aconteceu não é uma tarefa fácil, já que esse tipo de informação é confidencial e nenhuma das partes nunca se pronunciou a respeito. Entretanto, muitas versões da história surgiram pela internet e sempre é possível especular sobre o motivo do ocorrido: basta juntar algumas peças do quebra-cabeça para tentar desvendar parte deste mistério.

Falta de tecnologia

Muita gente julga que a NVIDIA poderia não ter tecnologia suficiente para fornecer os chips para os novos consoles, por isso acabou sendo vencida pela AMD. A teoria vem de que tanto Microsoft quanto Sony buscavam soluções integradas para diminuir os custos e a NVIDIA poderia fornecer apenas chips gráficos, como fez no Xbox e no PlayStation 3.

Isso não é verdade, uma vez que a NVIDIA já desenvolve seus chipsets integrados há um bom tempo. A linha Tegra teve um começo mais modesto, mas aos poucos vem ganhando espaço junto aos fabricantes de dispositivos móveis.

Basta olhar para o SHIELD, o console desenvolvido pela própria NVIDIA. Recentemente, ainda, ela anunciou o Tegra K1, a nova geração que deve trazer a arquitetura Kepler — a mesma que fez muito sucesso nos desktops — para o mercado portátil.

Com isso é possível imaginar que, pelo menos em termos de tecnologia, a NVIDIA é perfeitamente capaz de fornecer equipamento para os consoles. Já pensou se a empresa lançasse um chip Tegra turbinado para algum video game?

Margem de contribuição

É indiscutível o fato de que as empresas que conseguem atrelar o seu nome aos consoles conseguem uma boa visibilidade. A partir do momento em que o público toma conhecimento do fato, aquele produto passa a ser uma vitrine para a marca. Entretanto, é preciso equilibrar as coisas, e nem sempre ter o nome exposto é suficiente para pagar as contas.

O que ajuda a agravar um pouco os fatos é que, enquanto a fabricante do console recebe royalties com o lançamento dos jogos, a empresa que fornece os chips não recebe um centavo além do preço pago pelos componentes.

Segundo informações levantadas pelo site ExtremeTech, a renda da NVIDIA com os chips fornecidos para o primeiro Xbox no ano fiscal de 2003 foi de US$ 400 milhões, ou seja, cerca de 23% do seu faturamento total, que foi de US$ 1,9 bilhão no período. No total, o primeiro Xbox vendeu 24 milhões de unidades, ou seja, o lucro da NVIDIA foi muito maior que US$ 400 milhões se forem contabilizados todos os anos em que o console foi fabricado, mesmo que depois de um tempo a Microsoft tenha passado a pagar menos pelos chips da NVIDIA.

Reprodução/WikimediaO primeiro Xbox trazia uma GPU NVIDIA. (Fonte: Reprodução/Wikimedia

Já no caso da Sony e do PlayStation 3, a figura muda um pouco. Em janeiro de 2011, o CEO da NVIDIA, Jen-Hsun Huang revelou que o acordo com a Sony rendeu à empresa cerca de US$ 500 milhões em royalties desde 2004, sendo que o número total de consoles vendidos no período foi de aproximadamente 50 milhões de unidades. Isso significa que a Sony estava pagando muito menos que a Microsoft pelos chips gráficos.

Com isso, a NVIDIA pode ter começado a imaginar que talvez não fosse mais um negócio tão rentável desenvolver chips para os consoles e tenha preferido focar os seus esforços de desenvolvimento e áreas mais lucrativas. Afinal de contas, a marca NVIDIA já é bastante conhecida e estabelecida no mercado de jogos. Investir nos consoles apenas pela “vitrine” pode não ter atraído a fabricante.

Preço subsidiado

Quando os consoles chegam ao mercado, eles têm um preço relativamente baixo — muitas vezes menor do que o próprio custo de fabricação. As fabricantes oferecem esse subsídio para aumentar a base instalada e, em pouco tempo, começar a ganhar com royalties dos jogos comercializados. É um negócio arriscado, mas que por enquanto tem funcionado. Ou não?

Quando PlayStation 3 e Xbox 360 chegaram ao mercado, foi um momento decisivo tanto para a Sony quanto para a Microsoft. As duas precisaram brigar com todas as armas que tinham à disposição, já que ambas perdiam somas consideráveis por cada console vendido. A situação da Sony era ainda pior: mesmo que o PS3 tenha chegado ao mercado custando mais que o Xbox 360, o prejuízo da empresa ultrapassava a casa dos três dígitos.

No final da geração, o prejuízo da Sony com o PlayStation 3 foi de U$ 4,5 bilhões. Já a Microsoft perdeu “apenas” US$ 2,6 bilhões. Isso tudo se deve ao alto investimento no desenvolvimento das plataformas. O problema, no caso da Sony, é que a companhia perdeu quase o dobro que a concorrente, apenas para ter um resultado parecido no final das contas. O PlayStation 3 não teve um vitória esmagadora sobre o Xbox 360 como a empresa — arrogantemente — afirmou que aconteceria no lançamento do aparelho.

Reprodução/WikimediaPS3: caro para produzir. Fonte: Reprodução/Wikimedia

O problema foi que o PlayStation 3 era muito caro para ser produzido. A primeira versão do console trazia o hardware de um PS2 em seu interior (para garantir a retrocompatibilidade), com peças que foram descartadas nas revisões seguintes para reduzir o custo.

Além disso, o console trazia o Cell, um processador personalizado e caro para ser produzido, além de tecnologia wireless e, é claro, o drive de Blu-ray. Tudo isso inflou demais o preço de produção do PS3 no início. A Sony esperava o mesmo sucesso do PlayStation 2, o que não aconteceu.

Nova geração: melhor planejamento

Depois da verdadeira carnificina que foi a geração anterior, tanto Microsoft quanto Sony se prepararam melhor para deixar seus projetos mais “enxutos”.

Uma das diretrizes das companhias foi diminuir o custo com o hardware para poder “perder menos” com cada console vendido. Sendo assim, é provável que nenhuma das duas quisesse pagar o preço que a NVIDIA estava pedindo pelo hardware.

Por outro lado, a AMD precisava fechar essa parceria para fortalecer o seu negócio de SoCs (System on a Chip) e possivelmente aceitou vender o hardware muito mais barato que a sua concorrente.

A AMD vem investindo pesado no novo mercado de processadores tudo em um e, segundo o CEO da companhia, a intenção é que esse mercado seja responsável por grande parte da renda da empresa, uma vez que o mercado de PCs já não é mais tão lucrativo quanto foi um dia.

Nesse ponto, a estratégia com os consoles é inteligente: fornecer os chips para todas as plataformas serve tanto para ganhar dinheiro (mesmo que a margem seja pequena) quanto para mostrar ao mundo que a AMD tem competência para fornecer os SoCs para praticamente qualquer equipamento.

E os negócios vão muito bem para a AMD. Se a margem de lucro obtida com a venda de cada unidade é baixa, a empresa certamente está ganhando muito em volume.

Segundo um relatório apresentado no início do ano pelo CEO Rory Read, a venda de chips para consoles já é parte importante da renda da companhia. Além disso, a propaganda serviu para mostrar que a AMD é perfeitamente capaz de suprir a demanda por chips personalizados para qualquer tipo de mercado.

A NVIDIA errou?

Arriscar um palpite desses é perigoso, pois não temos dados suficientes para saber qual é a estratégia da NVIDIA a médio e longo prazo. Uma coisa é certa: ela poderia ter aproveitado a oportunidade para introduzir os aceleradores Tegra nos consoles — dessa forma, poderíamos ter um console NVIDIA e um AMD, ou todos NVIDIA, quem sabe? Também existe a possibilidade de a oferta feita pela AMD para as fabricantes de consoles ter sido imbatível para a NVIDIA, algo que fugiu ao seu controle.

Por outro lado, a companhia escolheu desenvolver o seu próprio console — sabemos ele que não é um concorrente direto do PS4, XONE e Wii U, mas essa manobra pode ter tido origem na negociação com as empresas. Sabemos que isso não é novidade, pois o próprio PlayStation é fruto de um acordo com a Nintendo que não foi para frente.

Em termos financeiros, as contas da NVIDIA vão bem. A empresa fechou o quarto trimestre fiscal de 2014 (que terminou em 26 de janeiro de 2014) com um lucro de US$ 1,14 bilhão, cerca de 8,6% a mais que no período anterior; já o ano fiscal de 2014 terminou com um lucro de US$ 4,13 bilhões.

Entre os principais aspectos responsáveis por isso foi o aumento da venda de GPUs da série GeForce GTX, que cresceu cerca de 50% em relação ao mesmo período do ano anterior. Além disso, a empresa anunciou a entrada no ramo automotivo e um novo chipsets móvel: o Tegra K1, baseado na arquitetura Kepler, a mesma das GPUs.

A NVIDIA busca firmar cada vez mais o seu nome como fabricante de hardware para gráficos, seja qual for a plataforma. A companhia possui uma boa fatia do mercado de hardware para PCs e recentemente anunciou a entrada no desenvolvimento de equipamentos para veículos, além, é claro, do alto investimento nas plataformas móveis.

No final das contas, apesar de concorrentes em alguns setores, AMD e NVIDIA são empresas diferentes, com estratégias diferentes. Nem sempre o que é bom para uma é necessariamente o correto para a outra.

O que podemos concluir com isso é que as duas parecem estar realizando movimentos acertados, afinal de contas o dinheiro está entrando. E, como sempre, é preciso lembrar que a concorrência é ótima para o mercado e quem ganha sempre somos nós. E isso a NVIDIA sabe muito bem, tanto que não deixa de alfinetar a concorrente, afirmando que o PC é superior a qualquer console.

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