Quem viveu nos anos 90 certamente deve se lembrar da animação de Street Fighter II, que por aqui ficou bastante conhecida por preencher as grades matinais aos finais de semana no SBT. Na época, Street Fighter ainda não era tão popular entre o público mais velho, o que acabou dificultando um pouco o trabalho da equipe de dublagem nacional.
Em seu livro Versão Brasileira, Nelson Machado (a eterna voz de Kiko, do seriado Chaves) revelou que trabalhou como diretor de dublagem do projeto e o time como um todo teve bastante dificuldade pelo fato de terem recebido um produto que estava totalmente em japonês – e o pior, do qual muitos envolvidos sequer sabiam os nomes dos personagens ou de seus golpes.
“Um belo dia, surgiu um desenho estranho na Megassom. Era uma série japonesa com lutadores de vários tipos. Ninguém sabia muito a respeito daqueles personagens e a série estava toda falada em japonês. Tradutor de japonês [nos estúdios], simplesmente não existia. A solução foi chamar um senhor japonês conhecido de alguém no estúdio. Ele fazia a tradução literal do que ouvia no desenho e depois adaptávamos a tradução dele para adequar para a dublagem”, comentou Machado.
“Lembrei de ter visto aquele nome em uma máquina num shopping. Fui buscar informações de pronúncia quanto aos nomes dos personagens e golpes de luta com os garotos, os jogadores do shopping. Um exemplo disso foi a pronúncia do nome do grande vilão da série: Bison. A ordem inicial era dizer Baissom, numa pronúncia americana, mas descobrimos que todo mundo que jogava já estava acostumado a chamá-lo de Bisom”, continuou.
Marca nacional
Por fim, ele também ressalta que o bordão de Ken na versão nacional (o famoso “ih, ó o cara, aí!”) foi incorporado de maneira natural por Sérgio Moreno, que deu voz ao amigo de Ryu e dizia isso naturalmente nos corredores do estúdio.
“Logo que começamos a dublar a série, ele colocou, de brincadeira, a frase na boca do Ken em determinado momento. Aquilo ficou engraçado e a gente resolveu deixar. Nos episódios seguintes, sempre procurávamos algum momento onde a frase coubesse. O resultado é que a frase ‘ih, ó o cara, aí!’ virou bordão do Ken, marca registrada do personagem. Mas isso só existe no Brasil", concluiu o diretor.
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