Talvez você nem imagine, mas se dependesse das grandes empresas, como Apple, Google, Microsoft e Samsung, a evolução dos aparelhos celulares já poderia estar muito mais adiantada e com produtos mais baratos e adaptados às necessidades dos consumidores. E quem não permite que isso aconteça são as operadoras de telefonia dos Estados Unidos.
Não é segredo nenhum que todas as empresas têm o mercado norte-americano como a sua principal base para lançamentos. Em tese, um produto é construído levando-se em consideração as necessidades dos consumidores – e, por “consumidores”, entenda sempre o público norte-americano. Dessa forma, os produtos que chegam por aqui não “ideais” para os brasileiros e acabamos nos adaptando ao que o mercado exterior sugere.
(Fonte da imagem: Divulgação/Apple)
Um celular para o público, outro para a operadora
Antes do lançamento do primeiro modelo de iPhone, as operadoras de telefonia reinavam absolutas no mercado norte-americano. Antes de uma grande fabricante lançar um aparelho, era preciso fechar uma parceria com operadoras como Verizon ou AT&T para garantir que o celular pudesse chegar ao mercado por um preço competitivo e em igualdade de condições de comércio.
A parceria com a operadora certa poderia garantir algo muito importante: volume de vendas. E, seguindo a lei de mercado, quanto maior é o volume de vendas, menor pode ser o custo unitário de um produto. Assim, baseado em uma projeção de vendas, era possível investir em tecnologia mais cara com a certeza de que o produto final poderia chegar ao mercado consumidor final por um preço aceitável.
Essa dependência que as empresas tinham – e ainda têm – das operadoras fez com que essas últimas se tornassem verdadeiras gigantes no mercado e, com isso, passassem a ditar as regras com relação ao que o público deveria ou não receber. Tendo apenas a sua projeção de vendas como objetivo, a inovação, muitas vezes, é deixada em segundo plano em prol de uma estabilidade de nas vendas.
(Fonte da imagem: Divulgação/Samsung)
Como isso acontece?
A lógica é bastante simples de ser entendida, se você pensar do ponto de vista de uma operadora de telefonia. Em um ano, uma empresa fabricante de celulares é capaz de incluir em seus produtos diversas novidades. Inclusive, você já deve ter reparado que no lançamento de uma versão de um smartphone já se tem a ideia do que virá na próxima atualização.
Muitas vezes, essas atualizações poderiam estar já no aparelho atual, mas não estão justamente por conta de um pedido das operadoras para que a tecnologia seja colocada em segundo plano. Nas mãos dos consumidores, os aparelhos costumam ter um ciclo de vida de aproximadamente um ano.
(Fonte da imagem: Divulgação/Microsoft)
Um exemplo recente é o recurso Google Wallet, que a Gigante de Mountain View gostaria de incluir no Nexus 7. Ao apresentar a sua proposta para as operadoras, a Verizon “sugeriu” que a Google segurasse a novidade. O motivo? Precaver-se contra o crescimento do serviço, uma vez que ela trabalha em uma solução própria similar.
Em situações como essas, a empresa vive um dilema: abaixar a cabeça e segurar as novidades é a certeza de uma parceria de sucesso com as operadoras, com destaque para os seus produtos e maior probabilidade de obter ótimos números na venda de aparelhos. Por outro lado, bater de frente com a operadora pode significar a necessidade de lançar um produto mais caro no mercado, com poucos canais de distribuição e com volume de vendas incerto.
E se todos decidissem bater de frente com elas?
Um movimento nesse sentido está começando a acontecer. Entretanto, é difícil vender aos consumidores produtos que, cada vez mais, dependem de acesso à internet e de planos de dados, algo que somente as operadoras podem prover. Você compraria um smartphone moderno se não pudesse acessar a internet via 3G com ele? Provavelmente não.
(Fonte da imagem: Divulgação/Google)
Nesse quesito, a Apple parece um pouco mais adiantada na briga, mas nem por isso está menos dependente. O sucesso do iPhone fez com que as operadoras passassem a disputar o produto, colocando a empresa da Maçã em uma situação um pouco mais confortável na briga.
A Microsoft, com o tablet Surface, deve apresentar um produto que funciona apenas com Wi-Fi visando fugir dos “conselhos” das operadoras. Estratégia similar também será adotada pela Google com o seu Nexus 7. A ideia vai funcionar? Não sabemos. As duas empresas esperam que a popularização dos seus produtos faça com que as operadoras briguem pelo direito de vendê-los em suas lojas, e não o contrário.
Enquanto isso, o principal resultado dessa “retenção de desenvolvimento” é uma velocidade de inovação menor do que as grandes empresas poderiam oferecer ao consumidor. Infelizmente, ao menos por enquanto, o celular do futuro está nas mãos das operadoras norte-americanas e ele será não do seu jeito, mas sim como elas quiserem.
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