A situação da Juul, a startup de maior visibilidade no mercado de vapes e cigarros eletrônicos, piora a cada semana. Depois de topar desembolsar US$ 40 milhões em um acordo extrajudicial para evitar os tribunais no estado norte-americano da Carolina do Norte, a companhia agora foi alvo de uma nova denúncia.
Segundo o jornal The New York Times, a Juul pagou um total de US$ 51 mil (cerca de R$ 266 mil em conversão direta de moeda) ao periódico acadêmico American Journal of Health Behavior para controlar toda a edição de maio e junho de 2021 e permitir apenas a publicação de estudos favoráveis ao uso de seus produtos.
Ao todo, 11 artigos sobre os chamados Sistemas Eletrônicos de Administração de Nicotina (ENDS, na sigla original em inglês) foram publicados, sendo que US$ 6,5 mil adicionais foram pagos para que a revista científica fosse aberta para consulta e download dos estudos sem taxas aos leitores.
Por que isso é errado?
O grande problema da ação da Juul é que, no fundo, isso é uma ação de marketing e lobby pró-aprovação de seus produtos.
O dossiê "comprado" pela Juul até traz na introdução um aviso sobre conflito de interesses: Saul Shiffman, que consta como autor em quase todas as pesquisas, é "consultor em serviços de redução de danos do tabaco" da própria startup, enquanto outra pessoa creditada como pesquisadora, Erik Augustson, é funcionário contratado da marca.
Entretanto, o domínio de uma edição inteira por uma empresa que está em uma campanha para limpar a imagem e a partir de um modelo de "pagar para publicar" é uma movimentação bastante controversa. Segundo a reportagem, três membros do corpo editorial da revista pediram demissão em protesto.
Situação difícil
Atualmente, a Food and Drug Administration (FDA), que é uma espécie de equivalente da Anvisa nos EUA, está conduzindo testes para definir se os produtos da Juul podem ser vendidos normalmente nos Estados Unidos. A decisão será divulgada no máximo até setembro deste ano.
Os desafios que a marca encara não são relacionados apenas a possíveis danos à saúde dos usuários. Na verdade, as maiores críticas que levaram às ações judiciais recentes estão ligadas ao marketing e processo de vendas, pois os produtos foram comercializados para jovens e contém nicotina.
A Juul foi fundada em 2015, sendo uma das principais responsáveis pela popularização dos dispositivos alternativos de cigarros eletrônicos, tanto para ajudar pessoas a pararem de fumar quanto para servir como alternativa "mais saudável" a quem não tem esse hábito.
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