Quem não concorda que a internet é uma das invenções mais brilhantes da humanidade que atire a primeira pedra. Sem dúvida, a ideia de criar uma rede de computadores conectados entre si, vem transformando e redefinindo comportamentos ao longo de várias gerações. Um dos mais importantes cientistas sociais da atualidade, o espanhol Manuel Castells, afirma em seu livro “A Galáxia da Internet”, que o nascimento da web pode ser comparado ao surgimento da energia elétrica. Com esta afirmação, é possível dimensionar o grau de importância que este meio adquiriu e continua adquirindo em nossas vidas, afinal o céu não é o limite para a expansão da rede.
Quem está na faixa dos vinte anos ou mais, pode voltar no tempo e comparar o salto que a internet e todas as outras formas de tecnologia deram em um intervalo de tempo de aproximadamente dez anos. Quem não se lembra dos famosos disquetes, do barulhinho inconfundível da conexão discada, as pesquisas feitas na biblioteca do colégio ou quando ouvir música era só através dos “moderníssimos” CDs que passavam de mão em mão até todos terem gravados em uma fita K7 as suas músicas prediletas?
Bons tempos aqueles, podem afirmar ou mais saudosistas, mas o que vemos atualmente é uma reconfiguração de ações e comportamentos jamais vista e que a cada dia se dá de forma mais rápida e mais difícil de acompanhar. O fato é que no Brasil, a geração dos anos 80 – como a minha – ou anteriores, viveram os dois lados da moeda, ou seja, nasceram em mundo pouco interligado e carente de tecnologias globalizantes, mas cresceram junto com elas e, de certa forma, se adaptando ao mundo virtual, mas mantendo as raízes no mundo real.
Já as gerações do final dos anos 90 e início do ano 2000, nasceram imersas em um mundo altamente conectado e, por isso, nunca passaram pelos perrengues da vida sem internet. A galera que tem até 15 anos, nasceu quando a onda internet estava a todo vapor, sendo assim, pode-se afirmar que é mais difícil para eles diferenciar a barreira entre o real e virtual.
É claro que não vamos generalizar e afirmar que todos os jovens desta faixa são vidrados em tecnologia, mas se você perguntar para alguma criança, independentemente da sua idade, o que é um site ou celular, causará espanto se ela não tiver na ponta da língua uma resposta. É inegável que hoje somos a cada dia mais máquina e menos humanos, pois muitas vezes preferimos mandar um scrap para um amigo, o felicitando pelo seu aniversário, ao invés de irmos até sua casa e desejar-lhe parabéns.
Com tantas facilidades proporcionadas pelas novas tecnologias, é indiscutível o fato de nos sentirmos atraídas por elas. Foi assim com a eletricidade, com o automóvel, a geladeira, o fax, a máquina de escrever e, claro, não seria diferente com a internet. Mas, até que ponto estas facilidades são positivas? Até que ponto facilitar tanto nossa vida deixa de ser algo positivo e se volta contra nós?
De acordo com o Ibope/NetRatings, em 2008 éramos mais de 40 milhões de conectados no Brasil e destes, quase 35 milhões com internet residencial e mais de 20 milhões de usuários ativos. Com todos estes números, também temos a média mensal de navegação dos brasileiros, que em maio do ano passado espantosamente chegou a quase 24 horas por semana.
Com esta média, o Brasil fica na frente de países como Alemanha, Espanha, Itália e até Japão e Estados Unidos. O que estes dados podem traduzir: que o brasileiro está mais conectado, obviamente, que está usufruindo das vantagens da internet, mas por outro lado, está trocando a vida real pela virtual, pelo menos um dia inteiro por mês.
Como as tecnologias globalizantes tendem a encurtar distâncias, um fenômeno vem sendo percebido essencialmente por sociólogos e psicólogos: a mudança na formação dos relacionamentos pessoais. Uma das doenças que afligem muitos viciados em internet é o chamado Transtorno de ansiedade social, que se caracteriza pelo receio das interações sociais, como, por exemplo, ir à escola, sair na rua, falar em público ou paquerar.
A primeira vista, estes sintomas podem ser observados em pessoas muito tímidas, entretanto é muito além de timidez que o cerne do problema se deve pelo fato do medo que portadores deste transtorno possuem de receber avaliações, seja de juízos de comportamento, estético ou mesmo de falarem o que pensam.
A crescente detecção deste e demais transtornos em jovens com menos dos 18 anos, mostra que nossos adolescentes estão mais sujeitos a isso, porque a formação da personalidade de grupo se dá justamente nesta fase. Como os nossos jovens estão trocando as conversas pessoais por chats, redes de relacionamento, jogos online e a própria internet, há um vão no desenvolvimento deste fator relacional, o que reflete em adolescentes mais tímidos, com poucos amigos reais, mais consumistas e elevação do número de problemas psicológicos.
Uma prova desta nova configuração dos relacionamentos, principalmente entre os jovens, pode ser percebida em uma série norte americana chamada True Life e exibida no Brasil pela MTV. Em um dos episódios, é possível acompanhar o drama de três meninas norte- americanas que não conseguem ser
quem realmente são fora do mundo virtual.
Este episódio, chamado “Vivo outra vida na Web”, reflete que a compulsão pela realidade virtual, sem dúvida afeta nossa vida real.
Há quem diga que a internet está se tornando um vício, principalmente para os adolescentes. É fato que esta faixa é a que mais consome internet atualmente. Entretanto, há certo receio em afirmar que se conectar de mais seja considerado como tal. A chave para se saber se isso é real pode ser encontrada no ditado popular “tudo o que é de mais, faz mal”.
De acordo com a Wikipedia, vício deriva do latim “vitium”, que quer dizer “falha ou defeito”, sendo assim, um vício se caracteriza por um hábito cotidiano que acaba causando mal ao praticante do hábito ou as pessoas que o rodeiam. Desta forma, se alguém deixa de lado outras esferas da vida social ou acaba causando mal a si ou aos que convivem com ele, podemos afirmar que este é um viciado em internet.
Você pode estar se sentindo culpado com todos estes dados ou por não ter ido ao aniversário da sua mãe porque ficou festando no Second Life, ou batendo papo com aquele seu amigo pelo MSN. Calma! Isso pode ser um caso isolado de compulsão pelo mundo virtual, contudo, é importante que você pare e analise seu comportamento perante este mundo. De acordo com o Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso do Hospital das Clínicas de São Paulo, há oito características que definem os Heavy users (usuários pesados):
Pessoas com inteligência acima da média e com velocidade de raciocínio muito alta.
Preferem passar o dia todo conectados a realizar outras atividades.
Apresentam sintomas de depressão, ansiedade e outros distúrbios.
Preferem interagir virtualmente do que realmente.
Usam a internet com refúgio, pois apenas neste espaço conseguem expressar o que são ou pensam.
Possuem poucos amigos reais.
Desenvolve um comportamento único na rede.
Você apresentou algum destes sintomas? Então, vale a pena conhecer seu nível de dependência pela internet realizando um teste desenvolvido pelo A.I.T.I. do HC de São Paulo.
Este é um tema muito polêmico e delicado, afinal estamos tratando de pessoas, seus comportamentos e preferências particulares. Porém, é dever do Baixaki sinalizar este tipo de problema, afinal queremos sempre que você acesse o site para tirar suas dúvidas, se informar e aprender sempre um pouquinho mais sobre tecnologia. Não é nossa intenção transformá-lo em um Baixakimaníco, pois para tudo há sua hora. Desfrute da sua vida e compartilhe seus momentos com as pessoas, já que não há nada melhor do que uma boa conversa, um abraço apertado ou curtir a vida (REAL).
Agora usuário, sinta-se à vontade para expressar sua opinião a respeito deste assunto, afinal o Baixaki quer saber sua posição, para que sempre sejamos bons amigos, pela internet ou não!
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