A Terra passou por transformações durante bilhões de anos até se tornar um ambiente propício à vida como conhecemos. Um exemplo disso é o movimento e os outros processos que envolvem o núcleo do planeta; uma característica que influencia na posição dos continentes. Essa movimentação nunca cessou, mas algumas evidências sugerem que o núcleo da Terra também pode estar mudando de forma.
De acordo com um estudo publicado na revista científica Nature Geoscience, uma equipe de cientistas da USC Dornsife na Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, coletou dados que indicam mudanças em uma área próxima ao núcleo interno da Terra. Inclusive, essas mudanças não são uma surpresa total para a comunidade científica, pois o tema já vem sendo debatido por especialistas há bastante tempo.
Centenas de estudos buscam compreender melhor os processos internos da Terra, e a recente pesquisa seguiu o mesmo caminho. Inicialmente, os pesquisadores tinham como objetivo mapear a desaceleração do núcleo interno. Contudo, o estudo revelou algo inesperado: os dados indicaram que está acontecendo uma mudança estrutural em uma área próxima ao núcleo interno do planeta.
Apesar de a ciência ter avançado consideravelmente no entendimento dos processos da Terra, o núcleo interno ainda apresenta muitos mistérios, especialmente sobre sua dinâmica. Os cientistas já criaram algumas hipóteses sobre a evolução dessa região, mas ainda não sabem exatamente como esse processo ocorreu ao longo do tempo. Por isso, o novo estudo pode contribuir para uma melhor compreensão da estrutura interna do planeta.
Como ainda não existe tecnologia capaz de perfurar até o núcleo da Terra, os cientistas utilizam dados sísmicos para estudar seu interior. Mas como isso acontece?
Os terremotos geram vibrações que se propagam por todo o planeta e interagem com diferentes camadas internas. Ao analisar como essas ondas sísmicas se comportam, os pesquisadores conseguem modelar a estrutura da Terra e mapear suas profundezas.
"O que acabamos descobrindo é a evidência de que a superfície próxima do núcleo interno da Terra passa por uma mudança estrutural... Enquanto eu estava analisando várias décadas de sismogramas, um conjunto de dados de ondas sísmicas curiosamente se destacou do resto. Mais tarde, percebi que estava olhando para evidências de que o núcleo interno não é sólido", disse o principal autor do estudo e professor da USC Dornsife, John Vidale, em comunicado oficial.
O que é o núcleo interno?
A Terra é composta por quatro camadas principais: crosta, manto, núcleo externo e núcleo interno. Durante sua formação, há cerca de 4,6 bilhões de anos, o planeta passou por um processo de diferenciação planetária, em que os materiais mais densos, como ferro e níquel, afundaram para formar o núcleo, enquanto os mais leves, como silicatos, subiram para compor a crosta e o manto.
O núcleo interno é a camada mais profunda da Terra, com temperaturas superiores a 4 mil graus Celsius e a uma pressão extrema. Apesar dessas condições extremas, ele permanece sólido. Composto principalmente por ferro e níquel, essa região é fundamental para a estabilidade do planeta.
A interação entre o núcleo interno e externo desempenha um papel fundamental na geodinâmica terrestre, pois influencia o campo magnético da Terra. Como isso acontece? O movimento do núcleo externo gera correntes elétricas, responsáveis por alimentar o geodínamo, mecanismo essencial para a manutenção do campo magnético do planeta.
“O núcleo interno da Terra é como um planeta dentro de outro planeta: uma esfera quente, composta por cem quintilhões de toneladas de ferro e níquel, localizada a cerca de 5.150 quilômetros abaixo de nossos pés, ainda aguardando ser plenamente explorada. A sismologia global moderna funciona como um telescópio invertido, permitindo investigar essa camada mais profunda da Terra”, é descrito em uma publicação da Universidade Nacional da Austrália.
Mudança na forma do núcleo interno
Para desenvolver o modelo do novo estudo, os pesquisadores analisaram ondas sísmicas geradas por terremotos e refletidas nas camadas mais profundas da Terra. Ao todo, foram utilizados dados de 121 terremotos em 42 locais próximos das Ilhas Sandwich do Sul, na Antártida, que ocorreram entre os anos de 1991 e 2024.
Esses dados permitiram uma investigação mais detalhada do núcleo interno que, até então, era considerado uma esfera de ferro sólida. Porém, o estudo sugere que sua estrutura pode não ser totalmente sólida.
Os resultados mostram diferenças nas ondas sísmicas ao atingirem o limite entre os núcleos interno e externo, sugerindo possíveis variações na forma do núcleo interno. Os dados apontam que sua superfície pode apresentar uma propriedade viscosa, o que influenciaria sua estrutura e deslocamento.

Além da mudança do formato, eles também perceberam uma mudança na taxa de rotação do núcleo interno. Os pesquisadores ainda não sabem exatamente a origem dessas variações, mas teorizam que podem ser pequenas depressões e elevações na região.
"É difícil ter certeza, mas possivelmente seriam pequenas depressões e elevações no limite do núcleo interno em resposta ao núcleo externo fluindo vigorosamente. É possível que as mudanças estejam inteiramente dentro do núcleo interno, mas isso é menos provável. O que guia nosso palpite é que o núcleo interno está bem no seu ponto de fusão em sua superfície e, portanto, pode ser bem macio", disse Vidale em uma mensagem ao site Science Alert.
Essa mudança provavelmente ocorre devido à interação entre os núcleos, onde o externo influencia a região interna. Os cientistas ainda precisam analisar esses dados com mais profundidade, mas acreditam que os resultados podem contribuir para uma compreensão mais ampla de processos relacionados, como do campo magnético da Terra.
Os processos internos da Terra estão longe de ser totalmente compreendidos, mas estudos recentes apontam que o núcleo terrestre pode estar passando por transformações que impactam o tempo no planeta. Quer saber mais? Entenda como mudanças no núcleo da Terra podem estar aumentando a duração dos dias. Até a próxima!
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