Um dos aspectos mais desconcertantes do SARS-CoV-2 é seu histórico clínico: há casos de idosos que sobreviveram e o jovens saudáveis que sucumbiram à covid-19 em questão de dias. A razão pode estar em variantes de genes.
Em estudos com o interferon (um mensageiro molecular que estimula as defesas imunológicas), cientistas estão descobrindo que mutações genéticas raras podem impossibilitar a produção da substância, fazendo com que a resposta imunológica à covid-19 seja ineficaz.
(A revista Nature publicou, nesta segunda, o artigo "A deficiência de interferon pode levar à covid grave", assinada por dois imunologistas da Universidade de Yale).
Produção de interferon pode determinar a gravidade da covid-19.Fonte: Britannica/Reprodução
“Pessoas que produzem mais interferon, quando infectadas, responderiam melhor à doença”, disse o infectologista da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres Martin Hibberd ao jornal The Guardian.
Outros genes também estão sendo rastreados: doenças autoimunes desencadeadas por variantes do gene TYK2, como a artrite reumatoide, são tratadas com um medicamento chamado baricitinibe, que tem um denominador genético comum com a covid-19. A descoberta levou à inclusão da droga nos testes clínicos contra o coronavírus. (No mês passado, o laboratório americano Eli Lilly anunciou que o uso do baricitinibe se mostrou benéfico na recuperação de pacientes com covid-19).
Genes podem guiar tratamentos
“Ao compreender o impacto das variantes do gene no corpo, podemos encontrar drogas para bloquear sua ação”, disse o geneticista Jeffrey Barrett, do Programa de Vigilância Genômica Covid-19 do Instituto Wellcome Sanger.
Os cientistas têm identificado o papel de outros genes na infecção pelo novo coronavírus. Na Universidade de Edimburgo, pesquisadores liderados pelo clínico e geneticista Kenneth Baillie descobriram genes acionados pelo interferon que codificam proteínas envolvidas na quebra do RNA viral, processo pelo qual o SARS-CoV-2 se reproduz.
O autor pede cautela em relação à pesquisa enviada à revista Science: segundo o The Guardian, Baillie espera ver a aceleração do desenvolvimento de tratamentos por conta dos resultados de sua pesquisa. “A epidemia está progredindo a um ritmo tão alarmante que a economia de meses de trabalho pode resultar em muitas vidas salvas”.
Fatores de risco
Cientistas do Imperial College London, liderados pelo médico e pesquisador Dipender Gill, procuraram por variantes genéticas que aumentassem o risco dos indivíduos de adquirir a doença. “Observamos cinco fatores associadas ao aumento do risco de contrair a forma grave de covid-19: obesidade, pressão alta, colesterol ruim, tabagismo e diabetes", diz ele.
Cinco fatores podem ser responsáveis pela gravidade e letalidade da doença.Fonte: Getty Images/Angela Weiss/Reprodução
Na análise de dados de milhares de pacientes, foi determinado se a reversão dos cinco fatores de risco também reduziria o risco de a covid-19 se manifestar na forma mais grave.
“Há relação causal entre obesidade e tabagismo e o risco de ter uma severa reação ao covid-19. Perder peso e parar de fumar impactaria diretamente as chances de um indivíduo sobreviver à covid-19.”
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