Meteoroides, segundo a Wikipédia, são fragmentos de materiais que vagueiam pelo Espaço e têm tamanho que varia entre menor que um asteroide e maior que poeira estelar. Essa insignificância, porém, é revertida à luz da hipótese de esses corpos terem sido responsáveis por levar moléculas de fosfina para a atmosfera de Vênus. As nuvens sulfúricas de Vênus aparecem coloridas artificialmente em azul na imagem capturada pela sonda Galileo em fevereiro de 1990. (NASA/JPL/Divulgação)
A fosfina, molécula composta por um átomo de fósforo e três de hidrogênio, é encontrada em micróbios que vivem no interior de animais. Na semana passada, ela foi achada nas camadas superiores do planeta vizinho, onde a temperatura e a pressão são semelhantes às do nível do mar na Terra.
A hipótese nasceu de uma lembrança de dois pesquisadores da Universidade Harvard, o renomado astrofísico Abraham (Avi) Loeb, que chefia o departamento da instituição, e seu aluno da graduação Amir Siraj. A memória é do meteoroide de aproximadamente 60 quilos que, em julho de 2017, cruzou os céus australianos, voando pela atmosfera superior da Terra e assustando meio país para, em seguida, rumar novamente para o Espaço profundo.
Entregadores de vida
Em abril, Loeb e Siraj publicaram um artigo em que argumentavam ser possível que esses meteoroides (que, vez ou outra, cruzam as partes altas na nossa atmosfera) se comportassem como agentes panspérmicos, sendo a panspermia a hipótese de que a vida pula de um mundo para o outro, levada por corpos celestes como meteoroides, meteoros e cometas, por todo o Universo — Loeb é um grande fã dessa ideia.
"O número total de objetos [potencialmente portadores de vida] capturados por sistemas exoplanetários ao longo da vida do sistema solar é de 100 milhões a 10 bilhões. Cada um deles tem a possibilidade de carregar, em sua passagem pela atmosfera da Terra, de 10 a 1 mil micróbios vivos", escreveram Siraj e Loeb no estudo publicado na revista científica Life em abril deste ano.
Segundo Siraj e Loeb, o meteoroide de julho de 2017 levou, depois de sua passagem pela atmosfera terrestre, algo em torno de 10 mil colônias microbianas para acompanhá-lo em sua viagem pelo Espaço.
Segunda gênese
Quando pesquisadores da Universidade de Cardiff anunciaram a descoberta de fosfina em Vênus, os dois cientistas de Harvard calcularam as chances de um meteoroide levar micróbios da Terra para o planeta ao lado.
Segundo os resultados, nos últimos 3,7 bilhões de anos, cerca de 600 mil meteoroides resvalaram nas camadas mais altas da atmosfera terrestre, rumando depois para o Espaço profundo, por onde vagaram por 100 mil anos até cruzarem com a órbita de um planeta e caírem nele — no caso de Vênus, não sem antes contaminarem as nuvens de ácido sulfúrico da atmosfera, onde colônias de micróbios devem viver e expelir fosfina.
"Esse mecanismo potencialmente viável para a transferência de vida entre os dois planetas implica que, se a vida venusiana existe, sua origem pode ser fundamentalmente indistinguível da vida da Terra; uma segunda gênese pode ser impossível de provar", escreveram Siraj e Loeb no novo estudo enviado ao The Astrophysical Journal Letters e que está à espera de publicação.
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